Rio Branco pode ter mais um nome de peso como candidato a prefeito em 2024

Reeleito para seu segundo mandato de deputado estadual, Fagner Calegário (Podemos) chega fortalecido na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) após uma eleição que renovou em 50% a Casa.

Defensor dos trabalhadores terceirizados no estado, Calegário concedeu entrevista ao ContilNet, onde destacou avanços no primeiro mandato e objetivos para o novo.

Fagner Calegário. Foto: ContilNet

Ele teve o dobro dos votos que teve em 2018 e foi o terceiro deputado mais votado em Rio Branco. A performance tem feito o deputado pensar adiante e pode ser que seu nome seja lançado para prefeito da Capital.

“A Prefeitura de Rio Branco, ela é um sonho, e esse sonho e ele precisa ser sonhado”, revelou.

Confira a entrevista na íntegra:

O Podemos conseguiu reeleger dois deputados. Você teve mais de 7.000 votos, sendo o décimo mais votado entre os 24, e o terceiro mais votado na capital. A que você atribui esse resultado?

É fruto de trabalho, fruto de não parar de andar, é o fruto do que eu sempre falo, que a nossa política é a política do relacionamento. A gente tenta o máximo possível ter esse contato com as pessoas, quem trabalha comigo sabe que quando a gente começa a andar, tem hora que a gente cansa. Eu acredito de verdade que a fórmula do sucesso foi não perder o contato com as pessoas. Eu tenho hoje na memória a dificuldade. Eu tive que trocar de telefone porque eu tava sem vida, troquei o cinema pra tá no escritório. Acho que a nossa fórmula do sucesso foi não perder o contato com as pessoas, sobretudo os terceirizados, que são a nossa base. Foi por eles que tudo isso começou e é por eles que a gente quer que tudo isso continue. A gente tinha em 2018 o compromisso de buscar o auxílio alimentação, em 2019 a gente conseguiu e agora o nosso compromisso é conseguir o auxílio saúde para essa categoria.

Os terceirizados trabalham tanto quanto um servidor público, né?

Eu sempre digo que na maioria das vezes eles são os primeiros a chegarem e eles não têm esse reconhecimento que tem hoje um servidor. Então, o mínimo que a gente pode fazer é reconhecer o esforço, o trabalho deles, que hoje estão tentando buscar o auxílio saúde. Na escola, por exemplo, antes de chegar na sala de aula, e encontrar o professor, encontra a tia da limpeza que já passou lá e preparou tudo para ele. E quando tá todo mundo dentro da sala de aula, o tio da portaria tá lá cuidando da portaria da escola que é para não ter problema.

No nosso primeiro mandato, eu acho que a primeira conquista mesmo foi conseguir o auxílio alimentação. Hoje, quase todos os contratos já têm essa previsão, com exceção da Secretaria de Educação, mas todos os outros contratos já tem essa previsão. Então, hoje, quando o trabalhador reclama que ele não tem o auxílio alimentação, você pode reparar que possivelmente ele é um colaborador da educação. Tivemos também a conquista do Dia do Trabalhador terceirizado e agora, o planejamento é para que pela primeira vez na história do Acre, a gente tenha o auxílio saúde para o trabalhador. Para buscar tudo isso que a gente estava conversando, tem que reconhecer. Eu sempre digo que quando o colaborador tá feliz, ele produz, vai com vontade para o trabalho, então, não adianta a gente falar assim e quando a gente olha para os outros colegas terceirizados, estão com salário atrasado. Hoje tem servidor recebendo e tem servidor que tá com dois meses atrasados. Você acha que essa pessoa vai como para o trabalho? Ela vai porque ela tem que ir, porque ela sabe que ela precisa, ninguém trabalha por esporte, ninguém sai de casa porque está sem fazer nada e decide acordar quatro horas, cinco horas da manhã, que é o horário que esses trabalhadores acordam, e eles vão trabalhar por necessidade. Então, isso é uma forma da gente reconhecer todo esse esforço, tudo que eles fazem por nós.

Recentemente você esteve no Congresso da Unale, lá em Recife, e foi nomeado como membro do conselho fiscal. Eu queria saber como isso beneficia o Acre, porque quando a gente fala sobre esse congresso, se ouve muita crítica, né? Falam na caravana da alegria, que estão viajando para fazer nada, fala um pouquinho como funciona. Qual é o benefício que traz para o Acre?

É a segunda vez que eu tenho a oportunidade de participar da Unale e a primeira vez agora que eu participo como membro do conselho fiscal. Se as pessoas conseguissem entender a dimensão dela, é o momento de interação entre todos os parlamentares estaduais do nosso país. Por exemplo, o que eu mais achei legal é esse banco de dados, da lei que tá saindo lá no Rio Grande do Sul, que a gente ainda não tem no Acre. Será que ela dá para se aproveitar aqui? Mas não é só isso. Há também as câmaras de discussão,  sobretudo na questão tributária, quando a tributação do Acre é diferente da tributação do Rio Grande do Sul, que é diferente da tributação lá do Distrito Federal. Então essas câmaras temáticas, elas servem para isso, e o parlamentar estadual, ele tá aqui para poder auxiliar o Governo do Estado. Então, quando a gente tem a oportunidade de participar e de discutir com várias cabeças, e vamos falar, tem gente lá que tem 15, 20 anos, 25 anos de mandato, então, o cara tem conhecimento. É a oportunidade que a gente tem de aprender também. Por exemplo, agora vai sair uma comissão de análise para participar de um evento na Holanda, onde vamos tratar sobre a bacia leiteira. Então, tem importância sim. Agora, além de cuidar aqui do nosso estado, eu tenho a responsabilidade de cuidar da aprovação de contas dos colegas que hoje vivem nessas atividades, e não é remunerado. Para as pessoas que pensam que a gente ganha alguma coisa, é só a oportunidade de aprender um pouco mais. Eu sempre falo isso, quando eu me dispus a participar, é porque eu tenho uma oportunidade de aprender.

A Mesa Diretora está em discussão na Aleac? Como estão as conversas?

Essa discussão da Mesa é só lá para fevereiro. Até lá a gente sabe que a política muda como as nuvens, aquilo que é hoje pode não ser mais amanhã, pode ser desfeito. Eu tenho conversado com todo mundo, tenho conversado com todos os colegas junto com meu colega de partido, a gente tem um pacto de votar junto, ou seja, o partido vai votar fechado, esperando para ver qual que vai ser a melhor proposta para o parlamento. No meu primeiro ano de mandato, eu encabecei o movimento que era pela independência dos poderes. Fui muito crítico ao fato do Nicolau ser presidente, pelo vínculo que tinha com o governador. Acaba que a gente cria um vínculo e uma amizade, mas o que eu posso adiantar é que eu não acredito que vai ser uma eleição fácil, mas eu também nunca vi o governo perder uma eleição da mesa diretora, mas sempre tem uma primeira vez, né?

Então, o Podemos quer compor a Mesa?

O Podemos tem a intenção de compor a mesa. O Podemos com certeza vai compor a mesa, isso aí eu posso te garantir, somos dois deputados. Agora, o local da mesa, eu tenho que ser franco, não dá para a gente discutir isso com PDT que tem quatro, mas também não dá para deixar para o PSDB, que só tem um e quer ser presidente. E aí, como fica isso? Mas a gente está pronto para conversar, para ouvir. E é como eu já falei, o Podemos tem um pacto, eu e o deputado André, de votar junto, então, são dois votos, vai ser casado.

O Podemos compõe a base do Gladson desde a primeira legislatura, mas muitas vezes você votava ali mais de forma independente, inclusive isso teve ônus. Se hoje você não tem cargo no governo, foi a partir daquela decisão de votar favorável ao reajuste de 10% aos servidores, quando o Gladson propôs 5%. Ali, a conta veio rápida, inclusive, né? Seus cargos no governo foram todos exonerados. Agora, quero saber o que a gente pode esperar desse novo mandato?

Quem é base do Governo é o Podemos. Todo e qualquer acordo que foi feito, foi feito com o cabeça do Podemos e os deputados comeram migalhas. Naquele momento nós tínhamos quatro deputados. Eu era o líder do partido, eram quatro votos. O que eu via era muita reclamação dos parlamentares. Os acordos foram feitos com os cabeças e deixaram de olhar para quem coloca o dedinho na hora de votar. Não tô falando que era isso que eu queria, o que eu tô dizendo aqui é que, independente de qualquer coisa, eu sempre me posicionei. Inclusive, eu disse para o partido que não precisava se preocupar comigo, os cargos poderiam ser tratados com os outros colegas, mas eu gostaria de sempre ter a liberdade para poder trabalhar dentro da linha de raciocínio que eu achasse correto.

E o que você achou dessa questão da votação do reajuste?

Que coisa feia, né? Dez horas da noite e exoneraram toda a minha equipe no Governo: quatro pessoas. Quatro pais e mães de família. E assim eram milhares de servidores públicos, então, ficou muito feio isso. Eram apenas quatro pessoas que pagaram com o seu sustento, que, claro, foram para dentro da minha equipe, eu tive que dar um jeito de segurar. Eu segurei.

Mas ficou muito feio, quer dizer que é ferro e fogo?! A gente tem colega que votou contra a sua categoria, que não foi reeleito. Então, eu acredito que, a chave virou nesse dia, quando acabou essa votação já era mais de 2 horas da manhã, e eu saí pela porta da frente, cumprimentando as pessoas e falei: “Fizemos um bom combate”. A gente lutou até onde podia, mas tem coisa que não dá. Infelizmente, é uma casa de maioria. A maioria votou. Mas eu posso reafirmar uma única coisa, tô disposto a fazer tudo de novo. Se for para defender aquilo que eu acredito, se for para defender o servidor público, se for para defender o terceirizado, se for para defender o pai e a mãe de família que trabalha. Chega no final do mês, quando vai no mercado, a gente tá vendo o valor das coisas. A gente tá vendo como tá tudo, e na hora de dar um aumento, quer dizer, a inflação foi de dois dígitos, mas o aumento não, ele é só um dígito. Então, em resumo, eu faria tudo de novo.

Agora, deputado, como você vê esse momento em que as eleições já foram resolvidas nas urnas, mas temos a situação das paralisações por parte de um eleitorado que não aceita a derrota do Bolsonaro. A gente tem até deputados eleitos aqui no Acre colocando em jogo a democracia, porque se você duvida da urna eletrônica, você já fica colocando em jogo a democracia. Como você vê esse momento que a gente tá vivendo com essas paralisações e manifestações?

Eu vou colocar aqui um sentimento. Quer dizer que uma urna que elegeu o Tarcísio em São Paulo, que é Bolsonaro em São Paulo, ela não foi fraudada e a urna que elegeu o Lula, tá fraudada?

Assim, isso para mim são tentativas de causar descrédito do nosso sistema eleitoral e, infelizmente, esse discurso consegue cada vez mais segregar, bota uma turma para o lado de lá e uma turma para o lado de cá. O direito de manifestação, ele é constitucional, agora restringir o direito de ir e vir não é, então, para mim não passa de tentativa, que será frustrada. Essa criminalização da política não é saudável, ela não faz bem, não é bom para a democracia. Eu acredito no resultado das urnas. A manifestação é livre, o choro é livre.

Agora eu quero saber como estão os seus planos para 2024.

Olha, não dá para deixar de levar em consideração que fomos o terceiro mais votado da capital. Hoje nós temos um grupo político que se consolidou, saímos de 3.700 votos para agora 7.112 votos. Sem nenhuma falsa modéstia, é muito trabalho da nossa turma.

E eu acho que a Prefeitura de Rio Branco, ela é um sonho, e esse sonho ele precisa ser sonhado. Não tô colocando aqui que vamos ser candidato, mas eu acho que chegou o momento de sentar na mesa e colocarmos o nosso posicionamento.

E eu tô pronto para fazer isso, eu acho que a gente precisa pensar uma Rio Branco de mais oportunidade, nós precisamos. Olha, nós estamos perdendo o nosso principal ativo, que são os jovens que têm ido embora simplesmente por falta de oportunidade, as pessoas estão indo embora do nosso estado, sobretudo da nossa capital, porque não conseguem trabalho e não dá para fazer de conta que não tá acontecendo nada, a gente precisa repensar políticas públicas para geração de emprego. Então, quando eu falo de emprego eu tô falando de oportunidade, não dá para falar para o pai e mãe de família que a criança de manhã sai para escola sem tomar café da manhã, não dá para falar de educação para essa família. Não dá para falar sobre saúde pública com essa família, que quando alguém fica doente dentro de casa, não tem dinheiro sequer para comprar uma dipirona. E segurança pública, a gente já viu, conforme aumentou o índice de desemprego, aumenta também a criminalidade. Nós não podemos fazer de conta que não tá acontecendo nada. Então, assim, eu tenho buscado estudar, tô me preparando, se for da vontade do nosso homem lá de cima, a gente vai estar pronto para sentar na mesa e fazer as conversas, e quem sabe um dia sonhar com uma Rio Branco melhor, como aconteceu em algum momento.

Então é uma possibilidade real de você ser candidato a prefeito de Rio Branco em 2024?

Olha, o que eu posso dizer é que o partido tem interesse em ter um candidato majoritário. Agora como vai ficar esse arranjo, eu não posso afirmar, mas eu estou pronto. Se o partido realmente quiser encabeçar esse projeto, eu tô pronto para encabeçar esse trabalho.

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