Os misteriosos geoglifos, grandes estruturas geométricas feitas na terra com formato de círculos, quadrados, retângulos, círculos concêntricos ou, ainda, círculos circunscritos no interior de grandes quadrados, com 50 a 350 metros de diâmetro, encontrados na Amazônia, principalmente na região Sul, onde se localiza o Acre, serão objetos de um Simpósio Internacional da Arqueologia da Amazônia Ocidental. O evento será realizado em Rio Branco nos dias 10 e 11 de novembro, no Cine Teatro Recreio, com a participação de várias instituições de pesquisas e de órgãos como o governo do Estado e a Federação do Comércio do Acre.
Durante o simpósio será lançado o livro “Os Geoglifos e a Civilização Aquiry”, de autoria dos pesquisadores Alceu Ranzi e Martti Pärssinen. À Alceu Ranzi, geógrafo e paleontólogo, que lecionou por mais de trinta anos na Universidade Federal do Acre (Ufac) e hoje vive em Santa Catarina como aposentado, é atribuída as primeiras descobertas sobre os geoglifos em terras acreanas. Já Pärssinen é Doutorado em Anthropologia pela University of Rochester.
Nas palestras que vai fazer durante simpósio, Ranzi deverá falar quando e como se deram suas descobertas no Acre. O pesquisador revela que elas se deram meio que por acaso. Durante um voo de avião sobre a zona rural de Rio Branco e municípios vizinhos, o pesquisador viu os sulcos no chão. Eram os anos de início da década de 1980. Em seguida, Ranzi contratou o repórter-fotográfico Édson Caetano, paranaense de Terra Roxa que viveu durante décadas no Acre e hoje vive de novo na terra natal, para pegarem um avião e, enfim, documentarem em fotografias o que estava sendo descoberto. A surpresa do pesquisador é que as escavações no solo, só possível de serem descobertas com a derrubada da cobertura vegetal para a criação de pasto para gado, eram em grandes quantidades, revelando que esta região da Amazônia fora habitada por muitos seres humanos, a coisa de pelo menos mil anos atrás. As descobertas de Ranzi puseram fim então aos conceitos científicos de que a Amazônia, antes da ocupação por seus povos originais, era uma região inóspita, de difícil ou quase impossível acesso.
Antes das descobertas do pesquisador se ouvia muito falar em geoglifos, mas com localização apenas no Peru, com as famosas linhas de Nazca, com figuras geométricas feitas no chão e presente no deserto Sechura, no sul do país andino. Com as descobertas em solo peruano e em seguida no Acre, o aumento das pesquisas vêm revelando achados idênticos em várias outras partes do mundo.
No caso dos símbolos em peruano, as pesquisas revelam que elas foram criados pela cultura Nazca entre os anos 500 a.C. e 500 d.C. Os primeiros a relatá-los, no século 20, foram pilotos civis e militares peruanos. A curiosidade sobre esses geoglifos, que formam várias figuras, é que seus desenhos só podem ser vistos de cima. No entanto, nas datas que em foram feitos, não existia nenhum tipo de aeronave.
A maioria dos arqueólogos defende a tese de que os geoglifos foram feitos pelo povo Nazca, para os deuses vindos do céu, como a lenda diz, passada de geração em geração.
Os achados de Ranzi mostraram que o Brasil também tem seus geoglifos. Eles foram encontrados na região sudoeste da Amazônia Ocidental, mais predominantemente na porção leste do estado do Acre, estando localizados em áreas de interflúvios, nascentes de igarapés e várzeas, associados em sua maioria aos rios Acre e Iquiri. No Acre, foram identificados mais de 300 sítios arqueológicos do tipo geoglifo, que são compostos por 410 estruturas de terra, números que vem aumentando, devido ao desenvolvimento de pesquisas arqueológicas no Estado.
As pesquisas arqueológicas nessas áreas revelam informações importantes sobre o manejo da paisagem amazônica por grupos indígenas que habitaram a região entre, aproximadamente, 200 a.C. a 1.300 d.C., e sugerem um novo paradigma sobre o modelo de ocupação da Amazônia por densas sociedades pré-coloniais.
O estudo dessas estruturas de terra, cada vez mais, confirma que o processo de ocupação e povoamento da região amazônica, no primeiro milênio da era cristã, foi empreendido por grupos indígenas numerosos e com grande capacidade tecnológica para modificar o ambiente de terra firme e de várzea, imprimindo na paisagem características de sua identidade.
A descoberta desses geoglifos mudou totalmente a visão da arqueologia sobre os indígenas brasileiros. Antes, achavam que eram primitivos, longe de qualquer tecnologia. Mas os indícios mostram exatamente o contrário. Grandes estruturas foram localizadas por radares de alta tecnologia no meio da floresta brasileira, mostrando que os povos que lá habitaram tinham inteligência e tecnologia para realizar grandes projetos há mais de mil anos.
Tais revelações deverão vir à tona com mais detalhes durante o Simpósio em Rio Branco. O pesquisador defende mais estudos sobre os geogligos. Veja seguir a programação do evento: