A primeira manifestação dos humanos no início da comunicação não é a fala e tampouco a escrita. É pelo desenho. As gravuras fazem parte do alfabeto de crianças, sejam em momentos lúdicos ou de tristezas. Não é à toa, por exemplo, que profissionais de saúde que estudam o comportamento humano, sempre analisam os desenhos e os cadernos de crianças na mais tenra idade. Nessa análise não é raro a descoberta a de desenhos que indicam abusos e maus tratos.
Essa comunicação, lúdica ou desesperada, não é de hoje. A história humana mostra que, desde que se deu conta de sua existência sobre a Terra, o homem tenta se comunicar através de desenhos Do Egito Antigo à Serra da Capivara, no Brasil, além de outras regiões como o Vale do Catimbau, Parque Nacional de Sete Cidades, Cavernas do Peruaçu e Parque do Jaú, está tudo cheio de desenhos como símbolos sagrados ou apenas gravuras como a registrar a passagem humana por ali. A arte rupestre no Brasil, como forma de mensagens ao futuro, data de mais e 30 mil anos.
Não por acaso um dos desenhistas que fez história no Acre na época do já saudoso jornalismo impresso é o nordestino Francisco Braga, de 59 anos, nascido no Ceará e que morou por aqui até há dez ou doze atrás, o qual, hoje, mora no Rio e Janeiro e, na entrevista a seguir, lembra o passado de chargista na imprensa local e de como começou a se comunicar através dos desenhos.
Veja a seguir, os principais trechos da entrevista:
Quando você começou a desenhar? Quando percebeu que poderia viver de desenhar?
Francisco Braga – Desenho desde os sete anos. Se bem me lembro. Mas, isso é natural de todo ser humano. A primeira forma comunicação é o choro, o desenho vem quando se aprende a manusear o carvão, a tinta; depois vem a fala e muito depois a música. A verdade é que a história da humanidade só é entendida através dos artistas que desenharam nas cavernas. As pessoas que não sabiam caçar ou lutar, ficavam em casa, protegidos pelas mulheres. Mães e irmãs. Sob essa proteção aprenderam a cozinhar o barro, acender fogo, fazer tinta, cantar. Eram elas que alegravam os guerreiros que chagavam com a comida. O DNA dessa gente é o mesmo de Shakespeare, Fernanda Montegro, Leonardo da Vinci, Albert Einstein, Agatha Christie. Esse é o nosso DNA.
Como você veio para no Acre e quando chegou por aqui?
Francisco Braga – Cheguei na capital do Acre em 1993. Tempos de Itamar Franco na presidência do país e Romildo Magalhães no governo do Acre. Entre idas e voltas, podemos somar uns 25 anos de existência acreana. O Acre me deu bons amigos, minha carreira de chargista, meu registro de jornalista, meu primeiro livro publicado, com a qualidade magnífica do parceiro Dinho Gonçalves e o mais importante de minha vida, meu filho Pedro Otávio com a linda Socorro Paiva. Essa terra maravilhosa me deu bons momentos inesquecíveis!
E por que você foi embora do Acre?
Francisco Braga – O grande escriba Jose Chalub Leite me disse assim, uma vez: Ninguém vem ao Acre impunemente! E eu respondi: e nem vai! Fui embora por circunstâncias impostas. Partimos de Rio Branco, para São Paulo, Soraya (sua então mulher, já falecida) em 2007. Fomos para o Rio. Ali vivemos por um ano. Voltei ao Acre no ano de 2019, mas só para lançar um livro.
Você nasceu onde?
Francisco Braga – Sou nascido em Fortaleza, capital do Ceará. Morei em Bom Jesus do Gurgeia, Piauí, em 1992. No ano seguinte é que fui para Rio Branco, Acre, terra linda de meus melhores amigos, de amor e paixão. Onde me tornei chargista.
Você acha possível fazer política e outros manifestos a partir da charge?
Francisco Braga – Não é só possível como é necessário. A ditadura militar no país foi um bom exemplo. Os generais foram duramente combatidos com o regime deles a partir de desenhos do Henfil, por exemplo.
Você se inspira para fazer a charge no Henfil?
Francisco Braga – Henfil, Maurício de Sousa, Don Martin, Aragonés, Disney, Quino, Angeli.
Você teve algumas charges bem polêmicas enquanto trabalho no Acre. Lembra quais?
Francisco Braga – Lembro perfeitamente de uma em que sacaneava a então deputada estadual Naluh Gouveiaa, que apresentou um projeto de lei polêmico propondo licença do trabalho às mulheres por causa da TPM. A principio, ela ficou chateada, mas depois nos encontramos, nos abraçamos e rimos muito. A Naluh é uma pessoa super do bem.
Mas você foi premiado como chargista não foi?
Francisco Braga – Sim, por cinco vezes ganhei o prêmio José Chalub Leite como a charge do ano, todas no jornal Página 20. Fiquei feliz em ganhar esses prêmios porque no Acre temos excelentes chargistas como o Dim Mendes, o Maxtane Dias, o Gean Cabral, o Ernilson Amorim e eu, algumas vezes, bati essas feras, gente que me ensinou muito também. Morro de saudades do Acre.