A política sempre foi motivo para controvérsia na carreira do Rei do Futebol. Criticado por alguns por ter feito pouco para enfrentar o regime militar ou denunciar o racismo, Pelé se esquivou em diversos momentos de se aprofundar no tema.
“Em lugares que eu passo ou chego, em aeroporto, restaurante, quando a gente vai almoçar, é uma coisa engraçada, porque os caras misturam as coisas, vêm me cobrando. Vem cá, eu era jogador de futebol, gostava de jogar, gostava muito, mas eu não sou político, eu sou brasileiro”, disse em um documentário da Netflix lançado em 2021.
Ainda assim, o ex-jogador que morreu nesta quinta-feira (29), aos 82 anos, participou de momentos marcantes da história recente do Brasil e chegou, inclusive, a se declarar socialista e a flertar com a possibilidade de se candidatar à Presidência.
Pelé na Presidência?
Há registros ainda de que o Rei do Futebol tenha cogitado concorrer ao cargo de presidente.
Em novembro de 1989, às vésperas da eleição presidencial que levou Fernando Collor de Mello ao Planalto, o jornal Folha de S.Paulo publicou que Pelé ambicionava sair candidato em 1994.
“Ele afirmou que se considera um socialista e que pretende criar um partido próprio, caso se decida pela vida política”, diz a reportagem.
“Se eu for candidato, vou procurar fazer um plano com antecedência e participar dos debates na TV”, teria dito o ex-jogador.
Segundo a Folha, as declarações foram dadas em uma coletiva de imprensa em São Paulo em 7 de novembro de 1989, marcada para apresentar uma nova empresa chamada “O Rei”.
Na mesma ocasião, ele teria negado apoio a Collor como candidato, mas não revelou em quem iria votar.
E essa não foi a única vez em que o craque abordou a possibilidade de se lançar candidato. Em imagens divulgadas pelo Globo Esporte, da TV Globo, o ex-jogador comentou sobre um outro momento em que cogitou entrar para a política.
Segundo Pelé, conversas sobre o assunto surgiram durante o período da ditadura, mas ele descartou a possibilidade naquele momento porque tinha um contrato a cumprir com a Warner Communications, que na época comandava o time New York Cosmos, e não havia eleições diretas para presidente.
“Daria tempo para eu me preparar por oito anos, estudar, entrar em um curso ou nos Estados Unidos ou aqui mesmo. E aí eu talvez até pensasse nisso”, diz ele nas imagens divulgadas pela TV Globo.
“Porque se acontecer naturalmente como tudo aconteceu na minha vida, eu não vou fugir da responsabilidade.”
“Se pintar, eu vou ser presidente da República mesmo.”
Ministro do Esporte
A candidatura nunca veio, mas Pelé realmente entrou na política: participou no governo de Fernando Henrique Cardoso como ministro dos Esportes.
O Rei do Futebol comandou a pasta entre os anos de 1995 e 1998 e um dos principais focos da sua gestão foi modernizar o futebol e assegurar direitos trabalhistas para os atletas profissionais.
Pelé conseguiu ter uma lei sancionada pelo governo, a Lei Pelé, em 25 de março de 1998. A medida aboliu o chamado passe — um conceito jurídico que descreve o vínculo que liga o atleta ao clube e condiciona a transferência de um jogador de um clube para outro ao pagamento de uma soma em dinheiro — e forçou a profissionalização dos departamentos de futebol dos clubes, que passaram a pagar imposto de renda.
Para muitos, a decisão deu aos jogadores a liberdade para trocar de times e de buscar contratos mais favoráveis financeiramente, além da possibilidade de atuar em outros países com mais facilidade.
Os mais críticos, porém, dizem que a medida prejudicou os clubes pequenos, uma vez que fez com que perdessem uma importante fonte de renda, e favoreceu a exportação de atletas do Brasil para países da Europa. Está em discussão no Congresso atualmente um projeto de lei que busca alterar a Lei Pelé e restituir a figura do passe, mas que enfrenta alguma resistência dos jogadores.
Quando a passagem do jogador pelo Ministério do Esporte acabou, a pasta foi extinta, com alguns setores à época sendo agregados ao Ministério da Educação (MEC).