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Aos 22 anos, rapper lança videoclipe e dá voz aos jovens da periferia acreana: “Somos sobreviventes”

Por NANY DAMASCENO, DO CONTILNET

Thallison lançou videoclipe neste domingo (25)/Foto: arquivo pessoal

“Selva de concreto onde aprendi a manter o papo reto, onde olhar te cerca de perto, onde sobrevivi àquele mano que é mais esperto onde a maldade reside na casa onde um dia você vira caça, tentou me pegar, mas eu virei fumaça, eu tô mudando a visão dentro da minha área, os que não passa dos 15. Hoje o Céu já não é mais limite”, esse é o trecho do rap Selva de Concreto, do artista acreano Tallisson Araújo. O clipe oficial da canção foi lançado no penúltimo domingo (25).

Com apenas 22 anos, ele lançou o clipe da sua composição, que fala sobre a realidade dos jovens que vivem na periferia de Rio Branco, onde lidam com as oportunidades desiguais e muitos, infelizmente, enfrentam a violência e o assédio desde cedo para se juntarem às facções criminosas.

Novo videoclipe do jovem fala sobre a realidade dos jovens que vivem na periferia de Rio Branco/Foto: cedida

“A mensagem de selva de concreto é bem nítida para quem vive nas comunidades pobres de Rio Branco, onde somos sobreviventes de guerra em nossos bairros, onde o Governo instalou sua supremacia sobre os mais pobres, mas, além disso, a música deixa sua mensagem de esperança em meio a tanto caos que passamos em nossa cidade, nunca desistir dos seus sonhos, a procurar sempre o melhor caminho que te leve à vitória certa”, explicou o rapper, que é conhecido na cena como TBig, em entrevista ao ContilNet.

Confira o clipe:

O Rap surgiu na Jamaica na década de 1960 e cerca de dez anos depois foi levado para os bairros pobres de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Jovens de origens negra e espanhola, em busca de uma sonoridade nova, deram um significativo impulso ao RAP.  O objetivo desse movimento era, e ainda é, o de combater a pobreza, a violência, o racismo, o tráfico de drogas, a falta de saneamento e de educação.

Thallisson nasceu e viveu parte da sua infância no bairro Cadeia Velha, às margens do Rio Acre. Foi justamente as constantes alagações que levaram a família a se mudar para o bairro Jacarandá, no Segundo Distrito da capital, também considerada uma área periférica e, por isso, o ritmo lhe parece tão expressivo.

Thallison durante apresentação em Rio Branco/Foto: arquivo pessoal

“Meu contato com a música foi cedo. Quando tinha apenas 7 anos de idade, ganhei um disco do Racionais, aí logo de cara me apaixonei pelo rap, me sentia livre quando escutava cada verso passado pelos compositores, depois de um tempo comecei a batalhar na escola de brincadeira, meus amigos falavam que eu tinha talento, mas eu era muito tímido e acabava meio que desistindo fácil por esse quesito. Passaram-se uns dois anos, comecei a escrever sobre o que eu via e vivia dentro do meu bairro, lancei minha primeira música e fui muito bem recebido pela comunidade do rap aqui no Acre. Optei por esse estilo, assim como grandes cantores e compositores também optaram, a liberdade de expressão, se sentir livre pra cantar aquilo que se vive sem julgamentos, poder cantar aos menos favorecidos, ser inspiração e através da minha música poder salvar vidas dentro da minha quebrada, vai além de fama e dinheiro”, contou.

Mas se viver de arte no Acre já não é fácil, para os que ainda são “marginalizados” e alvo de preconceitos é ainda pior.

Aos 22 anos, artista lança clipe oficial de sua composição ‘Selva de Concreto’/Foto: arquivo pessoal

“O movimento da cena do Hip Hop no Acre é meio que esquecido pelos poderes públicos e governantes do nosso estado, que preferem investir em outras coisas do que no Rap. São muitos sonhadores que esperam apenas uma oportunidade em nosso estado esquecido. Tudo o que rola no movimento, seja de batalha de rimas ou apresentação de trap/rap, tudo sai do bolso dos próprios organizadores da cena, se não nos prontificamos a fazer isso, a cena e a cultura morrem, literalmente, se formos esperar por esse tal poder público”, desabafou o jovem.

Sobre o público, a questão já é diferente. Apesar do preconceito, avalia Thallisson, a recepção daqueles que se sentem representados nas letras é maior. “Acho que cada artista local tem seu público formado, não só daqui do nosso estado, mas de outras cidades e até internacional, sempre alcançando e superando barreiras. Acho que ainda existe, sim, um pouco de preconceito com esse estilo musical por abordar gírias do cotidiano periférico e vivências da área, mas nada que interfira no nosso trabalho artístico, lutamos para quebrar essas barreiras e que possamos alcançar a todos com nosso estilo musical que se torna cada vez mais influente em todo Brasil”.

Thalisson durante batalha de rap/Foto: arquivo pessoal

Uma das grandes bandeiras do Rap é levar mensagens de esperança aos jovens que, pela falta de oportunidades, não conseguem enxergar-se em um futuro. “Como dizia o grande poeta Sant: ‘Você é do tamanho do seu sonho’. Não importa barreira ou a dificuldade que você passa, tudo tem uma recompensa no final, basta ter vontade de vencer e, de onde viemos, isso não falta! Disposição em dobro para alcançar a meta, o que eu digo pra todos os meus irmãos: nunca deixe de sonhar, corrida hoje, vitória amanhã. Somos movidos pela vontade de vencer, a falta do básico nos fez querer ter mais que o necessário, não para ostentar ou querer se melhor que ninguém, é para provar que não importa a localidade ou condições que vivemos, se mantermos a fé, conseguimos tudo além do que podemos ver. Sejamos luz para nosso povo, provando que a favela tem seu lugar. Favela é um bom lugar”, finalizou.

Para conferir mais do trabalho de Tallisson, acompanhe no Instagram. Ou em seu canal no Youtube.

Confira outros sucessos do jovem:

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