PF acusado de matar jovem em boate fala sobre tragédia e pede desculpas à mãe da vítima

Natural do Rio de Janeiro, o policial federal Victor Campelo, de 30 anos, é acusado de matar o jovem Rafael Frota na madrugada de 2 de julho de 2016, na boate Set Club em Rio Branco. O julgamento que acontece desde a última terça-feira (24), teve em seu segundo dia o interrogatório do policial federal.

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“O fato é verdadeiro, os motivos estão sendo comprovados”, disse Victor no início do interrogatório feito pelo juiz Alesson Braz, pelo procurador do Teotônio Soares, do Ministério Público do Acre (MPAC) e pela defesa dele.

Rafael Frota morreu após ser baleado na boate/Foto: Reprodução

Início da noite

Victor contou sobre a noite em que aconteceu a briga, que resultou na morte do jovem Rafael. “Eu estava no Loft e fui para a Set Club com alguns amigos, no meu carro. No Loft eu não ingeri bebida alcoólica. Na Set, ficamos perto do palco, eu vi a Yasmin mas ela estava conversando com umas pessoas, depois de um tempo eu tive vontade de ir ao banheiro e parei para falar com a Yasmin”, diz.

Depois disso, Victor conta que teve a percepção de que Lavínia, a namorada na época, tinha tomado um empurrão e interviu na situação. “Entrei no meio deles dois para tirar a Lavínia de lá. Nisso, ele já veio xingando e ele me deu um soco no rosto e eu caí no chão. Eu acho que cai desacordado, porque só lembro que tava no chão, então eu vi os ‘caras’ em cima de mim, me agredindo. Eram uns três me agredindo de todas as formas”, contou.

Victor continuou contando que havia uma pessoa em cima dele e outras duas o agredindo nas laterais. “Nesse momento eu puxei minha arma, que estava no meu coldre na frente, eu puxei a arma e pensei em apontar para cima. Eu efetuei 4 disparos. Eu não lembro do momento em que eu me atingi”, diz.

“No momento que eu efetuei os disparos, eles saíram de cima de mim, eu peguei a arma junto do meu corpo, quando eu sentei para levantar, me agarraram pelas minhas costas para tentar pegar minha arma mas não conseguiram. Alguém chutou minha mão e minha arma voou, quando eu levantei eu vi que eu estava baleado e acho que minha pressão caiu, então eu caí e me levantaram e eu já perguntei pela minha arma”, lembrou Victor.

Notícia da morte de Rafael

Victor contou que não sabia quem havia sido atingido e recebeu com pesar a notícia da morte do estudante Rafael Frota.

“Foi um baque. Vou levar para o resto da minha vida independente do resultado aqui. A Lavínia falou que eu falava muito do rapaz e da mãe dele. Sempre tive muita serenidade para entender a dor da família”, explica.

“Talvez o desespero”

Victor lembrou também sobre o soco que tomou no rosto, no início da confusão. “Eu peguei o soco, cai e bati no chão. Eu só lembro de afastar a Lavínia do rapaz e tomar um soco, não lembro de cair, só de estar no chão”, disse.

O réu contou que no momento, não houve briga em pé. “Talvez o desespero tenha feito ele atirar na própria perna. Não houve luta, houve agressão. Eu não bati nele, ele me bateu. Eu me defendi com o que eu tinha que era a arma”.

“Minha mãe reza o tempo inteiro”

O réu foi perguntado sobre a reação da mãe com relação ao processo, e Victor respondeu que a mãe reza o tempo inteiro. “Minha mãe é religiosa para caramba. Ela queria vim, meus irmãos queriam vim e meu pai de criação veio comigo. Ela ficou lá rezando, mas não poderia vim não”, disse.

Madrugada de 2 de julho de 2016

O policial federal deu continuidade na fala e contou que o arrependimento que ele tem, com relação à madrugada de 2 de julho de 2016, é ter saído de casa.

“Só me arrependo de sair de casa. Quando a gente sai de casa para arrumar problema a gente espera que ele venha, mas quando a gente sai sem querer arrumar problema e vem uma situação que não tem pra onde correr”, disse.

O réu também falou sobre a bala que ficou alojada em sua perna. “A munição que a gente usa é aquela do dia a dia, da ponta oca, quando tem o impacto dela, ela abre. Ficou uns 9 pedaços dela na minha perna. É mais arriscado fazer cirurgia para tirar do que deixar lá, então estão lá até hoje”.

Alcineide Frota, mãe do jovem Rafael Frota/Foto: ContilNet

“Desculpa”

Ao final, Victor falou que sempre foi sensível à situação da família de Rafael e contou que recebeu uma ligação de uma irmã perguntando se o policial federal se lembrava do momento em que soube da morte de Rafael e ele quis abraçar a mãe.

Após isso, Victor virou-se em direção à mãe de Rafael e pediu desculpas. “Peço desculpa pelo fato. Sinto muito por ter perdido o filho da senhora. Sinto muito de verdade, não sou uma pessoa ruim que queria fazer mal para a senhora”.

O interrogatório de Victor Campelo foi encerrado e o julgamento retorna nesta quinta-feira (26), em seu terceiro dia.

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