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Ao ContilNet, Socorro Neri fala sobre mandato, relação com o PT e disputa pela Prefeitura

Por Tião Maia, ContilNet

Socorro Neri. Foto: Reprodução

Ela desembarcou em Brasília com o diploma de deputada federal eleita pelo Acre com 25.842 votos, exatos 5,95% do total de votos disponíveis no pleito de 2022. Ou seja, numa contagem simples, significa que, de cada cem votos para deputado federal, ela obteve quase 6, sendo votada em todos os municípios do Acre.

Tamanha votação a colocou no confortável lugar de a mais bem votada deputada federal entre os oito eleitos pela bancada federal do Acre até 2026. Nada mal para quem nasceu num seringal de Tarauacá e nunca pensou, até a alguns anos atrás, apesar de vir de uma família de políticos tradicionais, tecer ela própria caminhos na política e ter seu nome também avaliado por seus conterrâneos.

Nome tão bem avaliado que, apesar da derrota para a reeleição na Prefeitura de Rio Branco, em 2020, vem tendo seu nome lembrado como provável candidata à prefeita da Capital no próximo ano. Algo que ela se dispõe a pensar com carinho, admitiu na entrevista a seguir.

A entrevista é com a educadora, ex-prefeita de Rio Branco e deputada federal pelo PP (Progresistas) Socorro Neri. E quem é Socorro Neri?

Professora de formação e de profissão, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2007-2009. Nascida em Tarauacá, cujo nome significa “Rio dos paus e pedras”, Socorro vivencia a Educação desde a tenra idade e dentro da própria casa. Sua mãe, Adelaide Neri (in memoriam) era professora e também foi deputada federal.

Deputada eleita Socorro Neri durante diplomação no TRE. Foto: Yago Ayache/ContilNet

Socorro Neri chega à Câmara dos Deputados depois de ter sido vice-prefeita de Rio Branco, capital do Acre, de 2017 a 2018, e também prefeita, de 2018 a 2020).

Na área da Educação, Socorro Neri também já exerceu atividades importantes. Foi Pró-reitora de Graduação na Universidade Federal do Acre, de 2012 a 2015; vice-reitora, de 2010 a 2012; Secretária de Estado de Educação, Cultura e Esporte, Governo do Estado do Acre, de 2021 a 2022.

Também foi presidente do Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social, vice-presidente para a Cultura, Frente Nacional de Prefeitos, de 2018 – 2019; Vice-presidente para a Educação, Frente Nacional de Prefeitos, Brasília, 2019 – 2020; Membro do Conselho Consultivo, Confederação Nacional dos Municípios, de 2019 a 2020; Presidente, Associação dos Municípios do Acre, de 2019 a 2020; Vice-presidente da Região Norte, Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação, de 2021 a 2022.

Veja a seguir, os principais trechos da entrevista concedida exclusivamente ao ContilNet:

Como será pautada sua atuação na Câmara? A senhora será de fato uma parlamentar da Educação? A senhora está organizando uma frente neste sentido?

Socorro Neri – Minha atuação na Câmara dos Deputados está sendo pautada pela mesma régua que pautou minhas missões anteriores: a ética da responsabilidade, do buscar fazer o melhor possível e sempre com foco no bem comum. Meu mandato é da educação e do desenvolvimento social e econômico do nosso Acre e do nosso país. Estou empenhada na criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Transição Climática Justa, e me aliei a outros parlamentares na recriação da Frente Parlamentar da Educação.

Devo confessar que sua eleição como a deputada federal mais votada do pleito de 2022 foi uma surpresa para muita gente, principalmente porque a senhora vinha de uma derrota na tentativa de reeleição para a Prefeitura, dois anos antes. Então, qual é a receita para um político se recuperar após uma derrota?

Socorro Neri – Para mim não foi surpresa alguma. Todas as pesquisas de intenção de votos me colocavam em primeiro lugar ou entre os três primeiros, e refletiam o que era visível em Rio Branco e em alguns municípios em que meu nome foi muito bem recebido. Fui a mais votada em Rio Branco, Porto Acre e Bujari. A segunda mais votada em Plácido de Castro e recebi votos em todos os municípios. Considero esse resultado eleitoral um reconhecimento ao trabalho que desenvolvo há mais de três décadas e, de forma especial, à gestão ética, com bons resultados e muito bem avaliada pelo que fiz na prefeitura de Rio Branco no curto período de dois anos. Não tive êxito naquele processo eleitoral, mas, se dele podemos extrair uma lição é a de que, mais cedo ou mais tarde, a verdade aparece e o trabalho correto é reconhecido.

O governador Gladson Cameli e seu Governo tiveram participação nisso ou foi a memória do eleitor em relação a seu trabalho na Prefeitura?

Socorro Neri – É fato, e motivo de orgulho para mim, que recebi apoio de muitos integrantes do governo estadual, assim como de servidores de outros poderes. Pessoas que compartilham da minha forma de trabalhar pelo bem coletivo e que, nesta eleição, fizeram questão de manifestar o apoio que, somado ao grande reconhecimento do trabalho na gestão da nossa capital, me elegeu a deputada federal mais votada.

A senhora já teve tempo para mapear o perfil do seu eleitor? Quem é o eleitor de Socorro Neri?

Socorro Neri- Votou em mim quem deseja que a política seja exercida com ética, transparência, competência e para o bem coletivo. Foi isso que ouvi nas manifestações de apoio em todos os lugares por onde andei nesta eleição. E é isso que pautará o meu mandato. Estarei à serviço dos interesses públicos, coletivos, e jamais de interesses partidários ou particulares.

Socorro Neri e o governador Gladson Cameli, no momento em que se filiou ao Progressistas. Foto: redes sociais

No Congresso, a senhora será da base de apoio do governo petista do presidente Lula? Bota como a deputada Socorro Neri nas pautas governistas?

Socorro Neri – Estou tendo em relação ao governo do Presidente Lula a mesma postura que teria se o eleito tivesse sido o ex-presidente Bolsonaro. Serei favorável a todas as medidas que se destinem ao desenvolvimento do nosso país, à inclusão social e ao fortalecimento da democracia. Não farei oposição à população acreana e brasileira. Fui eleita para propor e apoiar soluções para os reais problemas do nosso Acre e do nosso país. E é isso o que farei incansavelmente.

A senhora já definiu para quais setores e em quais projetos vai direcionar as suas emendas?

Socorro Neri – Os eixos da minha atuação foram definidos durante a campanha: educação, desenvolvimento econômico sustentável, inclusão social, direitos humanos, democracia. As emendas parlamentares serão destinadas a ações vinculadas a esses temas, mas serão definidas com a participação das comunidades e setores envolvidos.

Um dos maiores gargalos do povo do Acre é a quase destruição da BR-364 nos últimos quatro anos. O que a senhora acha que deve ser feito, inclusive politicamente, para que a rodovia seja recuperada e não feche?

Socorro Neri – A recuperação da BR-364 é vista como prioridade por toda a bancada acreana. Temos, inclusive, a garantia do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira, de que ele nos apoiará nesse pleito junto ao Governo Federal.

Já sararam na senhora as feridas dos arranhões com o PT, que vêm desde os tempos em que assumiu a Prefeitura de Rio Branco, saindo da condição de vice de Marcus Alexandre para prefeitura?

Socorro Neri – Posso falar apenas por mim. Não estou presa ao passado. Hoje tenho uma nova missão a cumprir e para dar conta dela precisarei dialogar com todos os que querem o bem do Acre e do nosso país.

Seu nome é sempre lembrado como uma possível candidata à Prefeitura nas próximas eleições? A senhora pensa nisso?

Socorro Neri – Ter o meu nome lembrado como potencial candidata à prefeita de Rio Branco é reconhecimento à gestão que realizei em pouco mais de dois anos e à votação que obtive para deputada federal na capital. Recebo esse reconhecimento com alegria e com muita responsabilidade. É algo a ser avaliado no momento oportuno.

A senhora vem de uma tradicional família de políticos, que têm seu tio, o ex-deputado Manuel Machado, e é filha de uma outra ex-deputada, Adelaide Neri, que era irmã de seu tio. Pergunto: a senhora é uma política por vontade própria ou está apenas seguindo uma tradição familiar, algo muito comum na política nacional e mundial? Pretende manter a linha política da família? O que muda em relação aos seus mandatos e aqueles obtidos por seus familiares?

Socorro Neri – Minha inserção na política não se insere no formato do que se denomina familiocracia. Não fui vice-prefeita, prefeita e hoje deputada federal por indicação ou influência de minha mãe ou de meu tio, que já não conquistavam mandatos desde 1994. Tenho um histórico de trabalho bem sucedido na educação, na assistência social e na UFAC, e que é anterior ao convite para ser candidata à vice-prefeita em 2016. Considero que, desde então, tenho demonstrado com muita clareza e autonomia os propósitos que me fazem participar da política. E se um desses propósitos coincide com o que pautou a atuação da minha mãe, que foi deputada federal eleita pelos professores em 1990, é porque, de fato, aprendi com ela, na vida dura de quem veio do seringal, que a educação pública é o instrumento que pode transformar histórias individuais, como fez com as nossas, e sociedades.

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