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BNDES é acusado de não combater criação de gado em terras griladas na Amazônia

Por Tião Maia, ContilNet

Presidido no atual governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva pelo economista Aloízio Mercadante, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem sendo apontado por ambientalistas de todo o país como o principal responsável por permitir que o frigorífico JBS continuasse a comprar gado de áreas de desmatamento da Amazônia. É o que aponta o relatório divulgado nesta semana pela Anistia Internacional, divulgado nesta quinta-feira pelo Portal “De Olho nos Ruralistas”, um observatório jornalístico sobre o agronegócio e seu poder político e econômico, os impactos sociais e ambientais.

De acordo com a publicação, o banco estatal tem o JBS como seu segundo maior sócio da empresa, o qual havia assumido o compromisso, desde 2016, de não participar de empresas envolvidas na destruição do ambiente. No entanto, imagens de satélite mostram o avanço da pecuária em áreas invadidas de reservas e terras indígenas no estado de Rondônia.

O Banco, portanto, é acusado pelos ambientalistas de omissão. De maio de 2016, início do governo Michel Temer, até os dias atuais, o BNDES foi presidido por Maria Silvia Bastos Marques, Paulo Rabello de Castro, Dyogo Henrique de Oliveira, Joaquim Levy e Gustavo Montezano – os dois últimos já no governo Jair Bolsonaro. O BNDES é o segundo maior acionista da JBS e em maio de 2020, tinha mais de 20% da empresa.

Em 2009, o BNDES determinou, em suas diretrizes, um prazo até 2016 para que todas as empresas de agropecuária que recebem seu apoio implementassem um sistema de rastreabilidade do gado desde o nascimento. O objetivo era evitar que gado criado ilegalmente em áreas de desmatamento fosse incluído na cadeia de produção de empresas que recebem financiamento público.

A rastreabilidade do nascimento até o abatedouro é a única maneira de evitar a lavagem de bois: quando o fazendeiro retira o rebanho de uma propriedade ilegal e transporta para outra legal, para fazer a venda como se o animal tivesse sido criado legalmente desde o nascimento.

Em 2018, dois anos após o término do prazo estabelecido, um representante do BNDES admitiu que o banco não havia cumprido a diretriz que havia apresentado na década anterior. O anúncio havia sido uma resposta a investigações do Greenpeace e do Ministério Público Federal. Os dados mostravam que a pecuária ocupava cerca de 65% da área de desmatamento da Amazônia. Ao não combater essas práticas, as empresas lucram com o desmatamento e estimulam os desmatadores a continuar cometendo seus crimes.

O relatório da Anistia mostra a atuação de três fazendeiros que invadiram as reservas extrativistas do Rio Jacy-Paraná e do Rio Ouro Preto e a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, todas em Rondônia. O documento não cita nominalmente nenhum dos invasores. Mostra ainda um crescimento nas invasões a partir de 2019 e imagens de satélites que confirmam o avanço nos pastos inclusive neste ano. Além do dano ambiental, a invasão é feita com expulsão e ameaças a povos tradicionais e originários.

Além da própria JBS e do BNDES, a entidade mostra a omissão da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron), que tem dados detalhados sobre a criação de gado dentro das reservas, inclusive com as coordenadas geográficas das áreas e também sobre todas as movimentações do rebanho. As informações seriam suficientes para impedir a lavagem de gado criado em áreas de desmatamento ilegal.

Os dados da Idaron, obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostram que o número de animais criados dentro de reservas passou de 125.560 a 153.566, entre novembro de 2018 e abril de 2020, um aumento de 22%. Também mostram que, ao longo de 2019, foram transferidos 89.406 bovinos de fazendas localizadas em áreas protegidas.

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