Tieta do Agreste, Maria Bonita, Joana d’Arc e Maria Quitéria foram algumas das personagens vividas por Anitta na temporada de Carnaval 2023. A funkeira, que percorreu o Brasil com a turnê Ensaios de Anitta, usou figurinos com a temática Guerreiras. A iniciativa tem a direção criativa de Clara Lima, homenageia mulheres reais e personagens fortes que marcaram a história. À coluna, a stylist contou detalhes dos visuais.
Vem ver todos!
Giphy/Julia Bandeira/Anitta/Divulgação
A estilista e stylist Clara Lima entende tanto de moda quanto de música. Isso porque ela fez parte da banda Cansei de Ser Sexy e era integrante na época do maior hit do grupo, Superafim, o qual ela compôs e também interpretou.
Vem desse background próprio e da trajetória na moda a intersecção entre roupa e música. Além de ter trabalhado com o artista plástico e stylist Maurício Ianês, responsável pela imagem dos desfiles de Alexandre Herchcovitch, Clara Lima foi sócia de Patrícia Zuffa, com quem desenhava os figurinos de palco de Ivete Sangalo.
Desde 2019, Clara Lima está em “relacionamento sério” com Anitta, para quem pensa os looks dos shows, das campanhas publicitárias e dos editoriais de moda. Apesar de ter carta branca da funkeira para criar, neste ano a ideia partiu da cantora de Honório Gurgel.
“Geralmente, penso a temática das fantasias do zero, fico totalmente livre para criar a partir de conversas com a Anitta. Mas ela trouxe agora o tema Guerreiras, buscando homenagear mulheres icônicas da história, o que exigiu muita pesquisa imagética e leituras”, conta a stylist à coluna.
A empreitada exigiu mais pesquisa do que o de costume. Clara Lima conversou com pesquisadores para entender quais mulheres poderiam entrar para a série. A partir daí, foi feita uma investigação intensa de tecidos, cores, formas e proporções partindo das necessidades de movimento da artista no palco.
Mulheres da história
Nada mais apropriado para Anitta, que revolucionou a imagem do funk no Brasil e no mundo, homenagear outra revolucionária: Anita Garibaldi. Nascida em Santa Catarina em 1821, ela participou da Guerra dos Farrapos e da Batalha dos Curitibanos no Brasil, além da Batalha de Gianicolo, na Itália.
Outra brasileira que não podia faltar na série Guerreira era Maria Bonita, a companheira de Lampião. A baiana foi a primeira mulher cangaceira do país, em uma época na qual não seguir os padrões era inaceitável. Para criar o look, Clara Lima pensou em exaltar a força das mulheres e o design nordestino. Por isso, convidou as estilistas Helo Rocha e Camila Pedroza, e o artesão Espedito Seleiro.
Outro nome menos conhecido e homenageado na série Guerreiras foi Luz Del Fuego. Potiguar criada em Belo Horizonte, Minas Gerais, era dançarina, atriz, escritora e feminista brasileira que lutou pelo direito de ser livre. Foi um dos maiores nomes do teatro carioca na década de 1940, mas causava fúria por ser vista como uma ameaça aos “bons costumes”.
Mais uma baiana entrou para o rol das homenageadas: Maria Quitéria. Como uma espécie de Mulan brasileira, marcou a história ao se alistar no Regimento de Artilharia da Vila de Cachoeira (Bahia), disfarçada de homem, para lutar pela independência do Brasil no século 19. Mesmo após ter a identidade revelada, foi liberada por um major para seguir na tropa graças à sua facilidade com o manejo de armas e sua disciplina em batalha.
O céu é o limite para a Anitta, que não deixou de incluir na série Guerreiras a primeira mulher a fazer uma viagem espacial, Valentina Tereshkova. A russa foi a única, até a atualidade, a viajar sozinha ao espaço, na missão de sucesso no ônibus espacial Vostok 6, em 1963, recebendo condecorações de líderes do mundo todo.
No show inaugural de 2023 do próprio bloco de rua, em Salvador (Bahia), a cantora surgiu com um visual todo prateado, que remetia à Joana d’Arc. A francesa foi uma camponesa canonizada pela Igreja Católica. É considerada uma heroína por ter liderado tropas na Guerra dos Cem Anos, no século 15.
Em Recife (Pernambuco), Anitta homenageou Cabocla Jurema, entidade espiritual da umbanda. Com o figurino, criado por artesãs indígenas, ideia foi celebrar a religiosidade afrobrasileira. “Esse look me enche de orgulho, porque a história dela fala muito sobre força. Sempre sonhei em homenageá-la de alguma forma. Fazer isso no Carnaval é muito especial para mim!”, comemorou a funkeira em nota.
Personagens fortes
Apesar de homem, é fato que o escritor Jorge Amado criou personagens mulheres de sucesso da literatura brasileira. Uma delas, Tieta, ganhou vida primeiro no corpo da atriz Betty Faria, na novela de mesmo nome que foi sucesso na Rede Globo. O figurino da protagonista da produção foi usado de referência para o look de Anitta.
O nome da série de figurinos inspirou ainda dois looks. Anitta se vestiu, em 29 de janeiro, de Guerreira da Favela. O vestido idealizado por Clara Lima resgatava a bandeira brasileira, celebrava o Carnaval e as figuras femininas cariocas da favela. Teve ainda a Guerreira do Futuro que, com uma aparência futurista, representava uma mulher que salvará a humanidade das questões ambientais e das guerras.
Os figurinos do compilado Guerreiras repercutiram nas redes sociais, como de praxe nas ações da cantora. Alguns críticos acusaram Anitta de sexualizar figuras históricas. Em entrevista ao portal Papelpop, a carioca rebateu.
“Eu sou sensual e essa é a minha leitura sobre a história de cada mulher. Eu gosto de ser sensual, minhas músicas são sensuais. Não teria nada a ver eu dançando, rebolando, toda tapada”, afirmou Anitta.