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Família de acreano morto durante ditadura não aceita desculpas e compara caso ao de Chico Mendes

Por Tião Maia, ContilNet

Wilson Pinheiro morreu há 43 anos, em Brasileia/Foto: Reprodução

O pedido do Ministério Público Federal (MPF) de condenação do Estado do Acre e da União por omissões na investigação da morte do sindicalista Wilson Pinheiro, há 43 anos, em Brasileia, não contempla seus familiares. Apesar de acharem que o Estado brasileiro deve a família uma reparação histórica por causa da morte, os familiares querem mais que pedidos de desculpas.

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“Acho que é uma reparação histórica necessária, pois Wilson foi morto por defender os trabalhadores! Porém, ela não apaga a dor da família que viveu todos esses anos sem um ente querido e que viu o Estado ser omisso”, disse a professora aposentada Hiamar Pinheiro, uma das seis filhas do sindicalista (há ainda um filho, de nome Ambrósio Pinheiro). Ela fala em nome da família.

Hiamar Pinheiro é filha de Wilson Pinheiro/Foto: Reprodução

Em ação na 3ª Vara da Justiça Federal no Acre, o MPF pede o pagamento de R$ 1 milhão por dano moral coletivo, quantia que deve ser revertida em projetos educativos e informativos sobre a Justiça de transição e requer que os entes federados sejam condenados a emitirem declaração oficial de desculpas aos familiares do líder assassinado e à população brasileira, com citação do caso específico.

“Pedidos de desculpas não serão aceitos. Nós perdemos um pai amoroso, um homem dedicado à família e aceitar pedidos de desculpas de quem não se empenhou em investigar sua morte e quem são seus assassinos, seria uma traição à memória dele”, disse Hiamar Pinheiro. “Ficamos abandonados, sofrendo horrores e nunca recebemos a atenção do poder público”, disse a professora. Wilson era casado com dona Teresa Pinheiro, que hoje tem 82 anos de idade.

Hiamar Pinheiro compara a situação de sua família com a do sindicalista Chico Mendes, também assassinado, oito anos depois da morte de Wilson, em Xapuri. Amigos e companheiros da mesma luta e abatidos de forma parecida, as famílias dos dois receberam tratamento diferente. Enquanto a viúva (Ilzamar Gadelha Mendes) e os filhos de Chico, que eram menores na época do crime, recebem pagamento de pensão pelo Estado, os familiares de Pinheiro nunca foram beneficiados em nada.

“Eu me pergunto por que dessa discriminação com a gente. Se os dois tinham a mesma história de luta, por que a família do Chico Mendes foi beneficiada e a do Wilson não”, questiona Hiamar Pinheiro. “Não temos nada contra a família do Chico. Só gostaria que o tratamento não fosse diferenciado”, acrescentou.

A ação foi ajuizada pelo procurador regional dos Direitos do Cidadão do Acre, Lucas Costa Almeida Dias, autor da ação, o qual apontou, em relação à morte de Wilson Pinheiro, “quadro de inércia estatal”. Para ele, isso representa uma dupla violência: “Primeiramente, pelo assassinato em si com a brutalidade de uma execução, praticada em um contexto de oposição aos valores democráticos, aos direitos humanos e à tolerância; segundo, simbólica pelo desprezo à memória do sindicalista”.

Para a família de Wilson Pinheiro, a tragédia da morte é como feridas abertas, sangrando há mais de quatro décadas. “Só quem sente essa dor é capaz de imaginar o que nós passamos”, disse a professora.

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