Uma mulher denunciou ter sido agredida e estuprada enquanto dormia pelo próprio marido em episódios que marcaram os cinco anos de casamento. Juliana Rizzo, 34, divulgou as cenas da violência nas redes sociais nesta semana, em uma tentativa de cobrar justiça pelas violências vividas. O término do relacionamento ocorreu em 2021, após uma tentativa de estupro e ela flagrar Ricardo Penna Guerreiro, 46, brigando com o filho mais velho dela, que é de outro relacionamento.
A Universa, Juliana contou que, no início do relacionamento, em 2017, Ricardo se demonstrava como um homem “divertido” e de quem recebia muito apoio. “No começo ele era uma pessoa muito boa, não tinha problema nenhum, era divertido, a gente viajava, ele me apoiava em tudo, era uma pessoa realmente legal. Mas tudo isso era só para a conquista”, disse ela.
Após o início do relacionamento, os dois começaram a morar juntos e as agressões vieram quando ela estava grávida do primeiro filho com ele, durante um aniversário dela. “Naquele dia, os amigos dele fizeram uma piada e eu sorri. Ele achou que eu estava rindo da piada, que era com ele, e aí começaram as agressões”, contou ela.
Na época, Juliana conseguiu fugir para um apartamento que ainda estava alugado, onde se refugiou por uns dias. No entanto, o ex-marido viu o local em que ela morava e decidiu sequestrar o filho mais velho, à época adolescente, como uma chantagem para fazer ela voltar a falar com ele.
“Ele colocou o meu filho no carro e saiu dizendo que só iria devolvê-lo na hora que conversássemos. Ele falava isso rindo. Eu fui até lá, peguei meu filho, ele pediu desculpas, disse que iria melhorar e eu acabei dando uma segunda chance. Mas, com o tempo, só piorou.”
Estupro
Durante o casamento, Juliana diz que o marido proibia ela de trabalhar e chegou a estuprá-la algumas vezes quando ela estava sob medicação psiquiátrica. “Uma vez eu disse que queria fazer concurso para a Polícia Federal e ele me disse; ‘Você não vai. Você não vai ter arma porque você é louca'”.
Com depressão, ela resolveu buscar ajuda psiquiátrica. “Estava com depressão pós-parto, em um casamento horrível e a minha mãe estava com um câncer terminal, que ninguém sabia identificar onde era o tumor. Eu não denunciei porque fiquei com medo de ele me matar. Passei a ter crises de ansiedade. Comecei a tomar a medicação e tinha alguns efeitos colaterais, então comecei a me medicar à noite, numa tentativa de dormir pesado.”
Foi durante essa época que Ricardo começou a violentar a mulher. “Eu nunca deixei de comparecer como esposa, mesmo brigados, eu sempre acreditava na família, achava que com o tempo ia melhorar, sempre fazia de tudo para estar tudo bem. Mas por prazer ele começou a me estuprar”, disse ela.
Segundo Juliana, Ricardo acordava-a no meio da noite, depois de que ela havia ingerido os remédios. “Eu tentava impedir, mas ele não parava. Foram diversas vezes. Alguns dias acordei sangrando, porque ele me machucou. Se eu tinha noção do que estava acontecendo? Algumas vezes, sim, outras nem tanto, mas eu realmente não tinha forças para uma luta corporal.”
As cenas foram gravadas por uma câmera de segurança que o próprio ex-marido de Juliana instalou na casa. Nas imagens, é possível observar que ela estava dormindo quando Ricardo se aproxima e começa a puxar o corpo dela à força. Universa não divulgará estas imagens.
“Quando eu olhava essas imagens, eu me dava conta do que estava acontecendo e salvava isso para servir de prova. Foi tudo muito violento.”
Separação
A separação ocorreu em 2021. Na época, a mãe de Juliana havia falecido e, segundo ela, Ricardo impediu que se despedisse da matriarca. “Ele me xingou de vagabunda e, por sorte, eu tinha uma chave reserva do meu carro, porque ele tinha escondido a minha. Ele me achou logo depois e veio querer ajudar financeiramente no velório. Ele sempre fazia algo muito ruim e depois tentava se redimir. Só que, no outro dia, depois do velório, voltei para casa e acordei no meio da noite, com ele assistindo a um filme pornográfico. Ele veio tentar fazer sexo comigo, e eu falei que não queria, que tinha acabado de enterrar a minha mãe.”
Juliana diz que foi tentar dormir no quarto dos filhos, o que irritou o ex-marido. “Ele entrou chutando a porta e disse que se eu dormisse lá, o casamento iria acabar. E eu disse: então tá. Acabou”. Ela encontrou um apartamento para ficar após a situação, mas Ricardo localizou ela, quebrou estruturas do imóvel e a proprietária encerrou o contrato com Juliana. “Ela ficou com medo.”
Ricardo ficou fora da cidade por questões pessoais durante três meses e Juliana pode retornar à casa onde morava, para se preparar para a separação. “Quando ele voltou, as coisas estavam calmas. Estávamos dormindo em quartos separados e nos planejando para a separação. Um dia ele começou a brigar comigo e eu disse que ia sair para esfriar a cabeça. No que eu olhei para a câmera de segurança, vi ele brigar com o meu filho mais velho. Eu pensei que não era possível que isso acontecesse. Ele só tinha 15 anos e ficou de cabeça baixa, enquanto ele gritava e jogava o celular dele para longe. Eu voltei para casa, peguei meus filhos e saí de lá com a roupa do corpo. Nunca mais voltei.”
Depois do episódio, Juliana fez um boletim de ocorrência e conseguiu ajuda com um professor da faculdade para começar uma nova vida em outra cidade.
Busca por Justiça
Juliana afirma que a decisão de falar sobre o caso é uma forma de pressionar a Justiça e garantir proteção para ela e os filhos. “Me expor dessa forma é algo muito duro. Reviver tudo isso mexeu demais comigo. Eu fiz isso porque ele já foi preso outras vezes, por outro crime, mas acabou saindo. Ele sempre ria disso, acreditando na impunidade. Eu tenho muito medo mesmo com ele preso, não me sinto segura”, diz ela.
“Eu temo pela minha vida e a de meus filhos. Eu não quero que isso gere uma revolta e algo seja feito contra a vida dele. Ele é um monstro, mas é o pai do meu filho e não quero carregar esse peso comigo. Eu só quero que ele seja condenado e fique preso. Eu quero a vida de todos intacta, porque eu sei que se depender dele, ele vai contra a minha vida. Eu só quero que me deixem em paz.”
Universa entrou em contato com a defesa de Ricardo, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço será atualizado assim que houver manifestação.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.