A espera de quatro meses para o retorno da Fórmula 1 está mais perto que nunca de terminar. Antes, porém, a categoria desembarca no Circuito de Sakhir, no Bahrein, para os tradicionais testes de pré-temporada (também chamados de testes de inverno).
De 23 a 25 de fevereiro, o público terá o primeiro vislumbre dos carros reais que voarão baixo nas 23 diferentes pistas do calendário de 2023 e uma vaga ideia de quem serão os favoritos ou menos cotados para entrar na briga por pódios, vitórias e o título.
E os brasileiros ainda poderão ver o paranaense Felipe Drugovich em ação. Piloto reserva da Aston Martin, o campeão da Fórmula 2 participará dos testes no lugar de Lance Stroll, que se machucou em um acidente de bicicleta.
Entenda, abaixo, como funcionam os testes, confira os horários das atividades – com cobertura do ge.globo – e pontos principais a se ficar ligado ao longo das sessões.
Datas e horários (no fuso de Brasília)
23/02 | quinta-feira: de 4h00 às 13h30.
24/02 | sexta-feira: de 4h00 às 13h30.
25/02 | sábado: de 4h às 13h30.
O ge.globo acompanhará as atividades em pista em tempo real a partir das 8h (horário de Brasília).
Neste ano, as equipes terão um desafio menor: com só três dias de teste, ao invés dos seis de 2022, o tempo para avaliar os carros e correr atrás de potenciais modificações que venham a ser necessárias é bem menor. E apesar de o inverno ainda não ter terminado, Sakhir promete levar os carros ao limite devido ao calor e ao vento típicos da região.
Como funciona?
São nove horas e meia de atividade em pista a cada dia, dividas por um intervalo para o almoço – geralmente de 8h às 9h no horário de Brasília. Normalmente, as equipes colocam um de seus pilotos para pilotar no primeiro período e o outro para guiar o carro no período final do dia.
As equipes podem dar quantas voltas quiserem pelo período desejado, quando serão analisados os desempenhos dos pilotos e dos carros, além de outras atividades, como treinos de pit stops. Há a possibilidade de encerrarem suas participações no dia precocemente por problemas inesperados ou estratégia.
Um pouco de história
Até 1986, não havia uma regulamentação para a pré-temporada. Isso mudou com o acidente que matou o piloto Elio di Angelis durante testes no Circuito de Paul-Ricard, na França. O atual formato, porém, começou a se desenhar apenas na década de 2000, com mudanças graduais.
Já foram sede dos testes os circuitos de Jerez de La Frontera e Valencia, na Espanha; Portimão, em Portugal; Mugello, na Itália; e Paul-Ricard, na França.
O mais famoso e recente deles, porém, foi o Circuito de Barcelona, que deixou de sediar a pré-temporada neste ano após revezar-se com o Bahrein em 2022. O número de testes também foi reduzido de oito em duas rodadas para apenas três, em 2023.
No que ficar de olho?
Nem todas as equipes divulgam seus carros verdadeiros da temporada nos lançamentos que antecedem a temporada. Algumas exibem apenas um modelo digital ou reproduzem a nova pintura em modelos antigos.
Nos testes de pré-temporada, porém, não é mais possível esconder o jogo. Aí, o público – e também as rivais – podem conferir com detalhes as novidades técnicas de cada monoposto.
Quer um exemplo? Em 2020, a recém-batizada Racing Point (hoje Aston Martin) só divulgou a pintura de seu novo carro. Porém, a equipe quebrou a internet – e a F1 – ao chegar nos testes com um modelo extremamente semelhante ao carro da Mercedes de 2019. Por fim, o time chegou a pontuar 570% vezes mais nas primeiras três rodadas do ano, mas acabou punido pela “cópia” do W10.
Embora muitas coisas possam mudar ao longo da temporada e até mesmo entre os testes e a primeira corrida do ano, é possível ter um vislumbre do momento de cada equipe conforme seus resultados na pré-temporada.
Em 2022, por exemplo, a Mercedes oscilou com tempos rápidos e medianos, tendo George Russell à frente de Lewis Hamilton. Max Verstappen, campeão da temporada, dominou a sessão no Bahrein e protagonizou as melhores voltas com as Ferraris de Carlos Sainz e o vice-campeão Charles Leclerc.
Alpine, Alfa Romeo e Aston Martin falharam em algumas ocasiões; e até mesmo Kevin Magnussen, mais rápido do penúltimo dia da rodada de testes no Bahrein, mostrou que havia retornado à Haas para tirar Mick Schumacher da zona de conforto.
Retornando mais ao passado: em 2015, a McLaren não vingou na reedição de sua parceria com a fornecedora de motores Honda e sofreu na pré-temporada, sem chegar a concluir 20% da quilometragem da campeã Mercedes. No fim do ano, o time foi vice-lanterna do Mundial.
Mas nem tudo pode corresponder: foi o caso também da McLaren, mas em 2022. O time até começou bem nos testes em Barcelona no último ano, mas não foi feliz em suas modificações para o Bahrein e decaiu ao longo do ano, terminando na quinta colocação do campeonato de construtores.
Animação mostra o “porpoising”, o Efeito Golfinho, em um carro da Fórmula 1 de 2022 — Foto: Infoesporte
Outro exemplo importante: o porpoising, salto dos carros gerado pelo efeito solo resgatado com o novo regulamento, foi “detectado” nos testes do ano passado. As equipes tiveram pouco tempo para tentar sanar o problema; para algumas, funcionou. Para outras, como a Mercedes…
Que equipes inovaram mais ou menos? Para que servem os dispositivos frutos da criatividade do corpo técnico dos times de maior calibre e que, muitas vezes, forçam a entrada da Federação Internacional do Automobilismo (FIA) na jogada para regular as novas peças? São algumas das perguntas respondidas na pré-temporada da F1.
Nos últimos anos, pode-se destacar a Mercedes e suas inovações: o DAS (Dual Axis Steering, ou Direção de Duplo Eixo), que permitia o alinhamento manual das rodas dianteiras em retas e acabou banido pela FIA.
O time também tentou lançar tendência com o “zeropod”, eliminação quase total do tamanho das saídas de ar laterais do W13, carro de 2022. A novidade não funcionou tão bem, mas foi repensada para o W14, carro deste ano.
É nesse momento, também, que as equipes poderão ainda corrigir as falhas detectadas ao longo das sessões.
Um ponto importante a se observar na pré-temporada de 2023 é a gama de pneus adotada pela F1, que mudará neste ano. A variedade de compostos vai aumentar para seis com a inclusão do C0, a versão mais dura.
O C0 é o C1 do ano passado. O “novo” C1 é uma gama cujas durabilidade e características estarão entre os dos antigos C1 e C2. As equipes possuem liberdade para usar os pneus ao longo dos teste, mas já é possível ter um indicativo segundo os conjuntos obrigatórios para o GP do Bahrein, que abre a temporada: C1, C2 e C3.
Glossário da pré-temporada
Aero rake: nome dado às “grades” presas nos carros em algumas voltas na pré-temporada. Nada a ver com grelhas de churrasco, apesar da grande semelhança. Mas são, de fato, grelhas: elas contém sensores que verificam o fluxo de ar pelos bólidos.
Correlação: é a comparação dos dados obtidos na pré-temporada com os registros feitos pelos engenheiros da equipe nos simuladores – como o túnel de vento e o sistema de Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD) – durante o desenvolvimento dos carros. Quando os números não batem, há sinal de problema, e os times sofrem para tentar localizar onde está o erro.
Flow vis: a tinta verde fluorescente, laranja ou vermelha que aparece em algumas partes dos carros serve para analisar a trajetória que o ar percorre no monoposto. Essa tintura é formada pela mistura de um líquido viscoso transparente com pigmento em pó de tons que se sobressaiam em relação à cor da carenagem.
Essa mistura é pulverizada em pontos chaves do carro, como os aerofólios, assoalho e na própria carenagem.
Hey, @WilliamsRacing… you've got red on you 👀#F1Testing #F1 pic.twitter.com/4c6nE4wNWC
— Formula 1 (@F1) March 12, 2022
Flying lap/volta rápida: quando o objetivo do piloto é anotar a volta mais rápida em torno do traçado, como se fosse uma volta de classificação. Dica para percebê-la: geralmente, são antecedidas de voltas mais lentas, para aquecimento dos pneus.
Glory run: a volta mais rápida dada por um piloto que está intencionalmente com pouco combustível, pneus mais macios e buscando marcar o melhor tempo possível. Não é tão comum hoje em dia, mas nunca se sabe…
Ritmo de corrida: quando os pilotos testam o desempenho do carro simulando o ritmo de uma corrida, não buscando apenas anotar uma volta mais rápida. A dica para diferenciar: quando o piloto a bordo está fazendo voltas consecutivas e consistentes de modo geral.
Sandbag: o que brasileiros conhecem como “esconder o ouro”. Aqui, as equipes enviam seus pilotos com mais combustível e outros pesos ao carro para disfarçar a potência do novo monoposto. Acredita-se que tenha sido a tática usada pela Mercedes em 2019, quando viu a Ferrari se sobressair na pré-temporada mas dominou todo o campeonato no hexa de Hamilton.
A F1 retorna em 5 de março, no GP do Bahrein, quando iniciará a que promete ser a maior temporada da história, com 23 rodadas. Veja o calendário e horários das etapas!