Três dos quatro acusados pela morte do pastor Raimundo de Araújo da Costa, assassinado a tiros em abril de 2021, estão sendo julgados, desde às 8 horas da manhã desta terça-feira (14), por um conselho de sentença formado na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco.
O quarto acusado, preso após quase dois anos de fuga, está na penitenciária estadual e não vai a julgamento agora porque seu caso foi desmembrado do processo inicial.
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A família do pastor, que também era agricultor na Estrada Transacreana, contesta a versão da Polícia Civil e do próprio Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) de que o crime tenha ocorrido durante um “arrastão” de assaltantes na propriedade rural. Na versão da polícia e do MPAC, que denunciou os acusados, o pastor foi assassinado para que a quadrilha roubasse vários objetos. De acordo com a denúncia, os bandidos fizeram pelo menos 25 pessoas reféns na comunidade, enquanto faziam o “arrastão”.
Filhos e outros parentes da vítima disseram ao ContilNet que a morte foi causada por uma briga interna na igreja da qual o pastor fazia parte, a Assembleia de Deus. Na versão de familiares, o pastor anterior da vítima tem uma filha que era casada com um homem ligado a facções e que era traficante de drogas. “Ele vinha traficando drogas dentro da Igreja”, contou um familiar do pastor assassinado. “Quando a comunidade descobriu, exigiu a renúncia do pastor porque ele não vinha dando bom exemplo”, acrescentou o familiar.
Foi a partir daí que Raimundo de Araújo da Costa, que era apenas um ajudante na Igreja mas um homem muito querido pela comunidade, foi convidado a assumir o ministério religioso, atraindo a fúria, principalmente, da filha e do genro do pastor anterior. “Foi a filha desse pastor que armou tudo para matar o Raimundo. O arrastão foi só para despistar a verdadeira causa da morte”, disse uma parente da vítima.
O caso teve outro desdobramento sangrento. Suspeitando da ação da filha do pastor anterior, um filho do pastor assassinado, que morava em Rondônia, veio para o Acre e localizou a mulher no município de Plácido de Castro, onde ela passou a se esconder.
O filho do pastor assassinado tentou matá-la a tiros, para vingar a morte do pai. Vítima de pelo menos três tiros, a mulher sobreviveu e estava em Goiânia fazendo tratamento médico, mas deve vir depor no julgamento de hoje Ela deverá ser acusada de tramar o crime em novos desdobramentos durante o julgamento desta terça. O filho do pastor, que tentou a vingança, está na penitenciária, em Rio Branco.
Entre os acusados no banco de réus estão Hualeson Pereira Cavalcante, vulgo “Ualan”, Raimundo Nonato Nascimento Cavalcante, o “Peteca”, e Gerson Feitosa Ferreira Júnior. Eles respondem pelo crime de homicídio qualificado.
O quarto acusado é Clodoaldo Bruno de Oliveira, vulgo “Bocão”, que foi preso em Feijó, onde vivia escondido após o crime. De acordo com o processo, Clodoaldo Bruno, Hualeson Pereira Cavalcante, Raimundo Nonato Nascimento Cavalcante e um adolescente de 17 anos estavam em um carro conduzido por Gerson Feitosa Ferreira Júnior, quando decidiram matar o pastor.
O júri de Gerson Feitosa Ferreira Júnior chegou a ser marcado em novembro do ano passado, mas após pedido do Ministério Público do Acre (MP-AC), a 1ª Vara do Tribunal do Júri adiou o julgamento dele e remarcou junto com os demais réus para hoje.
O pastor e colono Raimundo de Araújo Costa, de 62 anos, foi assassinado com um tiro ao ter a propriedade invadida na noite de 9 de abril de 2021. Os suspeitos do homicídio fizeram um arrastão e roubaram diversos moradores, para despistar os reais motivos do assassinato, conforme afirma a filha da vítima, Edmasia Rodrigues, de 33anos. “A morte do meu pai foi encomendada”, disse ela durante a preparação para o julgamento, na 1ª Vara do Tribunal do Júri.
O julgamento, pelo número de testemunhas de acusação e defesa, deverá durar no mínimo dois dias. A previsão é que a sentença seja conhecida só quinta-feira.