O servidor brasileiro de League of Legends surgiu em setembro de 2012 e logo no começo já foi conquistando o público com seus campeões e estratégias paras derrubar o nexus inimigo. Rapidamente, diversas organizações apareceram para disputar o primeiro campeonato brasileiro (que mais tarde se tornaria o CBLOL) organizado pela Riot. Dez anos se passaram até a desenvolvedora criar um torneio voltado para equipes femininas. Com o lançamento da Ignis Cup, a paiN, uma das pioneiras do cenário competitivo, montou um quinteto de mulheres, entre elas Luma Victória.
Ao longo desta semana, o ge contará a história de pessoas e empresas que se destacam no universo gamer – e feminino – para celebramos o Dia Internacional das Mulheres. Os holofotes nesta “mini-biografia” estarão em Luma, a pro player multitalentosa – e campeã – de League of Legends da paiN.
O bullying e os primeiros contatos com LOL
Luma não chegou ao competitivo com pouco tempo de experiência. A paulista de 23 anos começou no MOBA da Riot praticamente quando o jogo lançou no Brasil. Na época, o game era fuga para o bullying que sofria na escola.
No começo de 2013, Luma entrou no LoL e conseguiu se desligar da dor psicólogica que passava no ambiente de estudos. Foram diversas tentativas da mãe, Carla, para tentar acabar com a situação, mas as atitudes dos companheiros de classe não pararam.
– Lá pelos 15 anos eu conheci um pessoal que era mais da minha bolha, mais introvertido, que gostava de jogo… a galera “estranha” – entre muitas aspas – e acabei me sentindo mais à vontade na escola – relembrou aliviada.
– Quando eu comecei a entrar nesse ramo de influencer, foi querendo ajudar essa galera que passou ou vai passar pelo que eu passei, porque infelizmente é muito, muito comum. Cria cicatrizes enormes para o resto da vida. Por causa disso, eu tenho que lidar com insegurança e ansiedade social até hoje. É um pouco difícil dizer que vai passar, porque vai passar… uma hora passa. A gente se fortalece – analisou a streamer.
Ambiente em casa despertou a paixão por jogos
Mesmo com um clima pesado na escola, Luma sempre se sentiu muito acolhida em casa, onde cresceu com os pais e os dois irmãos: Lucas, o mais velho, e Luana, a caçula.
– Eu sempre fui muito bem acompanhada do meu irmão mais velho, Lucas. Ele que praticamente me criou. Eu sempre fui muito fã da minha mãe também, mas o meu irmão sempre cuidou muito de mim. Eu acho que assim, 95% do que eu sou hoje, é graças a ele. Ele sempre foi o doidão de jogos, de música, de fazer vídeo, novela, de brincadeira…
Luma com o irmão Lucas e a irmã Luana — Foto: Arquivo Pessoal
Entre as brincadeiras, o videogame sempre fez parte da relação dos irmãos e isso fez com que Luma tivesse o primeiro contato com jogo muito cedo.
– Comecei com uns quatro anos. Eu jogava um jogo chamado Altered Beast, no Mega Drive. Quando a gente era criança, meu pai tinha um emprego bem bom pra época, então meu irmão já podia ter o jogo que quisesse. Ele tinha um Nintendo 64, um Mega Drive, depois pegou o PlayStation 2 e eu fui jogando tudo com ele. Com oito anos eu já estava jogando CS 1.6, e eu estava jogando bem. Conseguia dar bala nos marmanjos, então desde muito pequena eu tenho essa conexão forte com o jogo – lembrou.
Foi a partir de conteúdos criados sozinha ou com o irmão, conhecido pelo canal Lucas Inutilismo, que soma 5 milhões de inscritos no YouTube, que a pro player foi chamando a atenção da paiN, organização que já era fã. Luma já acompanhava o CBLOL, e chegou a frequentar a final de 2015, no Allianz Parque, e testemunhar a vitória da paiN em cima da INTZ por 3 a 0.
Luma entrou na paiN há seis meses — Foto: Arquivo Pessoal
– A gente tem esse relacionamento bem antes de eu entrar, né? Porque eu sabia quem eles eram, e eles sabiam quem eu era …eles sabiam que eu era fanática. Eu também sabia que eu era fanática por eles. Meu irmão também era doido e meu irmão tem bastante visibilidade. Então a gente foi criando conteúdo juntos, a gente fazia muitas brincadeira juntos. O pessoal adorava né? E eu fui começando a crescer nas streams… aí chegou um certo ponto que eles chegaram e falaram “acho que dá para começar um relacionamento sério agora, né?! – contou.
Contato com os próprios talentos
Antes de começar esse relacionamento sério com a paiN, Luma teve experiência com um universo profissional mais “tradicional”. Em 2018, chegou a cursar um semestre de Sistema de Informação e apesar de gostar, sentiu falta de ter contato com seu lado criativo, algo que corre no sangue da família.
Depois, foi para o curso de Design de Animação e nas horas vagas começou a abrir live e jogar para as pessoas que já a acompanhavam. Também chegou a trabalhar enquanto estava na faculdade: primeiro como gândula em uma escola de tênis e mais tarde pôs em prática a animação no CET-SP.
– Era muito legal esse trabalho [de gândula]. Eu aprendi muito sobre tênis só de ficar lá. E ainda tirei um dinheiro. [No CET] Fiquei um ano num setor que era voltado para educação infantil sobre trânsito, então eu fazia muita ilustração, muita animação para as crianças aprenderem a como se comportar andando na rua e tal – contou.
Equipe da paiN que jogou a Ignis Cup 2022 — Foto: Divulgação/Riot
Até que no segundo semestre de 2022, assinou o contrato com a paiN, mas ainda demorou cerca de dois meses para a paulista aparecer em cena oficialmente. Isso porque Luma precisou passar por uma cirurgia ortognática que teve atrasos em exames e alteração de data.
– Eles [a paiN] me deram todo o tempo do mundo, toda paciência do universo…. aí quando começou de fato… bom, quando eu tô muito feliz eu entro em transe. Não tô acostumada com esse tipo de coisa muito grandiosa. A paiN é gigante. Para eu entrar em uma organização que eu idolatrava os caras, parece que eu tô virando um pouco a mesa – explicou.
O resultado veio rápido e logo na primeira edição da Ignis Cup, em novembro de 2022, a paiN foi coroada com o título do campeonato ao derrotar a Raizen por 3 a 0. A Riot já anunciou o retorno do evento, que terá dois splits em 2023 com final presencial na Arena CBLOL, em São Paulo. Conquista enorme para o competitivo feminino e para quem sonha em trabalhar com o jogo.
A paiN foi a campeã da primeira edição da Ignis Cup — Foto: Divulgação/Riot
A pro player chegou a conhecer Felipe “brTT”, astro do LoL e a maior referência da paiN, e se surpreendeu com a simplicidade do ADC. Atualmente, Luma também já sente na pele o que é receber o carinho dos fãs e dos torcedores da organização.
– É engraçado porque eu penso: o que jeito que eu fico com o brTT, por exemplo, as pessoas ficam comigo. Eu fico: “a gente é tudo igual, vamos se abraçar, conversar”. Acho que a paiN tem a torcida mais carinhosa do cenário. Os caras mandam mensagem no privado, mandam bolo, vão te apoiar independente… você pode tá no fundo da lama, tendo o pior jogo, que os caras vão tá lá gritando por você – celebrou.
Além de ter a experiência como designer de animação, streamer, e pro player (em duas posições: topo e jungle), Luma também curte dublagem e teatro.
– Eu fiz teatro por duas semanas para ver se eu conseguia superar essa vergonha. Quero voltar. Amo dublagem também. Se eu tivesse tempo para investir, com certeza eu investiria. Eu adoro brincar com voz, interpretar personagem… eu tenho essa paixão enterrada por filme, teatro e dublagem – relatou.
Inspirações
Luma não disfarça o orgulho que tem da mãe Carla por ter criado um ambiente de aceitação e acolhimento em casa.
– Minha mãe sempre foi minha maior figura feminina. […] Ela sempre respeitou muito o nosso tempo, sempre protegeu muito a gente. Acho que ela confia que a gente sabe o que é melhor para a gente – explicou
Monica “Riyuuka”, ex-streamer da paiN, também é lembrada como grande inspiração para a jogadora. Para Luma, Riyuuka também tem um dedinho na contratação da paiN. Riyuuka tem um projeto de stream voltado para o público feminino, que ajudou muito a paulista.
– Se tem algo que me foi ensinando nesse meio gamer, é que eu me odiei por ser mulher por muito tempo porque esse pessoal aleatório que a gente encontra no cenário fazem a nossa cabeça, fazem a gente sentir inútil, acham que gênero define alguma coisa, sendo que não define nada. O cenário feminino tá cada dia mais forte, criando mais visibilidade. Fico muito feliz que tem orgs como a paiN mostrando que tem garra para lutar contra isso – desabafou.
– Independente do trabalho que eu tivesse, eu gostaria de incentivar as pessoas a serem quem elas são Um dos maiores freios na minha vida foi eu ter medo de ser quem eu sou. E eu tive sorte, muita sorte de ter meu irmão do meu lado que me ajudou muito nisso. Então eu quero ser essa pessoa para outras pessoas, Eu quero incentivar elas serem que elas são e irem atrás do que elas realmente querem e de não ter vergonha de ser mulher – concluiu.