A grande final do VCT LOCK//IN em São Paulo no último sábado coroou a fnatic com o título em cima da LOUD e, claro, os olhos do público estavam voltados para os 32 times que buscavam o troféu neste evento internacional. Na transimissão três mulheres, em um universo predominantemente masculino, brilharam: entre elas Maah Lopez, que agitou o público no Ginásio do Ibirapuera ao longo de quase três semanas de campeonato.
Foi pensando em mulheres como a Maah, que o ge resolveu contar a história de pessoas e empresas que se destacam no universo gamer – e feminino- nesta semana em que celebramos o Dia Internacional das Mulheres.
Maah já é figura conhecida no cenário de Free Fire e Valorant, mas antes de chegar na atual posição não fazia nem ideia que games poderia trazer um rendimento.
– Em maio de 2019, o Facebook me chamou para eu fazer parte da plataforma como uma pessoa contratada. Pra mim foi uma grande supresa porque eu não sabia que a galera ganhava dinheiro para streamer. Eu fazia porque eu precisava ter essa interação com o público – revelou.
A interação começou durante uma das fases mais dificeis da vida da streamer, quando enfrentou uma depressão. Antes de chegarmos na virada de chave, apresentamos Maura Gabriela, a mineira de 26 anos que é apaixonada por games.
Infância e o contato com os games
Maah, ou Maura, é a caçula de três irmãos e a que mais deu trabalho, segundo ela. A mãe Rosângela, foi mãe solo e trabalhou para cuidar dos filhos em Belo Horizonte, onde a apresentadora nasceu e viveu ao longo da infância e adolescência.
Como o sustento da casa dependia da mãe, dona Rosângela ficava muito tempo fora de casa trabalhando. Maah acabou sendo supervisionada pelos irmãos.
– Ficava o tempo na rua, soltando pipa, jogando bola, bolinha de gude, andando de bicicleta… -lembrou.
Foi também aos oito anos que descobriu LAN houses e fliperamas e começou a “investir” a mesada em jogos. Por gostar desde cedo dessa área, sonhou em fazer ciência da computação, mas dividia o apreço também por direito e medicina. No fim, acabou entrando em um curso relacionado à ortopedia e se especializou em imobilizações ortopédicas.
– Formei para ver se era aquilo que queria, mas formei por pura pressão. Não gostei. Era terrível para mim. Gostei até certo momento, depois comecei a não enxergar com bons olhos. Falei “Não vou ter estômago para trabalhar com algumas coisas” – contou a mineira.
Tinha planos para voltar a trilhar o caminho na computação e a vida com jogos, mas acabou trabalhando em eventos, casou, se mudou para o Rio de Janeiro e isso acabou postergando um pouco mais os planos.
A depressão e o autoconhecimento
A apresentadora passou por esse processo de autoconhecimento, como ela própria refere, quando tinha 21 anos e para ocupar a mente e desligar do que estava passando, Maah recorreu aos jogos, que foi onde encontrou felicidade para superar aquele momento.
– Decidi abrir live para simplesmente conhecer outras pessoas e ter contato com novo jogos – contou.
Mas foi apenas em 2018 que as lives se tornaram frequentes no Facebook, mas com uma observação: sem mostrar o rosto.
– Eu nunca tinha visto ninguém que, de certa forma, me representasse ali, como mulher preta. Me vejo totalmente fora do padrão do que normalmente é. Pra mim aquilo era uma grande preocupação. Tinha medo de como a galera ia me recepcionar: se iriam me tratar diferente ou não, se iria sofrer algum tipo de preconceito ou não…
Seis meses depois, a plataforma fez o convite para entrar como streamer deles e uma das claúsulas do contrato era mostrar o rosto.
O trabalho com os games e preconceito sofrido
Foi um convite do Alok que abriu as portas no Free Fire. Maah foi apresentadora da primeira edição do GameChanger, em 2020. A partir daí, Maah despertou a atenção da Garena e de outros profissionais do cenário. Apesar do crescimento e das oportunidades, trilhar o caminho não foi tão fácil.
– Os vários pontos baixos que eu tive durante esse processo até aqui, foi porque eu tive muitos problemas de preconceito por ser uma pessoa preta nesse cenário. Eu sou uma mulher que gosta de sentir orgulho daquilo que sou, daquilo que represento, das pessoas que inspiro, e parte desse orgulho é não demonstrar medo ou receio daquilo que você é.
Quando entrou como caster da Garena, em 2020, foi a primeira mullher preta LGBTQIA+ e um campeonato oficial de esportes eletrônicos. Apesar do crescimento no Free Fire, Maah descreve o ambiente como “muito hostil” e ainda assim permaneceu naquele cenário até dezembro de 2021.
– Sou adepta do candomblé, sou uma mulher, preta, LGBT…sempre prezei muito por respeito justamente por entender que era necessário. É muito comum a gente ver mulher no cenário levando hate por simplesmente ser mulher e pra mim, sempre sofri preconceito por ser preta, nunca me pegou o fato de ser LGBT ou mulher, era por ser preta. Era muito preconceito. Ouvia na transmissão, ao vivo… isso me pegava muito. Eu vinha de um processo longo de uma depressão muito forte, meu psicológico não era dos melhores e ainda precisei lidar com agressões verbais e preconceito – lembrou.
Reconhecimento
No The Game Awards 2022, considerado como o Oscar dos esportes eletrônicos, Maah entrou na relação do “Future Class”, que é uma seleção feita pela organização da premiação que homenageia 50 pessoas do universo gamer ao redor do mundo que tem um perfil “ousado, brilhante e inclusivo no futuro dos games”.
E apesar do reconhecimento internacional e dos fãs no Brasil, a maior vibração para o sucesso de Maah vem da casa dela.
– Minha mãe é minha maior fã. Todas as transmissões que eu faço, todos trabalho que faço, ela é sempre a pessoa que me manda mensagem falando “Tô te vendo! Tô te assistindo! Você tava linda! Tava incrível!” É uma pessoa que se sente muito realizada com as coisas que eu conquistei e com os lugares que cheguei até o momento – contou a apresentadora.
A mineira foi para o Valorant no começo de 2022, ambiente que a recebeu de forma muito acolhedora, mas foi apenas do LOCK//IN que fincou seu nome. Foi no torneio da Riot que Maah se apresentou para uma torcida pela primeira vez… diante de cerca de 10 mil pessoas (número não-oficial).
– Não consigo me ver como referência, embora eu entenda a responsabilidade que eu tenho. Sucesso é consequência. Fico preocupada com excesso de fama, excesso de sucesso… Só me vejo como mais uma pessoa que agarrou as oportunidades que teve – concluiu.