Herdeira legítima dos ideais e do legado do pai nas lutas pela preservação ambiental, a ativista Angela Mendes, de 52 anos, coordenadora do Comitê Chico Mendes, criado em homenagem a seu pai, assassinado em 1988, em Xapuri, deverá ser candidata a prefeita do município pelo PT no ano que vem, quando ocorrerá novas eleições municipais.
O assunto ainda não é tratado politicamente nem mesmo por ela, mas seus amigos vêm comentando seu nome nas redes sociais como pessoa capaz de manter Xapuri, onde nasceu e morreu Chico Mendes, o maior símbolo do PT na questão ambiental, sob a administração do petismo, já que o prefeito atual, Bira Vasconcelos, depois de dois mandatos, não poderá mais ser candidato a prefeito.
“Quem vai dizer se ela é candidata ou não é o diretório do PT, em Xapuri. Mas eu, particularmente, acho que é um excelente nome, porque competência, causa e compromisso ela tem”, disse em Rio Branco, nesta quarta-feira (29), o presidente do diretório regional do PT no Acre, Cesário Campelo Braga.
Angela Mendes, nascida em 1971, é filha do primeiro casamento de Chico Mendes. Em 1988, tinha 17 anos quando o pai foi assassinado com um tiro de espingarda no peito, na noite de 22 de dezembro de 1988. Na época, já no segundo casamento com Ilzamar Gadelha Mendes, Chico Mendes tinha outros dois filhos, Sandino e Elenira, então com dois e quatro anos de idade, respectivamente.
Ilzamar e Elenira criaram a ONG Instituto Chico Mendes, com o intuito de desenvolver projetos sócio-ambientais no Acre, mas acabaram se distanciando do petismo e das lutas do próprio Chico Mendes ao ponto de deixarem Angela como uma única referência como herdeira dos ideais do sindicalista.
Em todos esses anos, num país em que pessoas como Chico Mendes são contestados e têm até sua memória atacada, como ocorreu nos últimos quatro anos, sob o governo de Jair Bolsonaro, a ativista foi incansável nas lutas pela memória do líder seringueiro e para dar continuidade ao seu legado.
Um mandato de prefeita na cidade que foi o lugar de onde os ideais de Chico Mendes partiram para alcançar o muito inteiro, se revestiria de muito simbolismo, admitem os antigos companheiros de Chico Mendes.
Uma eleição de uma filha e herdeira dos ideais de Chico, também seria simbólica porque, ainda que fosse conhecido inclusive no exterior, Chico Mendes, em Xapuri, nunca foi um político bom de voto. O único mandato que ele obteve foi o de vereador, nas eleições de 1978, ainda pelo MDB, já que o PT ainda não existia. Em 1986, já conhecido internacionalmente, fez dobradinha com a então professora Marina Silva, candidata a deputada federal constituinte pelo PT, e buscou um mandato de deputado na Assembleia Legislativa, mas não obteve sucesso.
Angela Mendes tem sido muito ativa também nas redes sociais, as quais ela entende como instrumentos fundamentais e capazes de resistência e convergência de lutas. Ela diz que são os “empates do século 21”, em referência às mobilizações de seringueiros no Acre lideradas por seu pai.
Em seguidas entrevistas e declarações sobre o legado de seu pai, ela reflete sobre causas e soluções para minimizar os conflitos e crimes por posse de terra, que colocam o Brasil no quarto lugar do ranking dos países que mais matam ativistas ambientais. Foi aos 17 anos que Angela Mendes passou a conviver mais de perto com seu pai. Ela vivia com a mãe, num seringal afastado do local de onde Chico Mendes morava. Nas pequenas viagens que ele fazia por Xapuri e região, e ela acompanhava, lembra-se da tensão e do cuidado de integrantes do Sindicato Rural de Xapuri em escondê-lo no carro para impedir possíveis ataques. Ao cabo de poucos meses, Chico Mendes foi assassinado.
Hoje, ela dá continuidade ao legado do pai por meio do Comitê Chico Mendes e entende que encampar a causa da Amazônia é mais do que militar só pelos povos da floresta.
“Sigo acreditando no que dizia meu pai: no começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”, disse ela em recente entrevista a um site de notícias da área ambiental.
“O Comitê Chico Mendes nasceu na noite do assassinato do meu pai como uma estratégia de mobilização da sociedade para pressionar o governo a investigar e punir os assassinos. Naquela época, o cenário de impunidade era muito parecido com o que temos hoje. Dois anos depois da morte dele, mandante e assassino – que sabemos serem bodes expiatórios, porque as cabeças pensantes nunca foram sequer incomodadas – foram presos”, diz.
Sobre uma possível candidatura à Prefeitura de seu município, ela ainda não fala, mas é visível que já se movimenta neste sentido. O PT de Xapuri deve apoiar sua provável candidatura.