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‘Fui moeda de troca’: ela descobriu grupo do ex-noivo expondo seus nudes

Por UOL

Ketlen descobriu os grupos em outubro de 2022 - Imagem: Arquivo pessoal e Reprodução

A empresária Ketlen Rodrigues, 21, foi vítima de uma exposição virtual por parte do ex-noivo. Enquanto eles ainda namoravam, o homem divulgava conteúdos íntimos dela em grupos no WhatsApp com outros homens. Em troca, outros participantes desses grupos mostravam vídeos de suas companheiras.

Segundo a jovem, a maior parte das publicações era feita às escondidas. O relacionamento de Ketlen acabou, mas a jovem gaúcha decidiu relatar nas redes sociais a exposição que sofreu para alertar outras mulheres.

Ela preferiu não divulgar o nome do ex-noivo e conseguiu uma medida protetiva contra ele. A Universa, Ketlen conta sua história.

‘Já começamos com brigas’

“Conheci meu ex-noivo em um aplicativo de relacionamentos. Conversamos por três meses, ficamos por alguns dias e ele já me pediu em namoro. Foi tudo muito rápido.

Às vezes, as mulheres querem tanto um marido, querem tanto alguém, que esquecem o mais importante: com quem estão se relacionando.

No início, a pessoa está sempre querendo agradar. Mesmo assim, já começamos com brigas e tínhamos bastantes discussões. Ele me tratava com grosseria, sempre foi muito frio.

Moramos juntos por 2 anos e namoramos por 4. Ele era meu companheiro, mas, embora nunca tenha me batido nem levantado a mão para mim, ele não me colocava como prioridade, me desrespeitava.

Em termos de abuso psicológico, eu estava esgotada. E isso me fazia muito mal

‘Vi grupos lotados de homens’

A gente já tinha terminado, mas ainda estávamos morando juntos até arranjarmos outro lugar para morar.

Um dia, o computador [de uso comum] estava logado no WhatsApp Web dele e eu quis ver o que tinha ali, porque ele sempre foi um cara muito nervoso com o celular. Eu não podia pegar nem para tirar foto…

Ketlen - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Ketlen resolveu contar a história nas redes sociais para alertar outras mulheres – Imagem: Arquivo pessoal

Então, eu abri para tirar uma dúvida que eu já tinha. E me deparei com diversos grupos lotados de homens. Os nomes dos grupos eram ‘mostre sua puta’, ‘corninhos’ [os homens trocavam vídeos íntimos de suas companheiras].

O único que tinha mulher era um que dizia ‘novinhas’. Nesse, era outro intuito: vender fotos de mulheres, que ele também comprava.

Vi uma palavra que era ‘comedouro’ ou algo assim, bem estranha, no WhatsApp. Cliquei e não precisei rodar muito para achar vídeos meus.

Acho que parte do fetiche era o fato de as meninas [namoradas] não saberem que estavam lá. Guardei tudo por uns 3 dias, mas acabei falando com ele. Ele negou. Quando mostrei os prints, ficou em choque, acho que ele nunca imaginava que eu descobriria.

Me senti usada, enganada. Minha autoestima foi no chão

Ele estava procurando vídeos de mulheres ‘gordinhas’. Eu tenho muita dificuldade em ganhar peso e ele já me ofendeu por causa disso.

Confiava muito nele e os vídeos [íntimos, em que ela aparecia] eram apenas para ele guardar. Jamais imaginei que ele poderia publicar em algum lugar.

Ele me usou como moeda de troca para conseguir vídeos de outras meninas sem se preocupar nem um pouco com o que eu estaria sentindo

Eu o questionei: dedicar seu tempo a isso é mais importante do que se dedicar a mim? Porque eu trabalhava bastante e quando a gente estava junto, ele ficava separado, em outro cômodo. Ele sempre me evitava.

Cheguei a perguntar se os grupos eram melhores do que eu e em certo momento ele chegou a concordar.

‘Tive danos psicológicos’

O que mais me motivou a publicar os prints [nas redes sociais, mostrando os grupos de que o noivo participava] foi eu ser uma mulher feminista, que sempre incentiva outras mulheres a falarem, não ficarem quietas, se defenderem.

Eu tinha arquivado os prints e deixado em uma pasta segura no celular. Estava tocando a vida, fingindo que nada aconteceu. Mas aconteceu, sim. E isso me causou diversos danos psicológicos: um deles são as crises que eu tenho do nada. Também não consigo mais confiar em ninguém depois disso.”

Publicação nas redes

O relato de Ketlen sobre o caso nas redes foi publicado em 15 de março e o conteúdo alcançou 8,2 milhões de visualizações e cerca de 10 mil comentários.

De acordo com Keltlen, depois do post, diversas mulheres comentaram com ela que se depararam com grupos desse tipo e que, na maior parte das vezes, os vídeos eram expostos sem que elas soubessem.

Expor vídeos íntimos sem consentimento é crime. De acordo com o artigo 218C do código penal, de 2018, oferecer, trocar, transmitir, vender distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio — inclusive pela internet — fotografias, vídeos ou outro registro audiovisual que contenha pornografia ou nudez sem conhecimento da vítima é um comportamento criminoso.

Em caso de violência contra a mulher, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 180 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

É possível realizar denúncias pelo número 180 — a Central de Atendimento à Mulher, que funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 99656-5008.

A denúncia também pode ser feita pelo Disque 100, que apura violações aos direitos humanos. Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e a página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.

Caso esteja se sentindo em risco, a vítima pode solicitar uma medida protetiva de urgência.

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