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Há 40 anos, Acre se preparava para posse de Nabor Júnior e chorava por morte de Guiomard Santos

Por Tião Maia, ContilNet

Guiomard Satos e João Gulart no dia da promulgação da lei que elevou o Acre à condição de Estado/Foto: Reprodução

Estava tudo pronto para as festas de comemorações em torno da posse de Nabor Júnior no Governo do Estado naquele 15 de março de 1983, depois de 20 anos sem eleições para governador por causa da ditadura militar. Seria um acontecimento e tanto na noite daquela terça-feira, com direito a um banquete seguido de baile no Círculo Militar, em Rio Branco. 

Homens com seus ternos comprados às vésperas e outros cheirando a guardado e suas mulheres de cabelos e unhas bem feitas depois de horas e dias em salões de beleza, tudo teve que ser desfeito de repente: no início daquela noite festiva chegara a notícia de que o homem responsável direto pela elevação do Território do Acre à condição de Estado, o então senador José Guiomard Santos, havia falecido momentos antes, aos 73 anos de idade, no exercício do mandato, o que deixava os acreanos em luto.

ALTINO MACHADO: Nabor Júnior, ex-governador do Acre

Nabor Júnior, ex-governador do Acre/Foto: Altino Machado

Sua morte coincidiu com a data da posse do então governador Nabor Júnior e encerrava um longo ciclo de governos, tanto no território como no Estado, cuja escola política – a qual hoje governa o Acre –  foi criada pelo general e político ao qual se atribui a condição de pai do Acre na condição de Estado.

Afinal, foi ele o principal articulador do movimento autonomista que elevou o então território do Acre à condição de Estado-membro da Federação brasileira, em 15 de junho de 1962, além de ser o criador da escola política que governou o Acre por mais de sete décadas, com alguns intervalos, como a posse de Nabor Júnior, e os 20 anos da Frente Popular do Acre.

Se bem que, em relação aos governos da Frente Popular, quatro mandatos dos irmãos Jorge e Tião Viana, não se pode dizer, com segurança, que eles fizeram administrações diferentes daquilo que pensava Guiomard Santos. É que os dois irmãos Vianas são filhos do ex-deputado Wildy Viana e sobrinhos do ex-governador Joaquim Macedo, os quais, durante toda a vida política de ambos, rezaram pela cartilha de Guiomard, como membros do partido do velho general e cacique da política local – a UDN, depois PSD, Arena, depois PDS, PPB e agora PP, que está no poder sob a liderança do governador Gladson Cameli.

O velho cacique morreu no início da noite de 15 de março de 1983, no exato momento em que os membros do primeiro escalão do Governo Nabor Júnior, que havia tomado posse na manhã daquele dia, se preparavam para o baile em comemoração ao fato na sede do Círculo Militar, em Rio Branco. 

O então governador Nabor Júnior, em respeito ao luto pelo general e ex-governador do território, ex-deputado federal e depois senador, mandou cancelar a festa.

Guiomard dos Santos nasceu no distrito de Santo Antônio do Monte, município de Perdigão, em Minas Gerais, em 23 de março de 1907, e morreu no Rio de Janeiro, naquele 15 de março de 1983. Antes de abraçar a política, foi militar. Ainda jovem se mudou para a cidade mineira de Barbacena, onde ingressaria na escola militar; mais tarde, iria para o estado do Rio de Janeiro e passaria por instituições como a Escola Militar do Realengo, onde ingressou em 1925, a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Escola Técnica do Exército e Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializando-se em astronomia e geodésia.

Colonos e seringueiros com o governador Guiomard Santos Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas

Posto a serviço do Ministério das Relações Exteriores entre 1934 e 1938, foi subchefe da comissão que estabeleceu os limites geográficos entre Brasil, Paraguai e Venezuela. Quando de sua chegada em terras fluminenses integrou o Clube Militar, o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e a Sociedade Brasileira de Geografia. Nesse período firmou uma amizade com San Tiago Dantas e integrou a Ação Integralista Brasileira e se manteve sempre fiel aos princípios integralistas mesmo depois da decretação do Estado Novo. Antes de ingressar na política foi colaborador do Correio Braziliense, dentre outros jornais. Escreveu também alguns livros, como Cinquentenário do Tratado de Petrópolis, Mensagem do Acre e Territórios Federais, Grandezas e Misérias. Chegou a ser membro da Academia Acreana de Letras.

Articulista nas escolas militares onde serviu, foi procurador do Território de Ponta Porã, no Mato Grosso, antes de se filiar ao PSD. Durante a presidência de Eurico Gaspar Dutra, foi nomeado governador do Território Federal do Acre. Renunciou ao cargo para entrar na política, elegendo-se deputado federal em 1950, 1954 e 1958, período em que cimentou sua liderança política como antagonista de Oscar Passos e seus correligionários do PTB. Em sua passagem pela Câmara dos Deputados apresentou o projeto de lei elevando o Acre de território federal a Estado, medida concretizada em 1962, durante a presidência de João Goulart no curto período em que o país viveu sob um regime presidencialista e parlamentarista, cujo primeiro-ministro era Tancredo Neves.

Em 1962, com o Estado podendo eleger governador e senadores, ele se candidatou aos dois cargos, uma licenciosidade da lei na época. Para governador, perdeu para o jovem professor José Augusto de Araújo, mas foi eleito senador. Eleito senador em 1962 e partidário da queda de João Goulart em 1964, foi reeleito pela Arena em 1970 e indicado senador biônico em 1978. Com a reforma partidária seguiu para o PDS falecendo em pleno exercício do mandato vítima de broncopneumonia. Em seu lugar assumiu o suplente Altevir Leal.

Após sua morte, a vila que daria origem ao Quinari, base política do José Guiomard, foi rebatizado com o nome de Senador Guiomard. O general e político tem descendentes no Acre, como o administrador Lauro Santos, atual  integrante do Governo do Estado.

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