A recente internação hospitalar de Rita Lee, 75 anos, surpreendeu fãs da cantora, que, no ano passado, haviam se aliviado com a notícia sobre a remissão do câncer de pulmão diagnosticado em 2021. Desde a última sexta-feira (24), ela está no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, que não divulga informações sobre o estado de saúde da artista.
O episódio motivou, outra vez, uma discussão comum que provoca dúvida no público leigo, gerando confusão: remissão, para muitos, dá a ideia de cura, mas não se trata disso. Em resumo, em oncologia, remissão significa que o câncer respondeu ao tratamento, mas se evita falar em cura. Não há detalhes sobre as condutas a que a cantora vem sendo submetida.
Roberto de Carvalho, marido de Rita, atualiza o quadro da companheira pelas redes sociais: “Está bem, se fortalecendo, se recuperando. Sabe-se que sempre existirão exames de monitoramento e terapias a serem realizados, uma vez que se tem que lidar com a doença e os efeitos colaterais dos tratamentos”, escreveu o músico em seu perfil do Instagram, agradecendo o “tsunami de amor, carinho e positividade”, após a hospitalização.
De acordo com definição estabelecida pelo Ministério da Saúde, câncer em remissão é aquele em que há “diminuição ou desaparecimento de sinais ou sintomas, comumente após a realização do tratamento proposto”.
Ana Gelatti, médica oncologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e do Grupo Oncoclínicas, comenta, em primeiro lugar, que especialistas da área “não gostam” de falar em cura porque o termo pode criar uma expectativa equivocada em pacientes e familiares. Remissão, por sua vez, é outra coisa.
— Remissão é a situação em que o câncer respondeu ao tratamento, não está em atividade. Não se veem mais alterações nos exames de imagem. É como se as células cancerígenas tivessem sumido — explica Ana. — Está relacionada a uma chance muito maior de o câncer não retornar, mas não garante que não possa recidivar. Remissão é o momento em que se alcançou uma resposta ótima do tratamento — acrescenta.
Remissão total e remissão parcial
A remissão pode ser de dois tipos: total ou parcial. No primeiro caso, as lesões somem por completo, situação que pode se manter por muitos anos, segundo a médica. Com o acompanhamento a longo prazo, de pelo menos cinco anos, é possível chegar ao momento, inclusive, de dizer que o paciente está curado. Em relação à remissão parcial, trata-se de um meio-termo.
— As lesões se reduziram, mas não sumiram. O câncer está controlado, mas ainda se enxergam alterações nos exames de imagem. Significa que tem que continuar o tratamento. Algumas vezes, os tratamentos têm período fixo, período máximo de uso. Então, retoma-se quando a doença volta a aumentar — observa Ana.
Ter remissão completa do câncer não é garantia de passar anos sem a doença. Ocorre em alguns casos. Essa imprevisibilidade justifica a manutenção do acompanhamento.
— O tempo que a remissão vai durar é uma incógnita. Se for remissão completa, a expectativa é de que dure muito, mas não existe preditor de tempo — diz a oncologista.
Não existe uma remissão “equivocada”, esclarece Ana, como talvez possa se pensar para o caso de Rita Lee — como se as boas notícias de 2022 tivessem sido um engano, um erro de avaliação dos médicos. O que pode acontecer é uma progressão mais rápida, que talvez seja a situação enfrentada pela cantora paulistana.
A remissão costuma ocorrer mais nos quadros de câncer de mama, pulmão, cólon e rim — são os que têm resultados mais promissores ao tratamento, ou seja, remissão completa. Remissão parcial, segundo Ana, não deve ser encarada como fracasso:
— Digo para os pacientes que, só por ter reduzido ou não terem aparecido novas lesões, já é uma resposta muito boa.
Fatores como idade avançada, presença de outras doenças e tabagismo pioram as condições de resposta ao tratamento.
Progressão, remissão e estabilidade
- Câncer em progressão: câncer que mantém características de atividade proliferativa, independentemente de o paciente estar em tratamento ou não
- Câncer em remissão: diminuição ou desaparecimento de sinais ou sintomas de um câncer, comumente após a realização do tratamento proposto. Na remissão parcial, somente alguns sinais e sintomas do câncer desaparecem. Na remissão completa, todos os sinais e sintomas desaparecem, embora alguma lesão ainda possa permanecer no organismo, e o paciente não possa ser considerado curado. Em casos raros, a remissão pode ser espontânea, sem que se tenha realizado qualquer tratamento
- Câncer estável: apesar do tratamento, não progrediu nem regrediu
Fonte: Glossário Temático Controle de Câncer — Projeto de Terminologia da Saúde, do Ministério da Saúde