Bacharel em administração de empresas e pós-graduada em administração, negócios e marketing e em liderança, inovação e gestão, aos 45 anos Tarciana Paula Gomes Medeiros é a primeira mulher a comandar o Banco do Brasil. Natural de Campina Grande, na Paraíba, onde, na adolescência, trabalhou como feirante e depois ingressou no magistério, antes de ser aprovada em concurso da instituição, Tarciana tem trajetória de destaque no BB, liderando projetos de prospecção e automação de convênios para concessão de crédito, além de criar estratégias para o agronegócio.
Em entrevista exclusiva ao caderno Trabalho&Formação do Correio, ela fala sobre sua trajetória e sobre os desafios a serem enfrentados nos próximos quatro anos. “A missão que assumo é extremamente relevante e desafiadora. E a melhor forma de honrar isso é assumindo o compromisso de continuar a entregar resultados sustentáveis para os nossos acionistas e ser relevante na vida das pessoas, em todos os momentos, contribuindo para o desenvolvimento do Brasil”, diz.
Segundo ela, a ordem é apoiar o empreendedorismo feminino para as micro e pequenas empreendedoras e mulheres do campo.
A mulher ainda ocupa pouco espaço no protagonismo de empresas e também na política. Na sua opinião, como será possível ampliar esse avanço, o que é preciso para que elas sejam devidamente reconhecidas e respeitadas?
Quando as pessoas me cumprimentam, dizendo “oi, Tarci, tudo bem?”, costumo responder “o que não está bem, vai ficar”. Acredito que é justamente isso. Temos que reconhecer os problemas, mas focar nas soluções. E é isso que estamos fazendo. Vou falar sobre o Banco do Brasil como exemplo.
Pela primeira vez, em 214 anos de história, o Banco do Brasil é presidido por uma mulher. E, pela primeira vez, temos quatro mulheres no Conselho Diretor: eu e minhas três colegas, Ana Cristina Garcia, vice-presidente Corporativo; Carla Nesi, vice-presidente de Negócios de Varejo, e Marisa Reghini, vice-presidente de Negócios Digitais e Tecnologia.
Acredito que o exemplo arrasta. Uma das formas de ampliar e valorizar a participação feminina na nossa sociedade é exatamente liderar pelo exemplo. E acredito que estamos num bom caminho. Claro, o primeiro passo é o reconhecimento de que é necessário olhar para as barreiras às vezes invisíveis sobre essa questão.
Como você enfrentou essas barreiras invisíveis?
Falo aqui dos vieses inconscientes, com um olhar de preconceito que às vezes afeta a todos. E por isso é tão importante ter a diversidade em debate, para que o diálogo ajude a quebrar preconceitos e abrir horizontes sobre este assunto.
Por exemplo, minha essência profissional passa por ter tido a oportunidade de crescimento e aprendizagem com tantos colegas aqui no Banco do Brasil, que foram mentoras e mentores na minha carreira. A missão que assumo, ao ser a primeira mulher a presidir o BB, é extremamente relevante e desafiadora. Tenho plena consciência disso. E a melhor forma de honrar isso é assumindo o compromisso de continuar a entregar resultados sustentáveis para os nossos acionistas e ser relevante na vida das pessoas, em todos os momentos, contribuindo para o desenvolvimento do Brasil.
Somos a primeira instituição bancária do país e, ao longo de nossa história, participamos ativamente do desenvolvimento econômico e social do Brasil. Nosso objetivo é trabalhar para que os cargos de gestão do BB possam ser ocupados por pessoas que refletem e representam melhor a realidade social do Brasil.
Queremos ter cada vez mais diversidade nos cargos de gestão. O próprio Banco do Brasil reflete muito do nosso país e ele é muito diverso”
A presença e ascensão feminina no BB, de acordo com a própria instituição, foram construídas ao longo dos anos e com constantes quebras de paradigmas em favor das mulheres. Como primeira mulher a presidir a instituição, o que pretende fazer para ampliar e valorizar a participação delas na instituição?
No BB, a equiparação salarial já existe. Somos uma empresa de vanguarda e que é exemplo em diversas ações de gestão de pessoas. Isso, pra nós, é o básico e já fazemos há décadas. O que buscamos é uma equidade de condições para que as mulheres possam superar vieses inconscientes, por exemplo, para que possam impulsionar suas carreiras. Queremos ter cada vez mais diversidade nos cargos de gestão.
O próprio Banco do Brasil reflete muito do nosso país e ele é muito diverso, feito por pessoas com muita qualidade técnica e com diversidade em experiências de vida. Isso traz uma riqueza que faz com que a instituição seja pioneira, referência em diversas áreas, já que é essa diversidade que nos impulsiona a desenvolver soluções inovadoras para atender a sociedade.
Temos quebrado paradigmas diariamente e conquistado muito, mas sabemos que há muito que avançar.
E a questão da diversidade, da pluralidade, como será tratada em sua gestão?
Reconhecemos que o tema da diversidade ainda precisa evoluir tanto na sociedade como na estrutura da organização. Este é o primeiro passo: o reconhecimento. Aqui, no BB, esse avanço será feito com base em muito diálogo, escuta ativa e entendimento da realidade de cada segmento do corpo funcional. E não vamos ficar apenas no aspecto simbólico da minha nomeação.
Estamos construindo um diagnóstico preciso, estruturado. E já temos adotado medidas concretas para diversificar, ainda mais, os times e as lideranças. Nomeamos, pela primeira vez na história do BB, três vice-presidentes mulheres. Isso é muito emblemático e é uma das formas de irmos liderando pelo exemplo e enriquecendo o debate de ideias, a proposição de soluções e a tomada de decisões.
Vamos escalar esses movimentos de valorização da diversidade, já que ela gera resultados ainda mais eficientes e sustentáveis. O Banco do Brasil vai vivenciar a diversidade plena, na prática!
Você iniciou sua vida profissional como feirante e foi professora no interior da Paraíba antes de ingressar no Banco do Brasil. Foi um período difícil? O que mais a marcou naquela época e em sua trajetória até chegar à presidência do BB?
Sou mulher nordestina, paraibana, mãe. Quando fui indicada para ser a primeira presidenta do BB voltei exatamente para as minhas raízes, aquilo que me forma como pessoa e como profissional. E, agora, presidenta do BB.
A primeira coisa que fiz foi ligar pra ‘Mainha’ e ‘Titia’. Ainda estava no saguão do hotel, onde foi feito o anúncio da minha indicação. Liguei para dizer a elas o quanto foram e são importantes na minha vida. No evento da minha posse, por exemplo, em 16 de janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil, aqui em Brasília, também fiz questão de agradecer o apoio da minha família. Foi com ela que aprendi que sem educação não somos nada e que estudar tem poder libertador.
Desde os tempos de feirante, Mainha me ensinou a não ter vergonha de trabalhar, que qualquer trabalho é nobre. E minha titia me ensinou a ter uma consciência cidadã, que ajudasse a quebrar padrões, sem nunca deixarmos de lado nossas raízes, nossos valores éticos.
Uma das formas de ampliar e valorizar a participação feminina na nossa sociedade é exatamente liderar pelo exemplo. E acredito que estamos num bom caminho. O primeiro passo é o reconhecimento de que é necessário olhar para as barreiras às vezes invisíveis sobre essa questão.”
Quais foram os principais desafios que você enfrentou?
Os desafios sempre foram grandes, mas sempre busquei jogar foco muito maior em meus anseios, sempre fui de olhar muito mais para as soluções do que ficar lamentando sobre os problemas. Não estou, com isso, romantizando as dificuldades, mas exaltando uma forma de viver a vida, já que é a gente que pode fazer algo por nós mesmos.
Ainda que não seja necessário estar sozinha nessa caminhada, mas pelo contrário: valorizo muito minha família, meus amigos e cada profissional que atuou ao meu lado como verdadeiros professores. Da mesma forma, agradeço também aos 85 mil colegas, funcionários do BB, pelo acolhimento carinhoso com que receberam a minha indicação. Eu me sinto extremamente honrada pela oportunidade de liderar esse time, como funcionária de carreira que sou, e sabendo que podemos gerar resultados sustentáveis, que levem desenvolvimento para todas as regiões do Brasil.
O Banco do Brasil vai criar ou aprimorar algum tipo de serviço que beneficie e incentive mulheres empreendedoras em sua gestão?
Com toda certeza. Temos avançado muito em apoiar nossos clientes para atender em suas necessidades. Entendemos que a valorização da mulher na sociedade passa por diversos aspectos, incluindo sua segurança financeira.
Além das questões de gestão de pessoas e do diagnóstico que estamos construindo, também estamos com avanços no nosso relacionamento com o público feminino que faz negócios conosco. Há uma quebra de paradigma diária.
Como disse, temos vivenciado no BB uma quebra diária de paradigmas com a capacidade dos funcionários de atuar com colaboração para gerar resultados consistentes e sustentáveis. E atuar com nossas clientes é também uma frente importante nesse quesito.
Haverá atenção especial para o público feminino nesse contexto?
Nossos pilares de atuação com clientes mulheres passam por ofertar soluções financeiras adequadas, apoiar com educação empreendedora, ofertar benefícios e promoções que se encontram no app do BB para as mulheres, além de ações corporativas para apoiar o empreendedorismo feminino, seja para as micro e pequenas empreendedoras, seja para as mulheres do campo, por exemplo, além de atuar com mulheres investidoras.
São mais de 1,9 milhão de mulheres que investem cerca de R$ 290 bilhões conosco. Nas soluções financeiras para MPE [Micro e Pequeno Negócio], temos nossa conta Pessoa Jurídica com ofertas especiais em capital de giro, cobrança, recebíveis.
Enfim, um portfólio completo que cada cliente pode consultar suas condições específicas no app ou com nossos funcionários. Temos avançado bastante. E vai ficar ainda melhor. Tenho como mantra dessa gestão disponibilizar um Banco do Brasil para cada cliente, ou seja, atuar de forma hiperpersonalizada, com base em análise de dados e com soluções adequadas a cada cliente, de acordo com seus perfis e comportamentos.
Faremos o mesmo com o público feminino, valorizando a autonomia financeira das mulheres. É isso que gera empoderamento e faz crescer a representatividade da mulher brasileira na sociedade. Precisamos muito disso.