“Que se faça o bem e não se olha a quem”; confira o artigo de Jackson Viana

Alguém já se perguntou de onde partem os fotógrafos que registram recortes “espontâneos” de personalidades públicas entregando sacolões e ajudando famílias? De onde saem tantos paparazzis que, de maneira “despercebida”, registram a bondade de figurinhas caricatas, especialmente da política acreana, para que postem em suas redes sociais?

Faço esse questionamento visto que é impensável que muitas poses sejam encomendadas e que, de fato, esses profissionais estejam propositalmente contratados para fazer os registros. Quem costuma prestar-se ao bem, não precisa encomendar fotografia ao fazê-lo. Assim imagino.

Não se trata de objeção a registros de redes sociais. Abro parêntese para dizer do fundamental papel que o fotógrafo, seja ele amador ou profissional, desempenha para a sociedade, e, na atual era digital, sua presença é indispensável para o bem da informação.

Também não se trata da obrigação que as autoridades instituídas, sejam elas governadores, prefeitos ou demais parlamentares, têm de informar à população sobre suas agendas e sobre o trabalho que desenvolvem de interesse público. Quando alguém investido em cargo público presta assistência à sociedade a partir de orçamento de Estado, age em nome do povo a que representa, e isso precisa ser informado até mesmo por prestação pública de contas.

Porém, se eu e você, enquanto cidadãos, utilizamo-nos de nossas próprias expensas para agir em solidariedade, a ninguém é devida a satisfação. A menos que isso seja do nosso interesse. Mas, afinal, qual interesse?

É fato que para o cidadão que em necessidade recebe a ajuda de alguém, o importante é que sua urgência foi atendida e pouco lhe importa a vaidade de quem pratica. Disso, nós já sabemos e não se discute. A observação que se faz é em razão do oportunismo daqueles que ao dar com uma mão, tentam tirar com a outra.

Ora, não sejamos inoportunos. Investir em capital político às custas da tragédia de milhares de famílias deveria ser crime inafiançável, por ser repugnante, do ponto de vista humano, moral e, até mesmo, religioso.

Para os leitores da Bíblia, encontram em Mateus 6:3 “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. Por essa ótica, trazendo para a atualidade, poderia a mão esquerda se ver exposta no Instagram?

Para os céticos, a frase é do escritor Antônio Ermírio de Moraes: “caridade com propaganda não é caridade, é comércio”. Convenhamos que, salvas as exceções, esse é o bem da verdade.

A desculpa esfarrapada de que o registro da boa ação é um “incentivo” para outros replicarem, não encontra respaldo na lógica. Se o próprio estado de necessidade dos nossos irmãos, retratado em centenas de matérias de longínquo alcance, não servir de “incentivo” para solidariedade de muitos, não será a minha pose para a lente de uma câmera que vai.

Só existe uma definição para quem, alegando agir em solidariedade, busca holofotes para si e para sua benevolência: oportunismo claro. Deixemos nossas vaidades para quando a dor de tantas famílias estiver abrandada, e saiamos de casa para fazer o bem quando o bem maior que se almeja não seja, por ego, o nosso próprio.

Espero que o nosso povo, tão sofrido, saiba separar o joio do trigo, e que dê vazante, junto com as águas do Rio Acre, ao capital político de todos os que hoje tentam tirar proveito de sua necessidade.

– Jackson Viana é Escritor, Poeta, autor de três livros, presidente-fundador da Academia Juvenil Acreana de Letras (AJAL), Embaixador da Região Norte na Brazil Conference at Harvard & MIT e Embaixador Mapa Educação 2023.

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