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“Sob o domínio da insensatez”: artigo do professor da Ufac, Mauro Ribeiro

Por Por Mauro Ribeiro

No último dia 27/03, reportagem do site Metrópoles deu destaque negativo à participação do atual presidente da APEX Brasil, o bom acreano Jorge Viana, acusando-o de “cutucar” o agro brasileiro durante encontro realizado pelo CCG – Center for China & Globalization.

Quase imediatamente, personalidades políticas repercutiram recortes da referida apresentação, seguindo o mantra de que ele “atacara” o agronegócio brasileiro.
Fui ver a fala do presidente da APEX Brasil e descobrir onde estariam tais impertinências.

Jorge falou durante 15 minutos e 09 segundos. Logo aos 2 minutos, apresentou uma Tese (“Nós brasileiros deveríamos parar de dizer fora do Brasil, que o Brasil não tem problema ambiental”) que recebeu todo tipo de crítica, mas a mais frequente foi a de que ele não deveria ter falado dos nossos problemas no exterior.

Sou daqueles que entende que o primeiro passo para resolver qualquer problema, é reconhecer sua existência.

Em seguida, Jorge cita dados oficiais que mostram que em 50 anos, 21% da Amazônia foi desmatada, citando que há 84 milhões de hectares desmatados na Amazônia – e aí começou um barulho danado. Já sobre o fato de realçar que “79% da Amazônia estão preservados” não se ouviu um pio sequer.

Citando dados de desmatamento no período de governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, demonstrou que após chegar a números muito expressivos, aquele governo aumentou a área de reserva legal nas propriedades de 50 para 80%.

Fez referência aos mandatos do Presidentes Lula e da Presidente Dilma, mostrando que após crescimento inicial do desmatamento, ocorreu redução “.. de quase 80% da área desmatada, com crescimento na produção agropecuária brasileira”.

Citando dados do MAPA, IMAZON, MAP Biomas e FAO, dissecou o uso das terras na Amazônia. Afirmou que “dos 84 milhões de hectares desmatados, temos 67 milhões para a pecuária, 6 milhões com agricultura e grãos, e perto de 15 milhões com florestas secundárias” – as capoeiras, como chamamos por aqui.

Jorge Viana usou estes dados para tornar evidente que é possível crescer com respeito à legislação ambiental e credita esta conquista ao País – e não aos governos. Diz textualmente: “foi o País que conquistou isso…foi o setor produtivo que conquistou isso também.”

Observa que “no último governo o desmatamento dobrou “ e faz referência à não implementação do Código Florestal, relatado por ele quando Senador da República.

Apontando para a tela que traz em letras garrafais “China-Brazil Dialogue on sustainable development”, sustenta que a solução para enfrentar estes ciclos de desmatamento e queimadas tem que levar em conta a “sustentabilidade, crise climática, mercado de carbono e geração de emprego” e faz categórica defesa do agro, pois “ reconhece que o governo passado até incentivou a ocupação de áreas indígenas e ampliação do desmatamento” mas que “o setor produtivo e a sociedade lutaram para enfrentar o desmatamento”.

Em seguida, apresenta dados da “evolução da adoção de práticas sustentáveis pelo setor produtivo da pecuária brasileira “, afirmando que “se o Brasil adotar técnicas de manejo de pastagens, de melhoramento genético já implementadas por muitos produtores” o Brasil ia necessitar “ de algo em torno de 32 milhões de hectares de pastagens”, liberando “próximo de 36 milhões de hectares de pastagens para outras atividades”, “só com o aproveitamento da tecnologia desenvolvida pelos produtores”!!!

Defende que “com melhoria de produtividade, os 6 milhões de hectares poderiam ser 8..9 milhões para a produção de grãos”, uma vez que entende que o “crescimento para a produção de grãos no Brasil precisa acontecer fortemente… com melhor uso da terra, e não com mais desmatamento”.

Faz esta afirmação contrastando toda a produção de grãos brasileira com a produção de milho nos EUA. Considera que se “nós melhorarmos o uso da terra, sem desmatamento, com a adoção de técnicas que os produtores da pecuária já desenvolveram e utilizam, nós podemos liberar uma área enorme para ajudar o mundo a vencer a fome e ao mesmo tempo, trabalhar com a restauração florestal”.

Finaliza dizendo que o “Brasil e a China devem atuar juntos na busca de sustentabilidade, produção sustentável, uma vez que a China logo, logo, vai atuar fortemente no mercado de carbono”, criando oportunidades valiosas para enfrentar a transição climática, e foi isso. A palestra termina e não vi onde estavam os ataques que ensandeceram parte daqueles que cansaram os dedos de compartilhar fake News, cujo fígado produz tanto ódio.

Onde mora a insensatez? Pessoas que não leram, não viram sua fala e apenas reproduziram o que interessava aos que vivem neste lamaçal, patinam na ingratidão com um acreano que tanto fez por nossa terra.

Depois, bem depois vão descobrir que foram conduzidos tal qual efeito manada, e o que Jorge Viana fez foi dar as melhores referências às práticas já adotadas pelos produtores rurais, como sempre tem feito ao longo de toda a sua trajetória.

Mauro Ribeiro é produtor rural, engenheiro agrônomo, Doutor em Biodiversidade e Biotecnologia e professor da UFAC.

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