Brava Gente Acreana: relembre Sérgio Souto, o Poeta da Amazônia

Antes da paixão pela música, vinha a paixão do compositor pela sétima arte. “O lance do cinema era muito louco, eu ia ver filme do Cine Rio Branco, Cine Acre e no Cine Recreio. Eu era tão louco por cinema, que eu não tinha dinheiro e ia para a porta do cinema cedo, e ficava na fila, e chegavam aqueles casais, a fila imensa, e perguntavam se dava para eu comprar os ingressos. Eu dizia: compro, mas o troco tem que ser meu. Isso rendeu muitos filmes para mim. Quando não tinha jeito eu ficava na porta do cinema, e o seu Abdias era porteiro do Cine Rio Branco, ele era um cara turrão, e eu fazia aquela cara de tristeza e ele dizia: entra aí porra, entra aí moleque”, contou Souto, frequentador do Cine Rio Branco, Cine Acre e do Cine Recreio, em uma época de valorização do cinema local.

Depois que o pai faleceu em 1963, a mãe de Sérgio, dona Iranir, levou a família para o Rio de Janeiro, buscando tratamento para um dos filhos que estava adoecido. Foi na cidade maravilhosa que Sérgio, ainda adolescente, entrou em contato com a música, em uma cena musical emergente. “Eu, com quinze anos descobrindo aquela paisagem linda, logo fui mostrando as minhas tendências musicais” — contava Souto, que se orgulhava de ser autodidata – “Nunca ninguém me ensinou, eu olhava o cara fazer e pegava o violão e ia fazer, e dali quando eu sabia fazer quatro acordes, eu comecei a compor.” Na cidade carioca, Souto dividia a paixão pela música com a responsabilidade de ajudar a mãe, viúva, em casa.

Após aprender as cordas, o talento de Souto começava a encantar os lugares pelo qual passava. “Em 1979 foi quando eu comecei a colocar o pé na estrada mesmo, porque eu participei do Festival da Brahma e ganhei em primeiro lugar. Logo um mês depois, classifiquei uma música no festival da TV Tupi. Depois disso veio o primeiro disco. E vim para Rio Branco para lançá-lo. Foi um momento glorioso quando eu cheguei a Rio Branco, depois de 14 anos.”

Souto, apesar de ter deixado a terra natal ainda novo, sempre manteve a bússola do coração apontada para o estado do Acre, eternizou, em um de seus discos, o hino acreano em sua voz. Fez também parceria com grandes nomes locais como Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro. “Por eu ser acreano do pé rachado é uma coisa meio doentia essa nossa relação com a terra, o acreano é muito acreano, o acreano é mais acreano do que o brasileiro é mais brasileiro, é como se fosse outra nação, é um sentimento muito profundo.”

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