Quem for conferir “A Herança”, peça atualmente em cartaz no Teatro Vivo, de São Paulo, corre o risco de se deparar com uma faceta artística de Reynaldo Gianecchini, 50, que talvez nunca tenha visto antes.
Na adaptação do espetáculo estrangeiro “The Inheritance”, que foi sucesso na Brodway nos Estados Unidos, ele interpreta um homem homossexual que gera controvérsia ao adotar uma posição política conservadora, o que seria incompatível com a classe que ele integra.
Se para o público mais tradicional talvez possa causar estranhamento ver Gianecchini fora do estereótipo de galã televisivo, para ele não existe qualquer desconforto em se despir do rótulo com que tantos o têm conhecido ao longo de sua carreira.
Não me sinto galã toda hora. Ser galã, para mim, é quase um personagem. Acho que ganhei com ele, que me abre algumas portas – mas, ao mesmo tempo não me sinto refém”, afirma o ator, em entrevista ao programa De Lado com Fefito, de Splash.
“Agora, com a maturidade, as pessoas estão começando a me olhar de um outro lugar, o que eu acho muito legal também. Estou quase me sentindo ‘de época’ já. Tem toda uma geração que nem me conhece!”, admira-se.
A série “Bom Dia, Verônica”, da Netflix, tem sido responsável por apresentar Gianecchini para a geração Z, que não o conhece dos folhetins da Globo. Ele atuou na segunda temporada da atração, como Matias, um falso líder religioso que abusa sexualmente de suas fiéis.
“Algumas pessoas [jovens] me pararam na rua [recentemente]: ‘você é aquele cara do Bom Dia, Verônica’? Falei: ‘sim’. Elas piraram e tal – mas não sabiam nem meu nome, não tinham a menor referência de que novela eu fiz… Eu acho o maior barato!”, diverte-se.
‘Nunca tive um plano B’
Hoje mais que consolidado como artista, Reynaldo Gianecchini nunca teve dúvida dessa vocação. “Acho que nunca tive um plano B. Se tivesse, talvez eu já teria desistido”, afirma.
Mesmo assim, houve momentos em que ele se questionou se valia a pena, de fato, abraçar a carreira que amava com todo o ‘combo’ incluído – e, dentro desse pacote, a exposição midiática excessiva era o que menos lhe agradava.
“Tenho certeza de que gosto da profissão de ator, mas o que vem junto, no começo, para mim era tão difícil de lidar, que cheguei a questionar: ‘será mesmo que eu quero esse pacote tudo? Será que não quero ficar mais quietinho no meu canto?'”, confessa.
“As pessoas falando de tudo o que você fazia, do seu cabelo, da sua vida pessoal, julgando o tempo todo… Era muito estressante para mim no começo”, recorda Gianecchini.
Ovelha desgarrada?
Antes de se decidir pelas artes, Reynaldo Gianecchini chegou a demonstrar potencial para outra carreira: a esportiva. Se dependesse da família do ator, ele teria se transformado em jogador profissional de basquete ainda na juventude.
“Eu na verdade nunca pensei em ser, mas tinha tudo para ser, já que minha família inteira foi, todos os homens foram jogadores profissionais. Sou de Birigui (SP), porque meu pai jogava profissionalmente e foi transferido para o time de basquete de lá”, explica.
Havia, inclusive, uma pressão dos parentes para que Gianecchini desse continuidade a esse legado. “Eu gostava muito, jogava no colégio, mas não queria ser profissional.” Ele admite, inclusive, que frustrar as expectativas familiares não foi um processo dos mais fáceis.
“Até os meus 18 anos, quando me senti mais forte, eu me sentia muito mal de quebrar essa tradição, como se não estivesse agradando e correspondendo ao que a família queria. Me sentia, também, não tão viril”, lamenta.