O dia 22 de abril é conhecido como o Dia do Descobrimento do Brasil. No ano de 1500, as caravelas portuguesas chegaram pela primeira vez na Costa do Descobrimento, região no sul da Bahia que compreende aos municípios de Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Belmonte. Entretanto, historiadores questionam se o termo correto a ser utilizado é “descobrimento”, tendo em vista que as terras brasileiras já eram habitadas.
Comandada Pedro Álvares Cabral, a expedição buscava chegar até a Índia cruzando o oceano Atlântico, no entanto acabou chegando ao Brasil. Os portugueses, então, nomearam as terras desconhecidas como Terra de Vera Cruz
O termo descobrimento está ligado ao etnocentrismo europeu, ou seja, a Europa como o centro do mundo. O descobrimento refere-se, então, aos povos da Europa, e não aos povos que já habitavam o continente americano.
Milhões de pessoas já habitavam o território descoberto pelos portugueses, que nomearam estes de “índios”, assim chamados em razão dos europeus acreditarem que teriam chegado à Índia.
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Antes da chegada dos portugueses o Brasil era chamado pelos indígenas de Pindorama, que na língua nativa significava “região ou país das palmeiras”. Por acreditar que eles não tinham alma, os europeus, católicos, acreditaram que seria fácil convertê-los ao Cristianismo. Assim, realizaram a primeira missa do país no dia 26 de abril de 1500, através do Frei Henrique de Coimbra.
Alguns pesquisadores definiram o primeiro contato entre portugueses e indígenas como “encontro de culturas”, como se este representasse um momento em que as diferentes culturas trocaram influências, ignorando o fato de que a colonização portuguesa teve como principais características a submissão e o extermínio de milhões de indígenas que aqui viviam.
É importante lembrar, também, que outro motivo que colaborou para o genocídio praticado contra os indígenas foram as doenças epidêmicas, até então desconhecidas por eles, dessa forma, não possuíam imunidade contra estas. Cartas do missionário José de Anchieta revelam que epidemias de varíola mataram pelo menos 30 mil índios.
Conforme o professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Francisco Bento da Silva, Dr. em História, o termo descobrimento vem sendo amplamente questionado e problematizado nos dias atuais.
“Essa palavra do “descobrimento” foi criada pelos portugueses, não só os portugueses, mas todos os europeus ao saírem do velho mundo. Eles vão em busca de outras terras, outros territórios, se aventurando, e tudo que eles vão encontrando é novo e ao mesmo tempo isso serve para demarcar a Europa como um velho mundo, como a gente conhece até hoje. Então, o que eles vão encontrando eles vão se apossando, e a ideia de descobrir é porque quem descobre toma posse daquilo que descobre. Isso foi uma prática de todo o processo colonial moderno”, explica o historiador.
Ele também questiona o ensino normativo, que coloca o colonizador, no caso os portugueses, como alguma espécie de benfeitor, ou desbravador. “O que a gente hoje chama de Brasil, foi narrado, inclusive nas aulas de história, durante muito tempo como o local descoberto pelos portugueses, e mais do que isso, construiu-se a ideia de que o Brasil tem cerca de 500 anos. Além disso, passa essa idealização do colonizador como agente ativo, sendo que já existiam pessoas aqui, sociedades, que viviam a milhares de anos. O que vai haver é um processo de ocupação de todo esse vasto território, que vai ser explorado pelos portugueses. Então colocando nessa perspectiva colonizadora, o outro vai ser sempre o inferior, não pode ser igual nem superior aquele que chega, aquele que “conquista”, aquele que “desbrava”, finalizou o professor.