O discurso do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que criticou os jogos de tiro e relacionou-os à violência nas escolas gerou um debate sobre a marginalização dos games. Apesar das críticas de Lula, todos os jogos distribuídos no Brasil possuem uma classificação de conteúdo, comumente chamada de classificação indicativa. Entenda nesta reportagem o que é esse sistema e como são feitas as classificações dos jogos ao redor do mundo
Afinal, o que é a Classificação Indicativa?
Todos os pais querem que seus filhos estejam seguros online, mas pouco se debate se os jogos são apropriados para a idade da criança ou do adolescente. A maioria dos jogos contém uma classificação etária na embalagem ou online, e essa classificação varia dependendo de onde o jogo foi lançado.
De acordo com a pesquisa do Dr. David Walsh sobre o impacto da violência interativa nas crianças, o grande problema é que 90% dos adolescentes afirmam que seus pais “nunca” verificam as classificações antes de permitir que comprem videogames.
— As crianças consomem violência o tempo todo. Nos filmes, nas ruas, dentro de casa e também nos videogames. Percebo que muitos alunos são livres para consumir o que querem na internet. Jogam videogames com indicação etária acima da sua. Os videogames não instigam a violência nas crianças… Mas aqueles que jogam (jogos violentos não indicados para a idade da criança), tem o mesmo perfil, pais desatentos/ausentes e internet livre. Nesses casos, acredito que o videogame impulsiona sim essa violência interna que a criança já tem devido a problemas pessoais, sociais, cognitivos e etc — reforçou Yasmin Garcia, professora auxiliar de período integral.
Nos Estados Unidos, Canadá e México, o sistema ESRB (Entertainment Software Rating Board) é usado para ajudar a distinguir quais jogos são adequados para diferentes idades e no Reino Unido e na maioria dos países europeus, o sistema PEGI (Pan European Games Information) é usado. Atualmente no Brasil é usando o sistema Classind, que é o órgão de classificação etária de obras audiovisuais.
Essa classificação indicativa é feita com base na adequação ao público-alvo. A maioria desses sistemas é associada e/ou patrocinada por um governo e, às vezes, faz parte do sistema local de classificação de filmes.
— A classificação é feita através de um questionário de conteúdo adulto fornecido pelas plataformas de distribuição ou através das autoridades oficiais do conselho de classificação de cada país e os elementos do jogo são analisados por categorias como: violência fantasiosa, reslista ou crime; temas sociais, crueldade de alto impacto e etc — revelou Luis Otavio, um dos fundadores da Hanoi Studios.
Conhecendo os tipos de classificações atuais
Essas classificações etárias ajudam os consumidores a decidir se um jogo é adequado para o usuário pretendido e garantem que as crianças não sejam expostas a conteúdo impróprio. No entanto, às vezes há informações contraditórias.
Um exemplo bastante difundido é o jogo Clash of Clans, que é classificado como “Todos com mais de 10 anos” na loja de aplicativos do Google Play, mas os criadores do jogo definiram que a idade mínima do jogo era para ser “13 anos ou mais” porque possui uma função de bate-papo online e compras no aplicativo.
Apesar da popularidade, é importante destacar que jogos como Free Fire e Call of Duty: Mobile não são recomendáveis para crianças e tem restrições de faixa etária, atualmente na loja da Apple o jogo Free Fire está como 12+ e CoD com indicação de 17+.
Pedro Gobi Scomparion, psicólogo clínico formado pela PUC Campinas, afirmou que os jogos sempre fizerem parte da sua vida e rassaltou um tópico de grande importância quando questionado sobre a influência dos jogos nas crianças:
— A polêmica dos jogos serem relacionados a comportamentos violentos é mais antiga do que a existência dos próprios games eletrônicos, vide o pânico moral que já assolou os EUA acerca de RPGs de livro e tabuleiro… Vimos polêmicas com Counter-Strike na época das lan-houses diante do “absurdo de se jogar como terroristas. É um pânico muito mais de caráter moral do que calcado na realidade.
Atualmente existem mais de 15 tipos de classificações ao redor do mundo e cada uma se adequa ao seu país de acordo com o órgão de classificação local. Confira abaixo os tipos atuais de classificação em seus respectivos países:
A Classificação no Brasil
O sistema de classificação infelizmente é pouco debatido no Brasil e os jogos por sua vez acabam sendo tachados como gatilhos de violência para as crianças e jovens, mas será que os pais estão fazendo sua parte de supervisionar o que os filhos estão fazendo online?
A lista de descritores existe não só para explicar a classificação como também informar responsáveis sobre o tipo de conteúdo presente na obra. No Brasil há seis tipos de classificação sendo cada uma delas de uma cor e apesar de algumas classificações de idades diferentes apresentarem o mesmo descritor de conteúdo, o seu “peso” varia.
Vale ressaltar que uma obra classificada como “10 anos” e com o descritor “Violência” irá conter cenas violentas leves, enquanto uma obra com classificação “16 anos” e o mesmo descritor apresentará cenas violentas mais fortes.
— Jogos não são feitos com o intuito de prover uma lavagem cerebral em crianças, e muitas vezes nem mesmo são feitos considerando crianças! A ideia de que “jogo é coisa de criança” é ultrapassada, como a própria classificação indicativa deixa claro. Temos jogos pensados para todas as idades, e é importante que os pais e responsáveis se inteirem do que seus filhos estão jogando. Demonstrem interesse, acompanhem, orientem — finalizou Tiago Rech que atualmente atua como roteirista na indústria de jogos.