Após ter sido condenada a 50 anos de prisão por orquestrar o assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, morto a tiros em 2019, a ex-deputada e pastora Flordelis deu sua primeira entrevista desde o dia de seu julgamento. Em conversa com o jornalista Ulisses Campbell, que também é autor do livro ‘Flordelis, a pastora do diabo’, ela revelou o que sentiu no momento em que teve sua condenação decretada e afirmou ainda nutrir a esperança de ser inocentada pela Justiça.
“Quando ouvi a sentença de 50 anos, um buraco se abriu sob meus pés. No entanto, a absolvição da Marzy, Rayane e André Luiz me mostrou que posso ter um novo julgamento. Hoje, a minha esperança de ser inocentada vem da confiança que tenho nos meus advogados, os mesmos que conseguiram inocentar os meus filhos”, afirmou ela.
Apesar de cumprir uma pena de meio século, Flordelis se mostra otimista sobre seu futuro. “Vou sair daqui em breve. Em liberdade, vou olhar para dentro de mim e consertar todos os erros que cometi na vida e na igreja”, avaliou.
Os tais erros, aos quais a pastora se refere, estão justamente relacionados ao que a tornou uma figura conhecida dos brasileiros (antes do crime, é claro): a igreja. Flordelis revelou, ainda, que entregou sua vida ao marido, e fez críticas ao ‘modelo de evangelho’ que pregou durante toda sua vida pastoral.
“No casamento, me calei e me anulei para tudo. O evangelho no qual fui criada me colocou como apêndice do pastor Anderson. Esse evangelho dava a ele permissão para controlar a minha vida, me violentar e me agredir permanentemente. Esse evangelho não me serve mais. Peço às mulheres da igreja que saiam dessa vida o quanto antes para não pararem aqui na cadeia como eu”, revelou a pastora.
Insistente em se declarar inocente, a ex-deputada diz não cogitar a possibilidade de confessar o crime e, assim, quem sabe, conseguir uma redução de pena. “Jamais confessarei o que não fiz! Não matei o Anderson do Carmo! Nem mandei matá-lo! Prefiro ficar na prisão por 50 anos sendo inocente do que bem menos tempo confessando o que não fiz”, declarou.
Comendo pouco, doando sua comida, cantando e lavando as roupas sujas de outras presas. É assim que Flordelis diz passar os seus dias na prisão. Ela também revelou que a rotina de beleza da mulher sempre muito vaidosa ficou do lado de fora das grades. Para a pastora, as preocupações com sua aparência eram uma verdadeira prisão:
“Quando tinha compromissos profissionais, eu era tão pressionada a usar peruca e fazer botox, que me tornei escrava da beleza. Era um sofrimento sem fim. Sou uma mulher preta. Antes, meu cabelo era disfarçado porque tentavam me embranquecer. Na penitenciária, isso acabou. Graça a Deus! Não estou largada, mas tudo é mais simples e leve. Hoje, sou uma mulher presa, mas meu cabelo é livre”, comparou Flordelis.
Apesar de todo otimismo demonstrado no início da entrevista, ela revelou que teme pela sua saúde e tem medo de morrer na prisão. “Hoje esse medo é real porque estou com arritmia. Já tive várias crises e fui parar na emergência do Complexo de Bangu com problemas sérios no coração. Esse medo aumentou porque os médicos disseram que não têm os recursos necessários para me atender aqui dentro”, lamentou.
Ao falar do ex-marido morto, Anderson do Carmo, Flordelis declarou que, por um tempo, alimentou sentimentos um tanto quanto antagônicos. Mas hoje, a pastora culpa o marido assassinado pela destruição de sua família. “Antes, alternava sentimentos de saudades e ódio. Recentemente, entrei na Justiça para tirar o nome dele (Souza) do meu. Hoje reconheço todos os males que ele fez a mim, às minhas filhas, às minhas netas, destruindo toda a minha família”, finalizou.