Em depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres jogou para seus subordinados a responsabilidade sobre o mapeamento de eleitores e a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no 2º turno de 2022. O blog teve acesso à íntegra do depoimento (leia abaixo).
Torres declarou que a “iniciativa” do mapeamento que mostrava os locais onde Lula e Bolsonaro tiveram mais de 75% de votos no primeiro turno “partiu da própria” delegada Marília Alencar. Marília era diretora de Inteligência (DINT) da Secretaria de Operações Integradas (SEOPI), do Ministério da Justiça. A ex-diretora foi ouvida pela PF no dia 13 de abril e afirmou que o levantamento teria sido um pedido de Torres, seu chefe na época.
Segundo ele, o “intuito” era relacionar crimes eleitorais, mas ele disse que não levou a informação adiante pois entendeu que os dados não eram indicativos de crimes eleitorais.
O ex-ministro disse ainda que a PRF tinha autonomia operacional e que as informações sobre a fiscalização feita pela corporação no dia da eleição foi repassada a ele por Silvinei Vasques, então diretor geral da PRF, e que, ao perguntá-lo quanto às notícias do dia 30 de outubro de 2022 sobre as abordagens nas rodovias federais, Silvinei afirmou que a atuação era “normal”.
No depoimento, ele também afirmou que a viagem para a Bahia foi para visitar, a convite, a obra da superintendência regional da PRF.
Ele disse que a operação foi igual em todo o país, embora o levantamento do Ministério da Justiça mostre que a PRF fiscalizou 2.185 ônibus no Nordeste, onde Lula era favorito, contra 571 no Sudeste, entre 28 e 30 de outubro. Ele chegou a declarar que, “salve engano”, Alagoas foi o local com maior número de abordagens da PRF e “onde o candidato Lula obteve mais votos”. Já Mato Grosso do Sul foi citado por ele como o “segundo local com mais abordagens” e “onde o candidato Bolsonaro foi o mais votado”. Mas ele não soube dizer à PRF se essa classificação de Alagoas e Mato Grosso do Sul era em números proporcionais à quantidade de habitantes ou em números totais.
Torres está preso em Brasília desde o início do ano por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) suspeito de omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro, quando era secretário de segurança pública do Distrito Federal, mas também é investigado na apuração sobre se a fiscalização da PRF atrapalhou de propósito o deslocamento de eleitores no segundo turno.