Maní é um cachorro vira-lata, de 4 anos, que tem sido destaque no trabalho de perícia da Polícia Científica de São José dos Campos, no interior de São Paulo, por ter um olfato apurado para detectar sangue nas investigações de homicídios.
Segundo a Polícia Civil, ele é o único cão vira-lata no Brasil a realizar esse tipo de trabalho com a Polícia Científica, entrando nos cenários dos crimes procurando por vestígios.
O tutor e treinador do Maní é o João Henrique, perito criminal em São José dos Campos, que também é veterinário.
“A gente adotou ele de um local de crime que fizemos. A gente já tinha ideia de um projeto incubado e acabamos selecionando ele para entrar nesse programa. Fizemos o treinamento dele para detecção de sangue e tudo começou a andar muito rápido por causa do resultado que ele acabou dando para as investigações”, disse o perito criminal.
O vira-lata tem sido sucesso nas buscas. Ao todo, Maní já participou de quase 30 investigações na região do Vale do Paraíba e região e em todas elas encontrou elementos que os peritos humanos não tinham encontrado.
“Maní já é da nossa equipe. Ele otimiza nosso recurso, é eficaz na detecção de sangue, nós auxilia e muito na continuação da investigação, na identificação da autoria e posteriores prisões”, conta o delegado Neimar Camargo.
Nesta semana, o Maní está em Brasília, no Distrito Federal, com o tutor João, sendo apresentado para outros peritos. A ideia da Polícia Científica aqui de São José dos Campos é fazer do cão um exemplo nacional no ramo das investigações.
“Maní é um animal, é um cão de faro, cuja a expertise é a única do mundo, que é farejar sangue latente. Ele traz para a gente uma economicidade absurda em termos de utilização de substâncias como luminol. Ele consegue ser efetivo no local dos fatos, porque vai diretamente onde o sangue foi lavado”, explicou Silvio Garcez, diretor do Núcleo de Perícias de São José dos Campos.
“A partir daí todos os procedimentos de local de homicídio e latrocínio podem correr tranquilamente e a gente pode chegar a dinâmica dos fatos, que é o objetivo sempre da perícia”, completou.
Para que as participações possam ser validadas nas investigações, o perito criminal e veterinário João, tem se dedicado aos estudos, iniciando um mestrado na área.
“A Polícia Científica está terminando as tratativas de uma parceria com a Universidade Federal de São Paulo e no setor de biotecnologia a gente pretende desenvolver alguns novos protocolos, entender mais a técnica, validá-la para o uso em larga escala, para poder utilizar em outros lugares. A gente espera avançar com bastante publicação cientifica para a polícia e para a universidade nesse lado, até para poder auxiliar outras polícias cientificas de outros estados a incorporarem a técnica”, disse.
Apesar de trabalhar bastante com Maní, João conta que ainda que é incomum trabalhar com o cachorro vira-lata e relembrou uma história inusitada de quando estava em um treinamento com o cão num local perigoso da região.
“Eu estava enterrando a amostra de sangue e nisso a Guarda Civil parou atrás de mim, achou a atitude suspeita, por isso acabou me abordando e questionando o que eu estava fazendo. Eu expliquei que estava escondendo sangue para treinar um cão, que trabalhava na polícia técnica, eles não acreditaram muito. Eu falei que ia chamar o cão para eles verem. Então eu assoviei, o Maní veio e chegou um vira-lata e, eles estavam esperando um cão de grande porte ou pastor Belga, pastor alemão. Eles realmente não acreditaram na história, precisei dar explicações maiores depois na delegacia, me apresentar e tudo mais”, relembra João rindo.
Apesar das dificuldades e do trabalho duro, João afirma que é o amor e carinho que sentem um pelo outro que faz o trabalho em conjunto dar tão certo.
“Facilitou muito o nosso trabalho, mas também existe um lado aí que acaba sendo bem pessoal, que eu acho que todo mundo em algum momento da sua infância já quis trabalhar com cachorro, ter o cachorro de serviço. E poder ter um cão e trabalhar com ele ajudando como um parceiro mesmo, parece uma história de filme até, bem divertido, eu sou muito grato por eles”, conta o veterinário.