O município de Tarauacá, interior do Acre distante de Rio Branco 410 quilômetros e população de 43 mil e 152 habitantes segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é uma das sete regiões brasileiras com elevado risco de terremotos e que, só em 2015, estudos completos revelaram que mais de 15 terremotos foram sentidos na cidade.
Tarauacá é o município do Acre com mais ocorrências de abalos sísmicos porque está em cima da falha que corta o Estado acreano em duas partes. A causa disso é o fato de a região estar próxima de duas placas tectônicas muito ativas: a Sul-Americana e a de Nazcar, ambas nos Andes, no Peru. Aliás, Tarauacá está muito próxima do epicentro do maior terremoto já registrado no Brasil — 6,5 graus na escala Richter, em junho de 2022.
Apesar dos abalos constantes na região, a profundidade deles passa dos 500 km, o que diminui o risco de danos e de eles serem percebidos pelos moradores. Mas os riscos são elevados.
O alerta foi feito nesta quarta-feira (17) a partir de uma pesquisa do Instituto de Geociências da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que identificou 48 falhas geológicas mestras no território nacional. “Algumas delas com quilômetros de extensão”, diz o professor Allaoua Saadi, coordenador da pesquisa.
Segundo o cientista, a maioria das falhas está no Sudeste e Nordeste do território nacional. Mesmo com tal mapeamento, é praticamente impossível prever onde ocorrerão terremotos, ou qual seria a intensidade deles, mas é certo afirmar que é nessas regiões do país que os terremotos terão seu epicentro.
Isso derruba a tese difundida por muito tempo de que no Brasil não ocorrem terremotos. Esse consenso vem do fato de os abalos sísmicos no Brasil não terem a intensidade dos que acontecem em outros países, como no Japão e nos Estados Unidos, e raramente causam estragos significativos, mas estudos aprofundados mostraram que isso não é verdade.
Para entender os terremotos e a ocorrência deles no Brasil é preciso compreender as chamadas falhas geológicas, também conhecidas como falhas tectônicas, que são estruturas da crosta do planeta que dão origem aos terremotos. Recentemente, uma delas chamou a atenção dos cientistas por liberar um líquido muito estranho.
Tais formações geológicas existem no Brasil, e várias cidades do país estão em cima delas, segundo estudos geológicos recentes. A grande diferença é que o Brasil está praticamente no centro da placa tectônica sul-americana, o que torna mais rara a possibilidade de tremores fortes, geralmente registrados nas bordas dessas placas de tamanho continental.
Porém, mesmo uma placa sólida como a do nosso continente apresenta falhas — a maioria invisível da superfície. Além de Tarauacá, são sete cidades brasileiras localizadas exatamente em cima de falhas geológicas, em regiões diversas do território do país. No entanto, a localização não significa que a população deve ter medo, uma vez que algumas dessas falhas não apresentam atividade significativa há milênios.
1 – João Câmara (RN)
A cidade de João Câmara está localizada na falha de Samambaia e já registrou diversos tremores de terra. Em agosto de 2022, moradores sentiram nove abalos sísmicos na cidade.
Segundo a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a falha de Samambaia é considerada a maior do tipo no Brasil, com 38 km de comprimento, 4 km de largura e profundidade que varia de 1 a 9 km.
Além de João Câmara, estão sobre a falha as cidades de Parazinho, Poço Branco e Bento Fernandes, que constantemente registram abalos.
2 – Itacarambi (MG)
Minas Gerais é o estado brasileiro que registra mais atividades sísmicas. Segundo mapa tectônico elaborado pelo professor Saadi, sete falhas geológicas cortam o estado (são elas: BR 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 47).
As 47 está localizada no norte do Estado, exatamente abaixo do município de Itacarambi, que registrou um terremoto de 4,9 graus na escala Richter em dezembro de 2007.
3 – Cubatão (SP)
A falha de Cubatão, descoberta em 1987 no litoral de São Paulo, faz parte de um sistema de mais de 2.000 km de extensão, com uma rede de falhas diferentes entre si, e que foi nomeado Sistema de Falhamento Cubatão.
Apesar do tamanho e de estar abaixo de uma região industrial, pesquisas indicaram baixo risco de possíveis terremotos iminentes nesse sistema — a estrutura esteve comprovadamente ativa entre 400 e 10 mil anos atrás, segundo os estudos.
4 – Porangatu (GO)
O município de Porangatu, no norte de Goiás, é outra cidade em cima de falha geológica brasileira, a qual leva o nome da cidade (Zona de Falhas de Porangatu). Em abril de 2022, um terremoto de 3,7 pontos na escala Richter assustou os moradores durante a madrugada.
Em outras ocasiões, tremores mais intensos chegaram a ser sentidos em Goiânia e até em Brasília, como o ocorrido em outubro de 2010.
5 – Vale do Jaguaribe (CE)
Uma grande falha geológica sob a cidade cearense, distante 300 km de Fortaleza, gera terremotos considerados de baixa magnitude. Alguns dos mais recentes ocorreram em março de 2016, com magnitudes de 3,1 e 3,4 graus na escala Richter.
A suspeita de pesquisadores é que a água de um açude na região, que se infiltrou na falha, pode estar aumentando o número de abalos.
6 – Curitiba (PR)
A região Sul é a que menos tem falhas geológicas no Brasil. Apesar desse dado, Curitiba é a única capital do Brasil diretamente em cima de uma falha geológica — a mesma que atravessa Cubatão.
No entanto, é mais comum que cidades no entorno da capital paranaense registrem terremotos. São Jerônimo da Serra, a 351 km de Curitiba, sofreu um abalo de 5,1 graus em setembro de 2017.
Outros dados mostram que entre 2006 e 2019 o estado registrou sete terremotos de magnitude elevada.