Clubes de esports enfrentam crise financeira e quebram; entenda
Por Globo Esporte
Fredrik “roeJ” defendendo a Copenhagen Flames no PGL Major Stockholm 2021 — Foto: Twitter/Copenhagen Flames
A falência da Copenhagen Flames, no início do mês, é mais uma má notícia em meio à instauração de um período grave de crise nos esportes eletrônicos. Os esports contam com diversas outras equipes enfrentando dificuldades financeiras e precisando cortar custos e repensar estratégias econômicas. Segundo veículos de imprensa internacionais, houve falências, demissões em massa, cortes de despesas e ações em queda em diferentes organizações neste início de ano. Veja, nesta reportagem, quais são os clubes afetados.
Famosa no Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) e responsável por revelar jogadores de destaque, como Rasmus “HooXi”, atual capitão da G2 Esports, Jakob “jabbi”, da Heroic, e Nico “nicodoz”, da Fnatic, a dinamarquesa Copenhagen Flames declarou não possuir recursos para continuar operando, de acordo com comunicado assinado pela CEO, Steffen Thomsen.
— Não é segredo que os clubes de esportes eletrônicos estiveram e estão lutando financeiramente e, especialmente, os últimos 6-9 meses foram absolutamente horríveis para nós em termos de garantir parcerias de qualquer tipo. Os orçamentos de marketing estão sendo cortados pelas marcas em muitos negócios por causa da crise financeira global — disse o executivo, escancarando os motivos para a crise vivida não só pela Copenhagen Flames, mas também por outras equipes.
FaZe Clan
Uma das maiores organizações de esports do mundo, a FaZe Clan está listada na bolsa de valor norte-americana NASDAQ desde julho de 2022. À época, com a avaliação de US$ 650 milhões sobre a empresa como um todo, as ações chegaram ao mercado precificadas em US$ 13 e atingiram o pico de US$ 24 em agostoo. Mas, pouco mais de um mês após a alta, o valor começou a despencar. Os títulos estão sendo negociados atualmente a US$ 0,50.
Em março de 2023, o Sports Business Journal divulgou que a FaZe cogita reverter a abertura de capital, visto que a injeção de capital nos esports diminuiu drasticamente nos últimos meses. Em fevereiro, a organização chegou a demitir 20% dos funcionários.
As informações do veículo indicam ainda que a empresa, que conta com times no CS:GO, Call of Duty, Fortnite, Rainbow Six e em outras modalidades, só possui ativos para se financiar até novembro de 2023. No entanto, para conseguir retomar o formato privado e deixar a NASDAQ, a companhia precisaria de um investimento que poderia chegar a até US$ 60 milhões (R$ 300 milhões), um montante muito alto para seu nicho de mercado no momento.
TSM
Assim como a FaZe, a TSM está entre as organizações de esports mais conhecidas do mundo. Muito disso se dá pela sua presença no competitivo de jogos diversos como Valorant, Fortnite, League of Legends (LoL) e Apex Legends. Entretanto, segundo apurações de março de 2023 do Sports Business Journal, a companhia deve pausar seus investimentos em diferentes modalidades e pode até mesmo vender a vaga no LCS, a liga norte-americana de LoL.
Segundo o veículo, uma das principais motivações para isso é a falência da FTX, corretora de criptoativos que entrou em colapso ao fim de 2022. A empresa tinha um acordo de US$ 210 milhões (R$ 1,05 bilhão) pelos naming rights da TSM por dez anos, e a extinção dessa receita atrapalhou os planos da companhia.
Em fevereiro, como parte do processo de reestruturação, a organização deixou o cenário de Rainbow Six Siege mesmo em posse da equipe campeã mundial em 2022. Além disso, o diretor de operações, Walter Wang, deixou o clube.
Tricked Esports
Em abril deste ano, outra organização de esportes eletrônicos dinamarquesa, a Tricked Esports encerrou as operações. O clube possuía atuação em CS:GO, Fortnite, FIFA, Rocket League, entre outros títulos.
A decisão de declarar falência e finalizar com a tag veio da RighBridge Ventures, investidora do mundo dos games que detinha participação majoritária da Tricked. O pronunciamento oficial da companhia aponta que os padrões para a manutenção da organização alteraram muito nos últimos meses e, apesar da tentativa de reduzir custos desde novembro de 2022, a decisão final foi de direcionar esforços para projetos mais rentáveis.
Heroic
No dia 20 de março, a Heroic convocou uma reunião emergencial com os investidores. Conforme veiculado pelo portal Pley.GG, o documento enviado aos convidados para a conferência apontava a necessidade de captar recursos de forma urgente até o início do verão europeu, no segundo semestre do ano.
Dona de um dos melhores times de CS:GO do mundo, a companhia norueguesa solicitava uma injeção de 80 milhões de coroas norueguesas (NOK), quantia próxima de R$ 38 milhões, para seguir operando até o fim de 2025.
A necessidade no longo prazo não foi atendida, mas, no dia 29 de março, a Heroic divulgou que recebeu o investimento de NOK 10 milhões (R$ 4,6 milhões). O montante corresponde às principais necessidades da organização para 2023 e proporcionou um respiro nas contas.
Apesar da resolução provisória da questão, o time dinamarquês divulgou seu relatório financeiro relativo ao ano de 2022 no qual consta uma perda pouco superior a NOK 153 milhões (R$ 71,5 milhões).
Dias atrás, a Heroic anunciou acordo para que a empresa Krow Bidco AS compre a organização. Os negócios estão em andamento.
Astralis
Reconhecida por consolidar a maior hegemonia da história do CS:GO, com quatro títulos mundiais e diversos outros troféus da elite da modalidade, a Astralis é mais uma entre as organizações de esports listadas em bolsa de valores que viu o preço das ações cair drasticamente. De acordo com o Yahoo! Finance, os títulos da organização saíram de 8,80 NOK, em janeiro de 2020, para 1,92 NOK atualmente.
Segundo apuração do portal Fragster, os gestores da empresa avaliam que uma série de fatores pode ter resultado no declínio. Alguns desses são: a venda de alguns bens da companhia, a emissão de novas ações e a fusão com outras corporações como a Origen, que competia no LoL europeu, e o Future FC, que disputava os torneios de FIFA.
Agora, a Astralis considera algumas opções para se reestruturar financeiramente. Uma delas, de forma semelhante ao que cogita a FaZe Clan, é deixar a bolsa de valores.
100 Thieves
Em janeiro de 2023, o repórter Jacob Wolf divulgou a informação de que a 100Thieves demitiu quase um sexto de seu número total de funcionários. Cerca de 30 pessoas deixaram os mais variados setores da empresa norte-americana, como recursos humanos, marketing, vendas e criação de conteúdo.
A organização sediada em Los Angeles, nos Estados Unidos, é uma das mais tradicionais nos esports. Atualmente, conta com times em LoL, Valorant, Apex Legends e Call of Duty. Durante o período das mudanças, John Robinson, diretor de operações da empresa, falou sobre a crise em seu campo de atuação no Reddit.
— Estamos em um clima econômico desafiador e como todas as organizações de esportes (e esportes eletrônicos), os patrocinadores são uma parte considerável do nosso negócio — escreveu.
CLG
O criador de conteúdo Travis Gafford informou, no início de abril, que a Counter Logic Gaming (CLG) iniciava um processo de demissão em massa que só pouparia seu time de LoL. Até o CEO Greg Kim estava inserido no processo que tinha como um dos principais motivadores o interesse da empresa Madison Square Garden Sports de negociar a marca.
Poucos dias depois, as informações de Gafford se confirmaram. Kim comunicou sua saída da organização no dia 6 de abril e, no dia 7, a NRG Esports anunciou a compra da vaga da CLG na LCS. A apuração do portal Esports Insider indica que somente a equipe do MOBA foi mantida empregada na transação.
The Guard
Comandada pelo grupo Kroenke Sports & Entertainment (KSE), conjunto detentor de times importantes dos esportes tradicionais como LA Rams, Denver Nuggets e Arsenal, a The Guard promoveu demissões em massa em fevereiro deste ano. De acordo Hunter Grooms, ex-produtor na empresa, todos os integrantes dos times de marketing, design, talentos e criação. No total, 29 pessoas perderam os empregos subitamente.
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Sediada nos Estados Unidos, a The Guard compete em modalidades como Valorant e Apex Legends, além de possuir o controle das franquias LA Guerrillas, que disputa a Call of Duty League (CDL), e LA Gladiators, que compõe a Overwatch League (OWL), os principais torneios norte-americanos dos respectivos cenários.
Segundo informações do The Esports Advocate, em todo o ecossistema de esportes eletrônicos do KSE, as demissões ultrapassaram a marca de 30 funcionários. O futuro de LA Gladiators e LA Guerrillas, inclusive, é incerto. O principal motivo para a manutenção provisória dos times foram obrigações contratuais com a Activision Blizzard. Entretanto, ao fim da temporada, eles também podem ser desativados.