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Como evitar o vício em redes sociais nos mais novos

Por Folha de São Paulo

JackF- Folha

Sem celular duas horas antes de dormir. Controle do tempo e conteúdos consumidos nas redes sociais de crianças e adolescentes. Conversar abertamente com os adolescentes sobre os malefícios do uso exacerbado das plataformas digitais. Estas são algumas das dicas de especialistas para evitar que o uso das mídias sociais se torne uma dependência, principalmente, entre os mais jovens.

Isso porque o cérebro humano se desenvolve de frente para trás. O córtex pré-frontal, área importante para planejamento, execução de tarefas e mensuração do risco frente ao processo decisório só termina de se formar depois dos 20 anos.

O jovem, quando exposto a aplicativos e tecnologias que, pensadas para otimizar o tempo de uso e manter o usuário o maior tempo conectado a elas, sofre com efeitos no desenvolvimento, uma vez que essa área do cérebro ainda não amadureceu a ponto de compreender os riscos de permanecer ou não conectado.

A realidade é que, hoje em dia, com fácil acesso a celulares e computadores, é difícil manter crianças e adolescentes distantes das redes sociais, e isso não é negligenciado pelos especialistas.

Porém, afirma, há formas de consumo mais saudáveis. A Associação de Psicologia Americana (APA), por exemplo, lançou um manual na última semana orientando o uso adequado de redes sociais por adolescentes. Veja a seguir as recomendações de especialistas para evitar o uso excessivo:

USO SAUDÁVEL E EVITAR EXPOSIÇÃO AOS CONTEÚDOS NOCIVOS

Entre os tópicos, a associação sugere que os jovens devem ser incentivados a utilizar funções nas redes sociais que criem oportunidades de apoio social, companheirismo online e intimidade emocional, aspectos capazes de promover uma socialização saudável por meio das plataformas.

Porém, a instituição concorda que adolescentes devem ser monitorados para evitar o uso problemático, que expõe o jovem ao cyberbullying, ao ódio virtual e a conteúdos nocivos, como por exemplo aqueles que os levam a se compararem fisicamente com outros, associados a distúrbios alimentares e de imagem.

À frente do Instituto Delete, Eduardo Guedes afirma que o uso de filtros e constante comparação com os outros nas redes sociais devem ser controladas. “Para as pessoas que tenham relação com o corpo comprometida, uma dica é trazer para o mundo offline”, diz.

O QUE É PARA ADULTO NÃO É PARA CRIANÇA

O APA afirma que a funcionalidade e permissões das redes sociais devem ser adaptadas às capacidades dos desenvolvimentos do jovens. Além disso, orienta que os designs criados para adultos podem não ser apropriados para crianças, como mecanismos de “feed infinito” (a rolagem das telas de aplicativos sem fim).

A associação ainda sugere que os jovens devem ser alertados constantemente sobre como seus comportamentos nas mídias sociais geram dados que podem ser usados, armazenados ou compartilhados com outras pessoas, por exemplo, para fins comerciais.

“É uma experimentação em tempo real. Os donos das big techs conseguem ao mesmo tempo calcular se o tempo de disparo de ‘likes’ no Brasil e na Indonésia são iguais e ajustar o tempo ao seu público”, lembra Rodrigo Bressan, psiquiatra e professor da Unifesp e presidente do Instituto Ame a Sua Mente, que avalia a saúde mental nas escolas.

O quadro de saúde mental, inclusive, piorou nos últimos dez anos, segundo o psiquiatra Rodrigo Menezes Machado, colaborador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Ambulatório de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP.

Ele associa que boa parte disso está ligada aos chamados dark patterns (padrões sombrios) e design de manipulação do usuário que são encontrados dentro das redes sociais e dos jogos, como o feed infinito ou o autoplay dos vídeos que aparecem no Facebook, Instagram e TikTok.

“É altamente sedutor, que usa ganchos cada vez mais elaborados para manter o usuário na plataforma”, diz ele. “Quando se eliminam dicas visuais de quanto tempo a gente já consumiu na rede social ou o quanto de informação foi consumido, a tendência é de consumirmos mais.”

REDE RESTRITA E TEMPO DE QUALIDADE

Katia Ethiénne dos Santos, consultora da Brain Academy e sócia proprietária da KMK Consultoria e Treinamento sobre tecnologias em educação, orienta que crianças de até sete anos não tenham acesso às telas. Ela reforça também que as redes sociais devem ser evitadas até pelo menos 13 ou 14 anos.

Um dos pontos que Santos chama a atenção é de valorizar a escuta e os momentos de “tempo de qualidade” com os jovens, isto é, passar o tempo e fazer atividades juntos.

“É importante ter uma rede de apoio desde a primeira infância que terá contato com a criança e vai ajudá-la a construir a sua identidade, seus valores, sua ética para, quando ela for confrontada com esse mundo virtual, saber os riscos e as responsabilidades do uso”, diz.

DESCONECTAR ANTES DO SONO

Guedes, do Delete, afirma que para manter a saúde do sono, é importante que os jovens sejam orientados a desconectar duas horas antes de dormir das telas e também não levar o celular para o lado da cama.

De acordo com a Associação Americana de Psicologia Americana, é recomendado que adolescentes tenham no mínimo oito horas de sono por dia. Pesquisas apontam que o uso de tecnologia, especialmente redes sociais, uma hora antes de ir dormir está ligado a problemas de sono.

Para os mais novos, noites mal dormidas estão associadas a interrupções no desenvolvimento neurológico, problemas de aprendizado, dificuldades emocionais e até risco aumentado para o suicídio. Além disso, a associação afirma que o uso de redes sociais não deveria interferir nas oportunidades de se manter atividades físicas, boa alimentação e higiene, essenciais para a saúde física e mental.

COMO EVITAR QUE USO DE REDES SOCIAIS SE TORNE UM VÍCIO

-Restringir o uso em crianças menores de 7 anos para algumas poucas horas

-Controlar o conteúdo acessado, principalmente por jovens na faixa de 7 a 12 anos

-Passar mais tempo juntos, praticando atividades que estimulem o físico e também a criatividade das crianças, como jogos e brincadeiras

-Ter uma rede de apoio que ajuda a ouvir e conversar com a criança sobre valores

-Ao menor sinal de mudança de comportamento, como falta de sono e de apetite, conversar para entender se ela está sofrendo com vício nas redes sociais e celular

-Conversar, principalmente com os mais jovens, sobre o que deve ou não ser compartilhado nas redes

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