Na audiência pública realizada, nesta quinta-feira (25), na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) com o objetivo de discutir situação dos Recursos Hídricos, os especialistas Foster Brown e Claudemir Mesquita voltaram a alertar sobre as graves consequências das mudanças climáticas, da degradação provocada pela ação humana sobre o Rio Acre e fizeram afirmações alarmantes quanto à situação da principal fonte de água de Rio Branco e municípios vizinhos.
De acordo com Foster Brown, pesquisador da Universidade Federal do Acre (Ufac), o processo de apartamento do Rio Acre já começou. “É necessário saber o que será feito quando o Rio Acre apartar. E isso já começou, né?”, alertou durante palestra com o tema “Rio Acre: das cheias as secas extremas”, que ministrou para subsidiar o debate.
Brown explicou que os eventos climáticos extremos no Acre obedecem a dois fatores principais: o desmatamento e as mudanças da composição na atmosfera e tem um contexto social e econômico. “Fizemos uma estimativa dos danos e prejuízos monetários, no caso de Rio Branco, causados pela cheia ocorrida em 2015. O prejuízo foi de R$ 200 a R$ 600 milhões, isso sem falar dos danos sociais e psicológicos. E em 2023? Será que esses danos ultrapassam os valores que eu acabei de mencionar? Provavelmente o estrago foi maior. Nós estamos em um processo de empobrecimento silencioso no estado por causa de eventos extremos de secas e cheias”, disse.
O pesquisador sugeriu a criação de uma lei que exija um diagnóstico completo dos danos e prejuízos causados pelos desastres e após, como as alagações.
“Só assim saberemos a real perda de tudo. Sem saber os prejuízos será muito difícil criar uma sociedade mais resiliente às cheias. Existem algumas recomendações como a educação, por exemplo, precisamos saber como podemos avançar no processo educativo do estado. Precisamos também de uma Defesa Civil realmente para todos, de um programa funcionando para restauração de florestas e outros ecossistemas em áreas críticas e necessitamos de uma Assembleia sendo catalisadora dessas ações”, pontuou.
Especialista em planejamento no uso das bacias hidrográficas e defensor do Rio Acre, o geógrafo e ambientalista Claudemir Mesquita, leu um poema de sua autoria no qual critica o Poder Público pelo “desleixo com as nossas águas” e alertou que se nada for feito agora, o rio desaparecerá. “Nossos filhos vão passar sede e culpar a gente por não ter feito nada”, enfatizou.
Mesquita indagou ainda: “Qual o plano para a população de Rio Branco continuar vivendo daqui algumas décadas? Uma vez que atualmente não existe água suficiente no subsolo para suprir o consumo de um bairro da cidade. Nossos rios e igarapés já não pulsam num tom aceitável. As instituições e poderes criados para defendê-los, deixaram contaminá-los”, disse lembrando que em 148 anos o Rio Acre sentiu apenas a escassez e o descaso com suas águas.
Também estavam presentes: representantes da Defesa Civil, do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC), da Ufac, da Secretaria de Educação, da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), deputados e vereadores do interior.
O presidente da Aleac, deputado Luiz Gonzaga (PSDB), conduziu a audiência pública destacando a importância do tema.
“Há muito tempo estamos preocupados com a situação da água potável e com o futuro da nossa população. Não podemos esperar mais, esse debate precisa ser feito agora. O Rio Acre quando não enche muito, seca demais. Os nossos igarapés estão todos poluídos e juntos, precisamos encontrar alternativas para mudar essa triste e preocupante realidade. Precisamos garantir água para a geração futura”, destacou o parlamentar. Ao final, ele informou que, do encontro, será elaborado um relatório para ser enviado aos órgãos do governo do Estado e aos membros da Comissão de Meio Ambiente da Aleac.