Marina Silva fica no governo. Em reunião com Lula, ministros palacianos, líderes no Congresso e Sonia Guajajara — que assim como ela teve a pasta esvaziada no relatório, aprovado em comissão, sobre mudanças na Medida Provisória que definiu a estrutura do governo —, a ministra do Meio Ambiente disse que foi questionada algumas vezes sobre uma eventual saída da administração, mas que vai ficar e “resistir” às investidas do Congresso para minar sua pasta.
O ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha, abriu a reunião fazendo uma analogia entre seu trabalho e o que desempenhou quando era médico atuando na Amazônia. Disse que quando entrava numa trilha ou na mata fechada, seu objetivo era “sair vivo”, mas que sabia que podia levar uma ferroada de arraia.
Na sua vez de falar, Marina pegou carona na metáfora e disse que sentia que as políticas ambientais levaram, de fato, uma “ferrada de arraia”, mas que permaneceria no cargo para resistir. Afirmou que reconhece as dificuldades da articulação política e os interesses que predominavam no Congresso, mas não escondeu a contrariedade com a perda de atribuições.
Padilha descreveu o processo de negociação com o relator da MP, Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Ele e os líderes alertaram para riscos caso o governo tente impor a recomposição das mudanças introduzidas por ele na composição do governo. Inclusive a derrubada da MP, com o retorno, a partir de 1º de junho, da estrutura da gestão Jair Bolsonaro e o “sumiço” de 17 ministérios.
Também foram feitos relatos de emendas que estão sendo construídas pela oposição que desfiguram ainda mais a MP e impõem novas derrotas à área ambiental, mexendo, por exemplo, na questão do licenciamento. A orientação do governo é barrar todas as tentativas de piorar o texto.
Ficou claro que o governo tem consciência de que existe uma maioria no parlamento que é contrária a muitos pontos das políticas ambiental e para os povos originários de Lula. Existe um temor com a votação do projeto que estabelece o marco temporal como regra para a demarcação de novas reservas indígenas.
Lula, quando falou, reafirmou a prioridade às políticas indígena e ambiental em seu governo e disse que os ministros podem “ter certeza” de seu compromisso com a implementação dessa agenda. Ele pediu que os ministros evitem demonstrar divergências internas em público e que haja a preocupação de se ter apenas uma visão de governo.
Sem se queixar de Marina, disse ter sido surpreendido no Japão com a negativa do Ibama de um licenciamento para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, mas não questionou a decisão técnica do órgão nem falou em reabrir a discussão.
A orientação final da reunião foi que, publicamente, o governo vai defender a restituição do texto original da MP, embora acreditem que será difícil obter êxito. Caso não seja possível, a ideia é que as pastas que perderam prerrogativas ou órgãos tenham voz na definição de políticas públicas mesmo com a subordinação formal a outras pastas.