Julgamento que pode tornar ex-presidente inelegível é retomado com placar de 3 a 1

Sessão foi reiniciada com voto de Cármen Lúcia

Ministros do TSE durante sessão de julgamento de chapa de Bolsonaro

Ministros do TSE durante sessão de julgamento de chapa de Bolsonaro Cristiano Mariz/Agência O Globo/29-06-2023

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retomou nesta sexta-feira o julgamento da ação que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos, com a expectativa de conclusão. Até o momento, já foram dados três votos pela condenação e um contrário.

A sessão foi reiniciada com o voto da ministra Cármen Lúcia. Depois, dela votam Nunes Marques e Alexandre de Moraes. Caso apenas um dele vote pela condenação, já haverá maioria.

Os ministros analisam se Bolsonaro cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em uma reunião com embaixadores, em julho do ano passado. Na ocasião, o então presidente realizou ataques sem provas ao sistema eleitoral. A ação foi apresentada pelo PDT.

Esta é a quarta sessão dedicada ao julgamento. Inicialmente, a previsão é que o caso fosse concluído na quinta-feira, após três sessões. Entretanto, o tempo não foi suficiente, e será utilizada a sessão desta sexta, originalmente destinada ao encerramento do semestre. Na próxima semana será iniciado o recesso judiciário.

Entenda o que ocorreu até agora:

Relator votou pela condenação

Na terça-feira, o relator, Benedito Gonçalves, votou pela condenação de Bolsonaro, afirmando que ele “violou ostensivamente” os deveres de presidente:

— O primeiro investigado (Bolsonaro) violou ostensivamente deveres de presidente da República inscrito no artigo 85 da Constituição, em especial zelar pelo exercício livre dos poderes instituídos e dos direitos políticos e pela segurança interna, tendo em vista que assumiu antagonização injustificada ao TSE, buscando vitimizar-se e desacreditar a competência do corpo técnico e a lisura do comportamento de seus ministros para levar a atuação do TSE ao absoluto descrédito internacional e ainda despejou sobre as embaixadoras e embaixadores mentiras atrozes a respeito da governança eleitoral brasileira — afirmou Benedito Gonçalves.

Raul Araújo abriu divergência

No início da sessão de quinta-feira, Raul Araújo votou e afirmou que não viu abuso no discurso de Bolsonaro aos embaixadores. O ministro reconheceu que o ex-presidente se “excedeu” em sua fala, mar argumentou que as declarações não conseguiram deslegitimar as urnas.

— Embora não se possa negar que as eleições de 2022 experimentaram um conjunto de percalços e dificuldades oriundo de discursos de discursos inverídicos, no qual a fala do então presidente Jair Messias Bolsonaro é exemplo significativo, há de se igualmente reconhecer que a Justiça Eleitoral foi capaz de conduzir o pleito de forma orgânica, com ampla e livre participação popular — afirmou.

Ministros acompanham relator

Após o voto de Araújo, os ministros Floriano Marques e André Tavares votaram e concordaram com a posição do relator. Marques afirmou que houve “responsabilidade direta e pessoal” de Bolsonaro, que teria assumido “os riscos” da sua conduta.

— Concluo ter o primeiro investigado agido com responsabilidade direta e pessoal, assumindo os riscos da conduta, por ocasião do evento reunião com embaixador em 18/07/2022, em claro abuso do poder político, desvio de finalidade e do exercício de suas competências e ainda uso indevido dos meios de comunicação social oficiais em benefício da própria candidatura à reeleição.

Tavares considerou que o discurso de Bolsonaro teve “distorções severas da realidade”

— Não apenas a mera falta de rigor em certas proclamações, mas a inequívoca falsidade perpetrada nesse ato comunicacional, com invenções, distorções severas da realidade, dos fatos e dos dados empíricos e técnicos, chegando ainda a caracterizar uma narrativa delirante, com efeitos nefastos na democracia, no processo eleitoral, na crença popular em conspirações acerca do sistema de apuração dos votos — disse o Tavares.

Braga Netto absolvido

Apesar da divergência sobre Bolsonaro, os quatro ministros que já votaram concordaram em absolver o vice na chapa de Bolsonaro, o ex-ministro Walter Braga Netto, que também é alvo da ação. Os ministros consideraram que ele não teve participação no evento.

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