A embarcação que desapareceu com cinco pessoas a bordo em uma viagem para explorar os destroços do Titanic é um submersível, não um submarino, como vem sendo popularmente chamada. A principal diferença está relacionada à autonomia no fundo do mar.
O submersível é menor e tem capacidade de locomoção limitada. O veículo depende de um navio-mãe que o acompanha da superfície com sistemas de navegação para orientar a viagem.
Kazuo Nishimoto, professor do Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica (Poli) da USP, diz que ambas as embarcações costumam se conectar por um cabo, o que parece não ser o caso da expedição com o Titan, desaparecido desde o último domingo (18).
O submersível Titan tinha o apoio do navio canadense Polar Prince. Segundo a empresa OceanGate Expeditions, responsável pela expedição, o veículo usava satélites da Starlink, companhia do bilionário Elon Musk, para ter conexão de internet e manter comunicação com a superfície.
Quando o navio de apoio está sobre o submersível, as embarcações conseguem enviar mensagens de texto curtas entre si. O último contato ocorreu após 1h45 de mergulho —o Titan se dirigia aos destroços do Titanic, a 3,8 quilômetros de profundidade.
A expedição ao Titanic começa em Newfoundland, no Canadá, de onde um helicóptero leva os turistas até um navio perto do local dos destroços, segundo reportagem da BBC. O submersível parte dessa embarcação, que serve como base durante a missão.
“Os submersíveis geralmente têm propulsão a motor elétrico e autonomia muito restrita. Não são como os submarinos convencionais, maiores e com geradores no interior”, diz Nishimoto. O professor explica que os submersíveis costumam ser transportados ao local em que operam acoplados no navio-mãe.
Segundo a OceanGate, o Titan tem reserva de oxigênio para até 96 horas quando cinco pessoas estão a bordo. O veículo mede 6,7 metros de comprimento e pesa cerca de 10 toneladas. Quando lançada ao mar, a embarcação leva duas horas para descer em águas profundas.
Diferentemente dos submersíveis, os submarinos saem e retornam ao porto por conta própria, sem depender de um navio para transportá-los e lançá-los ao oceano. Essas embarcações são maiores, podendo ultrapassar 150 metros de comprimento, e transportam mais pessoas.
Enquanto os submersíveis são usados para turismo, pesquisas, inspeção ou consertos no fundo do mar, os submarinos são utilizados principalmente para fins militares. Não à toa, se deslocam de forma mais rápida e cobrem grandes distâncias.
Os submarinos que têm propulsão nuclear, mais rápidos, chegam a 35 nós (ou 65 km/h). Já os submersíveis raramente ultrapassam os 5 nós (ou 9,2 km) —o Titan se desloca a 3 nós (5,6 km). Com maior autonomia, os submarinos têm a capacidade de ficar mais tempo submersos, podendo fazer viagens de meses, apenas com breves retornos à superfície para captar oxigênio.
“O emprego estratégico dos submarinos diesel-elétricos fica limitado, enquanto o do submarino com propulsão nuclear é vasto por possuir fonte virtualmente inesgotável de energia e desenvolver altas velocidades para se deslocar para qualquer lugar em curto espaço de tempo”, diz texto publicado pela Marinha brasileira.
A OceanGate descreve o Titan como um equipamento inovador. O veículo é dirigido por um controle semelhante ao de videogames, e seu interior é apertado e simples, com três monitores, um botão, uma janela pequena e um banheiro improvisado. O CEO da empresa, Stockton Rush, disse à emissora americana CBS que o veículo não exige muita habilidade para condução. “É como se fosse um elevador.”
David Pogue, repórter da CBS que viajou no Titan em 2022, disse à emissora britânica BBC que hesitou em embarcar porque alguns dos componentes pareciam improvisados. “Você dirige este submarino com um controle de jogo do [videogame] Xbox e parte do lastro era de canos de construção abandonados.”
AS DIFERENÇAS
Submarino
Pode ultrapassar 150 metros de comprimento;
Tem a capacidade de ficar mais tempo submerso, podendo fazer viagens de meses;
Desloca-se de forma mais rápida —os que têm propulsão nuclear chegam a 35 nós (ou 65 km/h);
É um veículo autônomo;
É usado para pesquisas, inspeção ou consertos no fundo do mar e também para fins militares.
Submersível
Pode ter menos de 10 metros de comprimento e comporta poucas pessoas;
Não tem autonomia para ficar muitos dias submerso —o Titan tem oxigênio para até 96 horas quando cinco pessoas estão a bordo;
Desloca-se de forma mais lenta e não cobre grandes distâncias;
Depende de um navio com sistemas de navegação para orientar sua viagem de forma remota;
É usado para pesquisas, turismo, inspeção ou conserto no fundo do mar.