À esquerda, Charles Manson sendo preso em 1969, à direita, Leslie van Houten, Susan Denise Atkins e Patricia Krenwinkel, participantes da seita, voltando para suas celas após sentença de morte, em 1971 Reprodução
Ao final dos anos 1960, no auge da contracultura, uma série de crimes chocou os Estados Unidos. A mando de Charles Manson, um supremacista que se apresentava como líder espiritual, um grupo de jovens integrantes da seita “Família Manson”, ou “A Família”, foi responsável pela morte de sete pessoas, incluindo a atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski. Após 53 anos, Leslie Van Houten, deixou a cadeia nesta terça-feira (11) para cumprir condicional. Ela é a segunda participante do grupo a sair da prisão; em 1985, Clem Grogan, também ganhou condicional.
A partir de uma reinterpretação deturpada do “Álbum Branco” dos Beatles e acreditando ser a reencarnação de Cristo, Charles Manson incentivou uma série de assassinatos sob o pretexto de provocar uma guerra civil entre brancos e negros. Em sua teoria apocalíptica e racista, batizada de “Helter Skelter”, nome de uma canção do grupo britânico, Manson acreditava que governaria o mundo após a vitória dos brancos. Para isso, promoveu chacinas brutais em bairros brancos e ricos, acreditando que o gesto incitaria a culpa contra a população negra.
Sua seita foi responsável pelo assassinato de Sharon Tate, grávida de 8 meses, de quatro de seus amigos e, um dia depois, do casal Leno e Rosemary LaBianca. Os massacres nas duas casas de Bel Air aconteceram uma semana antes do lendário festival de Woodstock, mas só começariam a ser resolvidos como parte da mesma conspiração quando a assassina de Sharon, Susan Atkins, revelou a uma colega de cela na cadeia todo o plano das mortes.
Veja como estão hoje os participantes da seita de Charles Manson:
Leslie Van Houten
A mais nova do grupo, aos 19 anos, Van Houten foi condenada por esfaquear Rosemary LaBianca, uma mulher de 38 anos, em agosto de 1969. Em seu primeiro julgamento, em 1971, ela confessou o crime e contou que limpou suas digitais de objetos que poderiam incriminá-la e queimou as próprias roupas. Sua primeira pena foi de morte, depois revertida em prisão perpétua. Atualmente, com 73 anos, sendo 53 encarcerada, ela se tornou a primeira mulher da “família” a deixar a prisão e a cumprir a pena em liberdade condicional, após decisão da Suprema Corte da Justiça da Califórnia.
A criminosa afirma que se arrependeu por participar dos assassinatos. Segundo ela, na época dos crimes, estava com problemas mentais agravados pelo uso de LSD. Van Houten também afirmou que acreditava que Charles Manson era Jesus Cristo.
Charles “Tex” Watson
Tex Watson foi o braço direito de Manson na orquestração dos assassinatos que levaram à prisão de ambos. Ele comandou, por ordens de Manson, o homícidio de Sharon Tate e foi o responsável por sua morte, após esfaqueá-la 15 vezes. No dia seguinte, também participou no assassinato do casal LaBianca. Em 1971, foi condenado à morte pelo homicídio da atriz, Leno LaBianca, Rosemary LaBianca e outras cinco pessoas, bem como por conspiração. Em setembro de 1972, a pena de morte foi comutada para prisão perpétua.
Atualmente com 77 anos, Watson se converteu a ministro de uma igreja cristã, casou-se e teve quatro filhos. Teve a liberdade condicional negada 17 vezes e continua preso.
Bobby Beausoleil
Beausoleil, aos 75 anos, cumpre pena perpétua pela morte do músico Gary Hinman, ocorrida poucos dias antes do massacre Tate-LaBianca. Segundo o promotor Vincent Bugliosi, Hinman foi morto porque Manson acreditava que ele devia dinheiro e uma propriedade ao grupo. Esse foi o primeiro de uma série de assassinatos cometidos pela Família. Ele foi preso alguns dias antes do massacre de Tate e dos LaBianca. O criminoso se casou e teve quatro filhos mesmo preso. Além disso, publicou livros e gravou músicas profissionalmente.
Patricia Krenwinkel
Após a morte, em 2009, da companheira de culto, Susan Atkins, Krenwinkel é agora a reclusa mais antiga do sistema penal da Califórnia. Patricia participou dos assassinatos de Sharon Tate e esfaqueou Abigail Folger, uma das socialites que estava na casa da atriz. Ela também esteve no assassinato de Leno e Rosemary LaBianca, na noite seguinte.
Quando questionada, mais tarde, ela afirmou que a única coisa que passava em sua cabeça na época era que “Agora ele não enviaria nenhum de seus filhos para a guerra”.
Bruce M. Davis
Condenado a duas prisões perpétuas pelos assassinatos de Donald Shea e Gary Hinman, Davis chegou a conseguir uma liberdade condicional em 2012, mas teve esse benefício negado pelo governador da Califórnia. Atualmente, aos 80 anos, está em uma penitenciária na cidade de San Luis Obispo.
Lynette Fromme
Ainda que não tenha participado dos principais assassinatos cometidos pela seita, Fromme, que era conhecida como “Squeaky”, foi presa, em 1975, após tentar matar Gerald Ford, então presidente dos Estados Unidos.
Em 1969, após as chacinas, “Squeaky” foi condenada a pequenas penas na cadeia por obstrução de justiça, ao tentar impedir outros membros da seita de deporem em juízo e por ela mesma se recusar a depor. Em 1972, seu nome apareceu envolvido num assassinato promovido por uma organização ultra-racista branca formada nas prisões da Califórnia.
A seguidora de Manson passou 34 anos na prisão, recusando todas as oportunidades de mudar para um regime semiaberto, ao jamais comparecer às audiências. Em 2009, após revisão da pena, ela foi liberada.
Clem Grogan
Além de estar presente nas duas noites de chacina, Grogan foi o responsável por matar Donald ‘Shorty’ Shea, o capataz do rancho onde moravam. Condenado à prisão perpétua, em 1977, livre das drogas e arrependido de seus atos, o criminoso desenhou um mapa para as autoridades indicando o lugar onde Shea, cujo corpo nunca tinha sido descoberto, estava enterrado. Por conta disso, em 1985, conseguiu liberdade condicional e deixou a prisão, sendo o único integrante da Família Manson, até então, a conseguir o benefício.
Susan Atkins
Conhecida como “A garota de Manson”, participou das duas chacinas comandadas por Manson e confessou os crimes com detalhes. Atkins afirmou ter matado o bebê de Sharon Tate, apesar do apelo da atriz,e ter usado o sangue das vítimas para escrever “pigs” (porcos) pelas paredes da casa.
Presa em 1 de outubro de 1969, a jovem afirmou que estava sobre o efeito de LSD na noite do crime, mas passou anos sem manifestar arrependimento. Susan se converteu ao Cristianismo dentro da penitenciária, em 1974, e casou-se duas vezes com advogados. Chegou a ter 18 pedidos de liberdade condicional negados e foi a mais antiga presa do estado da Califórnia antes de falecer, em 2009, após ser liberada por conta de um câncer terminal.