Ao determinar o retorno de Monique Medeiros da Costa e Silva ao presídio, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mencionou o descumprimento de “medidas cautelares” impostas durante sua “prisão domiciliar”.
Na decisão, o magistrado cita publicações nas redes sociais feitas pela professora, ré por torturas e homicídio do filho Henry Borel Medeiros, de 4 anos. Assim como o ex-namorado, o ex-médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, ela deverá aguardar presa o julgamento do caso.
Gilmar cita que postagem em rede social configura ‘afronta’
O pedido analisado por Gilmar Mendes foi feito pelo pai do menino, Leniel Borel de Almeida, assistente de acusação do processo. No chamado recurso extraordinário, o engenheiro anexa alguns prints das postagens do perfil do Instagram da professora e afirma que ela propagou “fake news” na plataforma.
“Ao revogar a prisão preventiva de Monique sem um efetivo controle por parte do Poder Judiciário, fica evidente que ela continua em sua saga de tentar ludibriar a sociedade perante suas redes sociais buscando, por meio de disseminação de fake news, construir a imagem de uma ‘boa mãe’, sustentando a narrativa de que não tem nenhuma responsabilidade pelos crimes cometidos contra Henry”, escreveu o advogado Cristiano Medina da Rosa, que representa Leniel.
O ministro Gilmar Mendes, em sua decisão, cita que quando concedida a “prisão domiciliar” a Monique, ficou estabelecido que, quaisquer que fossem as comunicações com terceiros — “seja pessoal, por telefone ou por qualquer recurso de telemática, assim também postagens nas redes sociais” —, ocasionariam o “reestabelecimento da ordem prisional”.
Para o magistrado, que se baseia em uma decisão do Ministério Público, o uso do celular para fazer publicação na rede social, configura “evidente afronta às cautelares”.
Para a defesa de Leniel, redes de Monique ajudariam a construir imagem de ‘boa mãe’
O recurso da defesa de Leniel Borel cita uma “estratégia” de “escrever cartas em tom de vitimização”. No documento, foram anexadas capturas de tela (prints) da conta do Instagram de Monique Medeiros, em que, segundo a representação, a professora ajudou a compartilhar imagens que apelariam para a comoção pública. Definida como uma “disseminação de fake news” pelos advogados, o perfil na rede social ajudaria a “construir a imagem de uma ‘boa mãe'”.
Postagens de Monique seriam ‘perseguição’ ao pai de Henry
A defesa do pai de Henry observa, em seu recurso, que Leniel — que também é assistente de acusação — sofre uma “verdadeira perseguição” por parte de Monique.
Nos prints anexados ao documento, há mensagens que atribuem a ele o rótulo de “omisso”. Em outra imagem, a postagem atribuída a Monique trata como “vergonha” uma postagem de Leniel ao lado do advogado Ailton Barros, que foi candidato a deputado estadual nas últimas eleições, em que o pai de Henry estaria “usando a imagem” de Henry para “angariar votos”.
Resposta de Monique a seguidores seria ‘crime contra a honra’ de funcionários do hospital
Outro print anexado ao documento atribui a morte de Henry Borel aos profissionais de saúde que o atenderam em um hospital da Barra da Tijuca. Para a defesa de Leniel Borel, isso figura como “crime contra a honra das tais testemunhas”.
Em resposta a seguidores, a professora cita um “conjunto de fatores”, citando o ex-companheiro Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, e o hospital.
Mãe de Henry expressou desejo de deixar o Brasil
Ainda se baseando em prints, o documento cita como demonstração de “imprescindibilidade do restabelecimento da prisão preventiva” uma resposta de Monique a seguidores nas redes sociais.
Uma delas questiona se a mãe de Henry já pensou em sair do Brasil e a resposta foi: “Sim, tenho pensado muito nisso e vendo todas as formas viáveis de isso acontecer“.
Idas e vindas à prisão
Em abril de 2022, a professora Monique Medeiros da Costa, ré pela morte do filho Henry Borel, ganhou liberdade após decisão da juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal. Ela deixou o presídio Santo Expedito, em Bangu, sob a determinação de que fizesse o uso de tornozeleira eletrônica, que deveria ser instalada em até cinco dias.
À época, o Ministério Público do Rio apresentou recurso contra a decisão da magistrada, ao alegar o descumprimento de uma das medidas cautelares impostas por Elizabeth Louro. De acordo com o promotor Fábio Vieira, Monique teria se “envolvido em postagens nas redes sociais, apesar da proibição pelo juízo em sua decisão”. A defesa de Monique informou, no entanto, que a publicação havia sido feita por uma estudante paulista, e não pela professora.
Ainda no ano passado, Monique voltou a ser presa no meio do ano, por determinação dos desembargadores da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Na ocasião, os advogados de Monique informaram ao GLOBO que entraram com um novo pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça em favor da cliente deles.
No fim de agosto, no entanto, o ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), revogou a prisão preventiva da professora Monique Medeiros da Costa e Silva. Na decisão, à época, o magistrado deferiu o pedido dos advogados e concedeu a ela o direito de responder ao processo em liberdade.