‘É um ato de cuidado com quem se ama’, diz autora de livro sobre costume sueco da ‘faxina antes da morte’

Margareta Magnusson escreveu manual sobre como se livrar de excessos antes de partir

O nome parece difícil para os que não estão com o sueco em dia, mas o significado de döstädning é mais simples do que parece.  é morte. Städning, limpeza. Tradição nórdica, trata-se do ato de arrumar o que se acumulou em vida para não transformar a tarefa em fardo para familiares, amigos, funcionários. Literalmente, “faxina antes da morte”, ato que pode, jura a autora best-seller de “O que deixamos para trás — a arte sueca do minimalismo e do desapego”, lançado agora no Brasil pela Intrínseca, ser libertador, um exercício de autoconhecimento e, de quebra, uma tremenda gentileza aos que ficam.

A autora sueca Margareta Magnusson, de 89 anos | Divulgação

Artista plástica que sempre adorou escrever, dona Margareta se surpreendeu com as instruções detalhadas deixadas por sua mãe sobre o que fazer após a morte com cada objeto em sua possessão. Rotina que ela iniciara após completar 65 anos. Era o döstädning, da qual se tornou devota. A disposição da mãe a ajudou, inclusive, conta, a viver melhor o luto.

Decidiu então passar a sabedoria adiante, em conversas e instruções à filha sobre as coisas que a rodeavam. Virou febre nas redes sociais. O livro, um manual simples, direto e recheado de compaixão com dicas mais ou menos óbvias, organizadas de forma clara, multiplicou sua audiência. E ela foi, inevitavelmente, comparada à guru japonesa da ordem e do bem-estar, Marie Kondo. Na entrevista ao GLOBO, a sueca, no entanto, enfatiza as diferenças que as separam: “Marie trata da organização das coisas que você manterá consigo. Eu escrevo sobre se despedir delas”.

Eliminar pertences em vida com foco em quem lidará com suas pegadas pode ser, argumenta a artista, mais revigorante do que inusitado. Parece o argumento perfeito para uma série de TV na linha makeover, que acompanhe indivíduos interessados em aprender como deixar sua morte organizada na prática, do testamento às roupas e joias a serem doadas, e para quem. E é. A Midas da comédia Amy Poehler abraçou a ideia e produziu “The gentle art of Swedish death cleaning”. O programa estreou em abril no serviço de streaming Peacock, do canal americano NBC, e recebeu elogios da revista Rolling Stone (“Com graça e humor fino, não debocha das pessoas, mas celebra sua resiliência”).

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