Embrapa diz que Sistemas Agroflorestais ajudam na recuperação de áreas degradadas da Amazônia

Empresa cita projetos como Reca, em localidade vizinha ao Acre, em Rondônia, como bom exemplo de produção

Áreas da Amazônia que um dia foram classificadas como degradadas estão sendo recuperadas com a expansão dos Sistemas Agroflorestais, identificados pela sigla SAF. A expansão vem sendo possível com o cultivo de frutas e sementes de espécies nativas com preservação da floresta, o que ajuda a acelerar a recuperação de áreas degradadas.

Não há dados específicos, mas um indicador é o avanço de plantações dedicadas ao cacau, cultura praticamente exclusiva no formato SAF – o fruto precisa da sombra das árvores de grande porte – por agricultores familiares. Em 2011, este cultivo ocupava 92 mil hectares. Em 2021, cacaueiros se espalhavam por 151,9 mil ha, alta de 64% em dez anos. Para especialistas, mesmo com desafios, os SAFs avançam embalados nos ganhos financeiros que proporcionam às famílias na Amazônia, mostram estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de 2021.

Foto: Reprodução

Os números atestam a viabilidade econômica dos SAFs, apontando renda anual equivalente de R$ 4.200 por hectare. Em Nova Califórnia (RO), um ex-distrito que já pertenceu ao Acre até o ano de 1987, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o território era de Rondônia e não acreano, cerca de 300 famílias de agricultores que fazem parte do projeto Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado (Reca) conseguem, em média, renda anual de R$ 3.100 por hectare apenas com a venda de frutos – são processados mais de 2.000 toneladas de açaí, castanha, cupuaçu, pupunha, entre outros.

Nos mil hectares explorados pela Reca em formato SAF, porém, os agricultores também exploram plantas medicinais e madeira, ampliando a renda por área. Ao todo, 40 espécies de árvores e plantas são trabalhadas pelo projeto.

No Pará, mostra o mesmo estudo da Embrapa, a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) iniciou com o trabalho de imigrantes japoneses que copiaram a policultura dos ribeirinhos, cujas roças misturavam árvores frutíferas e florestais.

Hoje, as 167 famílias de agricultores associados produzem cerca de cem produtos – entre os quais se destacam açaí, cacau e pimenta-do-reino – nos mais de 6.000 ha explorados em SAF. “Do ponto de vista da recuperação de áreas degradadas, o SAF é uma das melhores saídas. A partir do décimo ano já se tem vegetação bastante consolidada na área produtiva”, diz Vicente Morais, engenheiro agrônomo do Camta.

“O SAF cresce porque gera renda e permite que o agricultor ofereça vida digna à família, com acesso a educação, saúde, moradia, internet e tudo o mais que a classe média dos grandes centros tem. Ele equaciona o grande paradoxo da Amazônia, que é a região com a mais rica biodiversidade com uma das populações mais pobres do país”, diz Judson Ferreira Valentim, pesquisador da Embrapa Acre e presidente do Comitê Gestor do Portfólio Amazônia. Sob sua direção, 238 pesquisadores trabalham em 64 projetos que levam inovação e capacitação para os SAFs aos agricultores da região.

“Ainda garoto aprendi que, para plantar e colher no longo prazo, o mais importante é a educação, por isso trago pessoas à minha propriedade para mostrar as vantagens do SAF e de culturas perenes como castanha e andiroba”, diz Michinori Konagano, referência em palestras e cursos sobre o tema. Associado do Camta, seus 230 ha de agroflorestas produzem cacau, açaí, pimenta e cupuaçu.

Um dos maiores desafios para o SAF ganhar mais ritmo é a falta de recursos financeiros. Para Hamilton Condack de Oliveira, diretor-presidente do Reca, os frutos das agroflorestas ainda são pouco valorizados. “Todos acham lindo, maravilhoso, dão os parabéns pelo trabalho de desenvolvimento sustentável, mas na prática as empresas não pagam um valor diferenciado. Hoje temos um trabalho espetacular com Natura e L´Occitane, mas são só com elas”, lamenta.

Outra corporação que investe no SAF é o Grupo BBF (Brasil BioFuels), cujo projeto-piloto envolve cacau, açaí e outras espécies nativas que, até o final do ano, serão implementadas em mil ha em Roraima. O grupo cultiva mais de 75 mil ha de palma de óleo em áreas antes degradadas. E quer avançar, com base em levantamento da Embrapa que apontou cerca de 30 milhões de ha aptos ao cultivo de palma de óleo na região. “O Brasil possui um ‘pré-sal verde’ com muito potencial para o SAF e, com esse modelo consorciado da palma de óleo com o cacau e o açaí, vemos que é possível acelerar o processo de recuperação da floresta amazônica”, diz o CEO Milton Steagall.

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