ContilNet Notícias

Imagens mostram como quadrilha agia para trocar malas de passageiros por bagagens cheias de cocaína

Por Globo.com

Nesta semana, 17 pessoas foram presas suspeitas de participar de uma quadrilha que roubava as etiquetas de identificação das malas e conseguia despachar drogas pelo Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o maior do Brasil.

O Fantástico teve acesso a imagens exclusivas de uma sequência de crimes do bando e mostra como era a rotina dos criminosos.

Uma das presas é a Carolina Pennachiotti, de 35 anos. Ela aparece em uma das gravações reclamando do “emprego”, que na verdade é o crime de organizar o tráfico de drogas no terminal.

“Ai meu pai amado. Acho que vou ter que arrumar um emprego, mano. Esse daqui tá difícil e cansativo”, diz.

Ela é funcionária de uma empresa que presta serviços no aeroporto e a Polícia Federal começou a investigá-la em março passado, depois que as turistas brasileiras Kátyna e Jeanne foram presas injustamente na Alemanha por causa da troca de etiquetas em suas malas.

Carolina e Tamiris aparecem juntas em imagens conseguidas pela Polícia Federal. — Foto: TV Globo/Reprodução

Fase 1: falso check-in

Segundo as investigações da PF, o caso das turistas brasileiras não foi o primeiro. Em 23 de outubro do ano passado, imagens mostram um carro chegado ao aeroporto e o motorista indo embora. Um homem desce com uma mala cheia de cocaína:

é então que entra em cena Tamiris Zacharias, 31 anos, funcionária da Gol Linhas Aéreas. Na imagem, é possível ver ela com um telefone na mão, perto de uma área de check-in;

o homem com a mala, também com celular na mão, se encontra com Tamiris e chegam juntos ao balcão de atendimento;

ela recebe a bagagem como se estivesse fazendo o procedimento normal, mas não passa de encenação e nenhum comprovante é emitido;

a mala carregada com cocaína vai para a esteira e Tamiris sai do guichê, acompanhada do homem, que depois vai embora sozinho. Ele não foi identificado:

Havia 43 quilos de cocaína dentro da mala e nenhum criminoso apareceu para pegar a droga em Lisboa.

Em outro flagrante, Tamiris e Carolina aparecem juntas. Em áudio interceptado pela PF, Carolina mais uma vez reclama, dessa vez diz que está com fome e esperando a Tamires “mandar a bola”.

Segundo os investigadores, bola quer dizer despachar cocaína.

E procedimento se repete, com um homem chegando com a mala e se encontrando com Tamiris. Em seguida, as parceiras se encontram e saem juntas do aeroporto. Em áudio enviado para a mãe, Carolina fala sobre o dinheiro que recebeu.

“Tenho que pegar R$ 500 meu, R$ 500 da Tamires, de um café que a gente ganhou. Tenho que ir atrás da minha moeda”, diz.

Na gíria dos criminosos, café significa adiantamento pelo crime que acabaram de cometer.

Fase 2: área restrita

Depois do falso check-in, o esquema criminoso continua dentro da área restrita do aeroporto e um novo personagem aparece: o funcionário Deivid Souza Lima. Ele sabe que câmeras filmam o local e, por isso, coloca uma mala para que ninguém veja o que acontece atrás.

Segundo as investigações, neste momento outro funcionário identificado como Pedro Venâncio pega a etiqueta de identificação de uma bagagem e coloca no bolso da calça. Cerca de 15 minutos depois, a mala com drogas aparece.

Segundo a polícia, é neste momento que Pedro Venâncio coloca a etiqueta que ele roubou na mala com 43 quilos de cocaína.

“Eles fazem sempre de maneira velada para, quando você ver, sem a atenção devida, parece que estão trabalhando normalmente”, diz o delegado da Polícia Federal Felipe Lavareda.

A cocaína despachada pela quadrilha viajou até Paris e lá os criminosos tentaram pegar a droga, mas acabaram sendo presos. No dia seguinte, 4 de março, aconteceu a troca de mala das brasileiras Kátyna e Jeanne.

O esquema foi idêntico, com participação de Tamiris, mas quem entregou a mala foram duas mulheres. Pedro Venâncio foi o responsável por retirar as etiquetas das bagagens delas e colocar na mala com drogas.

Esquema descoberto

A Polícia Federal identificou três criminosos acusados de chefiar a quadrilha do aeroporto. Um deles é Fernando Reis, apelidado de Brutus.

Foi ele que planejou a mentira que Tamiris Zacharias deveria contar caso alguém perguntasse algo para ela sobre o despacho da bagagem. O plano era dizer que o dono da bagagem só pediu informação sobre check-in e que ela não o conhecia. O plano, no entanto, não deu certo e a quadrilha foi presa.

Outro lado

📌 A defesa de Carolina disse que a prisão configura violação das normas legais e que vai demonstrar a improcedência das acusações.

📌 A WFS Orbital, empresa terceirizada que contratou Carolina para orientar passageiros nas filas, informou que colabora com as investigações e oferece treinamento aos seus colaboradores.

📌 Tamiris foi demitida e, em depoimento à polícia, confessou participação no esquema.

📌 A Gol informou que desde abril deste ano, quando soube das investigações, se colocou à disposição das autoridades e que repudia tais ações criminosas.

📌 Os advogados de Deivd, Pedro Venâncio preferiram não se manifestar.

📌 A defesa de Brutus diz que ele é inocente.

📌 A Latam, empresa pela qual Kátyna e Jeanne viajaram afirmou que tem colaborado com as autoridades e trabalha no sentido de melhorar a eficiência no manejo de milhões de volumes transportados todos os dias.

📌 A Anac informou que a concessionária que administra o aeroporto tem até o fim do ano para aumentar o número de câmeras, restringir o uso de celulares em alguns setores e implementar outras medidas de segurança.

📌 A concessionária informou que o projeto das câmeras está sendo desenvolvido e que contribui com a investigação.

Para ter acesso aos vídeos, clique AQUI.

Sair da versão mobile