Nesta sexta-feira (21) completam-se 43 anos do assassinato do líder sindical Wilson Pinheiro de Souza, morto com três tiros de armas de fogo dentro da sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, município do interior do Acre.
Apesar de tanto tempo, o crime continua envolto em mistérios porque não se sabe até hoje quem foram os executores ou os mandantes do crime, questionam familiares do sindicalista, como sua filha mais velha, a professora aposentada Hiamar Pinheiro, moradora da zona rural de Epitaciolândia.
Era uma segunda-feira, por volta das 20 horas do dia 21 de julho de 1980, quando Wilson Pinheiro, ao lado de dois delegados sindicais, Antônio Pires e João Bronzeado, assistiam televisão na sala da sede do sindicato. Viam capítulos atrasados de um sucesso da televisão na época, a novela global “Água Viva”, na qual o ator Raul Cortez fazia o papel do vilão “Miguel Fragonard”, apresentando ainda a beleza da juventude da atriz Glória Pires, que aparecia em trajes de banho nas praias do Rio de Janeiro – o seminudismo, aliás, era novidade na sisuda pauta de costumes imposta no país pelos governos da ditadura militar, que começava a praticar a sua anunciada abertura, “lenta e gradual”.
Mas aquele sindicalista tinha mais coisas a fazer do que ver novelas e acompanhar a abertura do regime que solapou a democracia do país em 1964 e os lances sociológicos do incipiente reencontro da sociedade brasileira com a liberdade democrática.
Os anos de chumbo teriam que ter fim. Literalmente. Menos para aquele homem e muito menos para aquela noite, que 43 anos depois, ainda não terminou. No momento em que levantou seu corpanzil de quase dois metros de altura para desligar a TV em preto e branco a vida começou a escurecer de fato para aquele homem.
Wilson Pinheiro foi atingido por três tiros disparados por alguém posicionado na Rua Major Salinas e que disparou tiros certeiros no sindicalista o qual usava sua liderança para unir das cidades e das florestas às lutas dos brasileiros de norte a sul do país e cujo epicentro era as greves dos sindicatos do ABC paulista liderados por um certo Luiz Inácio da Silva, que ainda não havia incorporado o apelido Lula ao sobrenome do futuro presidente da República, em três mandatos. Nem ele próprio sabia, naqueles tempos distantes, que isso poderia um dia acontecer, e por três vezes seguidas.
Wilson Souza Pinheiro era natural de Careiro, no Estado do Amazonas. Nasceu em 15 de fevereiro de 1933. Poucos se sabe de sua história antes de sua morte, mas sua história pessoal e seu sacrifício inspirou toda uma geração e ele passou a ser reconhecido nacionalmente por sua atividade sindical, ao lado dos trabalhadores da floresta através do ideal de que o homem pode conviver pacificamente com a natureza.
Em 1979, Wilsão, como também era conhecido, liderou um mutirão. Foi o “Mutirão contra a Jagunçada”, que reuniu centenas de trabalhadores os quais marcharam contra jagunços armados até os dentes que ameaçavam os posseiros da região. Os trabalhadores tomaram mais de 20 rifles automáticos dos jagunços e entregaram ao Exército em Rio Branco.
No mesmo ano, Wilson liderou uma comissão de trabalhadores rurais e indígenas do Acre na busca pelo fim do conflito entre a etnia Apurinã e os assentados pelo Incra em territórios indígenas e assim foi gerado o embrião que mais tarde se transformou na “Aliança dos Povos da Floresta”.
Um ano após as empreitadas, os fazendeiros da região, os chamados “paulistas e sulistas”, se reuniram para dar cabo ao movimento de resistência dos seringueiros. No dia 21 de julho de 1980, por volta de 20h30, o então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, pai de oito filhos, foi cruelmente assassinado pelas costas quando se encontrava reunido com outros trabalhadores na sede do sindicato. Um crime insolúvel até hoje, um caso a merecer a reflexão de um país cujos heróis são de carne e osso mas, por isso mesmo, abatidos a tiros.