O jornalista Benjamim Zegarra, de 58 anos, que atuou na imprensa do Acre, sempre de forma polêmica, dos anos 80 até meados de 2000, dado como morto após sofrer seguidos AVCs em Porto Velho (RO), onde vivia após se mudar de Rio Branco, está vivo e mora com um irmão numa fazenda na zona rural de Guajará (AM), na região de fronteira com Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá. Suas condições de saúde, no entanto, são lamentáveis: ele não fala, não anda e só se alimenta através de sonda gástrica. Está assim já há oito anos.
“Ele não tem movimentos nem para mastigar ou para engolir a água, mesmo quando tem sede”, conta Mildes Zegarra, o irmão do jornalista que cuida dele em sua pequena fazenda. “Até para tomar água, a gente tem que usar uma seringa para colocar o líquido na garganta dele”, acrescentou.
A comida é batida em processador ou liquidificador para ser inoculada em seu estômago através de sonda, já que ele não come nada sólido.
Sua comunicação com a família é apenas através dos olhos. “Quando a gente quer saber se ele quer água ou comida, perguntamos e dizemos para ele, em caso de confirmação, para olhar para cima. Ele faz o que a gente pede porque entende perfeitamente tudo o que dizemos”, contou o irmão.
Isso significa que a parte sensorial do cérebro do jornalista não foi afetada. Ele reconhece as pessoas e demonstra ter boa memória. Já a parte motora, que estabelece os movimentos do corpo, esta sim, foi duramente afetada e o jornalista vive em estado vegetativo.
Tudo começou em 2014, contou o irmão. O jornalista iria para o trabalho, na Assembleia Legislativa de Rondônia, onde atuava como assessor de imprensa de um deputado estadual, quando de repente, dentro do ônibus, lhe faltou o chão. “Ele desmaiou e só acordou no hospital. Ele morava só em Porto Velho e a família só foi avisada disso muitos dias depois porque uma assistente social achou o número do telefone da minha filha na agenda dele”, disse Mildes Zegarra.
Benjamim chegou a vir passar as festas de fim de ano de 2014 com a família, na região de Cruzeiro do Sul e Guajará. Estava disposto a deixar Rondônia e voltar a morar em Cruzeiro do Sul, para ficar mais perto da família, que é toda natural do Juruá. Mas ainda em 2015, quando retornou para Porto Velho para providenciar a mudança de volta ao Acre, teve o segundo AVC e desde então não falou mais, nem teve qualquer tipo de movimento no corpo.
Depois de passar mais de três meses hospitalizado no Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, a família o levou para uma fazenda nos arredores de Guajará, onde ele é cuidado pelo irmão e a cunhada, esposa de Mildes. “A gente faz o que pode mas é grande o sofrimento”, lamentou o irmão, que lamenta também o fato de os amigos do jornalista terem desaparecido. “Parece até que o Benjamim já morreu mesmo para essas pessoas”, reclamou.