Crise anunciada
O governo do Acre está se antecipando a uma nova onda migratória de refugiados a partir de outubro com epicentro no Peru. O fechamento da fronteira do país vizinho por conta de crise política teria causado um represamento do fluxo que deverá transbordar assim que forem abertas as comportas, o que está previsto para a próxima primavera. Este foi o tema da reunião do governador Gladson Cameli com dois times de burocratas enviados pelo Governo Federal nesta segunda-feira (4). O governador dialogou com 22 integrantes dos ministérios da Defesa, da Justiça e Segurança Pública, dos Direitos Humanos, da Saúde, das Relações Exteriores e da Casa Civil, sobre estratégias em relação à crise migratória no Acre.
Abin e Onu
A reunião do governador Gladson Cameli com a comitiva interministerial foi realizada na Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e contou, também, com representantes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), da organização humanitária católica Cáritas Brasileiras, da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Em seguida a comitiva seguiu para Brasiléia, Epitaciolândia e Assis Brasil onde terá reuniões até quinta-feira (6).
Portal
O Alto Acre, neste vasto continente que é o Brasil, faz o papel equivalente ao da Grécia e da Turquia no continente europeu, funcionando como porta de entrada para refugiados e assumindo um indesejável protagonismo nesta que é considerada uma das mais graves crises humanitárias internacionais. Os estudiosos chegaram a um consenso de que a crise migratória mundial alcançou o seu apogeu em 2015, mas isso porque os acadêmicos só pensam na Europa, aqui no Acre desde o terremoto no Haiti, em 2010, levas e mais levas de haitianos começaram a circular por Brasiléia e Epitaciolândia.
Manchetes
Em 23 de dezembro de 2011, às vésperas do Natal, os hotéis do Alto Acre estavam tão ocupados que tinha haitianos amontoados até na sala de recepção, segundo fotos estampadas em jornais de todo o Brasil. Em 2012 até os coiotes mexicanos já estavam trazendo sua experiência para a América do Sul e fazendo a divulgação do Brasil como novo destino para povos de outros países em crise como paquistaneses, afegãos e senegaleses entre outros.
007
Foi o serviço de inteligência da Secretaria de Justiça e Segurança Pública que detectou o iminente recrudescimento do trânsito de imigrantes que, por enquanto, estão retidos no Peru. A previsão resultou na elaboração de um Plano Estadual de Contingência Migratória, que está sendo discutido com a alta burocracia ministerial. Mas, o Acre já tem mais de uma década de know how em acolhimento de refugiados Entre 2010 e 2022, mais de 44 mil pessoas, entre haitianos e migrantes de outras nacionalidades, entraram no Brasil pelas fronteiras do Acre, vindos principalmente pelo Peru.
Venezuela
Em 2023, estima-se que ocorra o ingresso de 50 a 60 migrantes por dia, em sua maioria venezuelanos. “Entender por que o fluxo aumentou ao longo desse ano é muito importante, para tomar ações informadas e específicas que possam impactar as políticas do Estado”, explicou a diplomata da Secretaria Nacional de Relações Exteriores, Anna Paula Mamede.
Nazis
Um dos fatores que pesou na opção do Brasil como destino final na crise migratória nos anos 2010 foi o crescimento econômico do país. A onda migratória foi acompanhada por uma onda de xenofobia jamais vista entre o multirracial e acolhedor povo brasileiro, principalmente na região Sul, onde os haitianos foram parar em busca de trabalho em granjas, frigoríficos, vinícolas e canaviais. Lá passaram a ser vítimas de agressões físicas e insultos racistas jamais registrados no Brasil.
Coiotes
Mas, nem o racismo e a xenofobia reduziram o ímpeto da corrente migratória. Em 2012, com a chegada dos coiotes mexicanos, uma entrada para o Brasil começou a custar de US$ 2 mil a US$ 5 mil, segundo a Polícia Federal. A rota de fuga começa por avião até Quito, no Equador, que não exige visto de entrada. De Quito, os imigrantes seguem pelo Peru, de carro, ônibus ou caminhão, até Assis Brasil.
Os caras
Depois de mais de 20 anos polarizada entre os vermelhos da Frente Popular do Acre e os azuis do Movimento Democrático Acreano a política estadual perdeu a noção do que é esquerda e direita. Desde as eleições de 2018, porém, os candidatos e os eleitores começaram a entender que há uma diferença abismal entre os dois campos através de suas pautas prioritárias em setores como costumes e economia. Os senadores Marcio Bittar e Alan Rick, ambos do União Brasil, seriam os caras da direita no Acre.
As vozes
A voz, porém, tem-se limitado à de Bittar, constantemente a bater no governo Lula, embora não se furte a votar favoravelmente em alguns projetos do presidente. Esta é a impressão que se tem ao comparar o conteúdo das redes sociais dos senadores. Talvez presencialmente o senador Alan Rick esteja fazendo altos discursos sem nunca publicá-los. Se assim for, deve estar criando alguma nova estratégia de persuasão, já que é comunicador de excelência.
Canhoto
Se for confirmada a saída de Alan Rick do União Brasil ele só irá para o Podemos ou para o PL em busca de mais espaço, pois sua pauta de compromissos com o eleitorado também o aproxima da esquerda, como quando defende o programa Mais Médicos com médicos brasileiros formados no exterior e confronta a corporação da medicina nacional.
Raiz
Por sua vez, o senador Marcio Bittar foca o seu mandato em pautas incisivamente direitistas/nacionalistas como a investigação de ONGs que atuam na Amazônia supostamente a serviço de interesses estrangeiros e a defesa da exploração do subsolo das áreas indígenas. Bittar também tem feito grandiosos acenos de saudação e solidariedade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, deixando claras a sua fidelidade e a sua militância pelo movimento bolsonarista. Quando Bolsonaro foi declarado inelegível, o senador publicou mensagem de solidariedade. Nesta segunda-feira postou um card, produzido com esmero, arte final de finíssima qualidade, sobre seu apoio a projeto de lei que anistia Bolsonaro.
Crise
Segundo informações apuradas pelo site Estadão, o senador Alan Rick deverá deixar o União Brasil após suposto atrito com a cúpula nacional do partido, que atualmente é comandada por Luciano Bivar. De acordo com informações levantadas pelo Estadão, ele já teria enviado o comunicado de desfiliação e está negociando uma possível ida para o Podemos ou Partido Liberal (PL). Com a saída de Alan Rick, a presidência do União Brasil no Acre deve ficar com o deputado coronel Ulysses, possível nome da legenda para disputar a prefeitura de Rio Branco em 2024. Mesmo no PL, a ideia é o senador apoiar o aliado com uma candidatura de cunho bolsonarista.
A origem
A repórter Suene Almeida, do ContilNet, tentou contato com o senador Alan Rick, mas não obteve resposta. No entanto, a assessoria do político disse que ele prefere não se posicionar sobre o assunto, que “houve uma situação interna no partido” e que Alan recebeu convites para ingressar em outra sigla. O senador é o atual presidente do União Brasil no Acre. Em junho deste ano, ele decidiu pela dissolução dos diretórios do partido em 20 dos 22 municípios acreanos, mas Luciano Bivar revogou a decisão o que provavelmente deve ter sido a origem da crise.
Relator
Ao enfatizar seu apoio ao ex-presidente Bolsonaro, o senador Marcio Bittar também deixa clara a sua gratidão pelo apoio que recebeu ao ser nomeado relator-geral do Orçamento da União em 2020. Na ocasião, Bittar destinou mais de R$ 270 milhões de emendas de relator para o Acre usar em 2021. Ao todo, Bittar indicou na época R$ 468 milhões em emendas de relator, sendo que R$ 295 milhões (63%) foram indicados ao Acre via pasta do Ministério de Desenvolvimento Regional.
Status
Se apoiar causas indígenas for uma tendência de esquerda, o governo do Acre também está inclinado para esta direção ao elevar para o status de Secretaria de Estado a Assessoria Especial de Povos Indígenas, da agora secretária Francisca Arara. A mudança foi anunciada pelo governador Gladson Cameli durante discurso no 1º Fórum Indígena de Mudanças Climáticas, que aconteceu nesta terça-feira (4).
Pioneiros
Nem em 20 anos de poder a esquerda acreana concedeu tal benefício à comunidade. No máximo foi-lhe concedida a honraria de ter um assessor especial. Mas, apesar da boa vontade do governador, os militantes da causa mais radicais ainda vão criticar a terminologia utilizada, pois eles buscam erradicar do vocabulário nacional a palavra indígena, que deverá ser substituída por povos originários, os primeiros a habitarem estas terras.
Emprego
A Câmara de Vereadores de Rio Branco está de volta às articulações para ampliar o número de cadeiras de 17 para 21 ou 23 através de projeto de lei que altera a Lei Orgânica do Município. Segundo informações obtidas pelo ContilNet, até o mês de outubro os vereadores deverão se reunir para decidir sobre o aumento do número de parlamentares para a próxima legislatura. O prazo se dá em razão da legislação eleitoral que permite alterações apenas um ano antes das eleições. E da aflição de alguns vereadores que temem ficar desempregados após as eleições de 2024.
A caneta
Todo mundo conhecia o fim da história das exonerações assinadas pela vice-prefeita Marfisa Galvão quando exercia a titularidade do cargo durante ausência do prefeito Tião Bocalom. O titular até deixou que os editais fossem publicados, um direito da vice, que assim assinou a demissão do secretário municipal da Casa Civil, Valtim José, e o diretor-presidente da Fundação de Cultura, Esporte e Lazer Garibaldi Brasil (FGB), Andeson Gomes.
A borracha
No mesmo caderno, porém, o prefeito Tião Bocalom tornou sem efeito os decretos que exoneravam os dois nomes de sua gestão. Além disso, o prefeito também tornou sem efeito o decreto que nomeava Thales Augusto Moreno de Farias para ocupar o cargo de diretor-presidente da FGB, também nomeado nesta terça-feira (4) no mesmo caderno do DOE.