Laboratório
A rebelião no presídio Amaro Alves, em Rio Branco, em que pese o tamanho da tragédia, está dando uma providencial ajuda ao ministro da Justiça, Flavio Dino, o pop star do Governo Lula 3. A partir daqui ele terá uma visão de como usará a força do Estado contra futuras rebeliões nos demais presídios dominados por facções criminosas, pois é mais do que sabido que não foram as prisões acreanas que pariram o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), nascidos em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente.
Pedrinhas
Flávio Dino, aliás, é habilidoso apaziguador de guerras entre facções criminosas e teve uma providencial ajuda de uma crise na segurança pública do Maranhão para ser eleito governador do Estado, pela primeira vez em 2014, pelo PC do B. Durante os dois últimos anos de mandato da governadora Roseana Sarney, as facções criminosas tomaram conta dos presídios e das ruas do Maranhão. Uma rebelião no presídio de Pedrinhas resultou em três presos decapitados numa cena que chocou o mundo no final de 2013. Em janeiro de 2014 uma delegacia foi invadida e um ônibus incendiado. Uma menina de 6 anos morreu queimada.
A origem de tudo
Esta é a primeira grave crise de segurança enfrentada pela gestão Gladson Cameli. É seguro dizer, porém, que o ex-governador Tião Viana passou seus dois mandatos administrando crises de segurança pública motivadas pelas facções. E foi durante o seu governo que as facções começaram a entrar nos presídios do Acre.
Estatutos
Um ex-faccionado, hoje em liberdade, revela que a chegada das facções ao Estado começou em 2013 com a transferência de presos do Acre para unidades federais de Campo Grande (MS) e Mossoró (RN). Os presos voltavam já com os estatutos do PCC e do CV. A história está no livro “Nós das Margens”, de autoria do policial penal Janes Peteca.
Rojões
Acreanos de pés-rachado decidiram fundar a facção Bonde dos 13, não em homenagem ao PT, mas porque a certidão de nascimento é de 2013. Porém, muito pobres, sem homens e nem armamentos suficientes, tiveram que se aliar ao PCC e passaram a dominar regiões do Segundo Distrito. A comemoração com rojões na última quarta-feira (26), teria sido motivada pela morte das lideranças da facção acreana.
Memória
Os conflitos de outubro 2016 em Rio Branco seguiram o efeito dominó de uma violenta guerra entre o PCC e o CV que teve início com motins em Rondônia e Roraima resultando em 18 mortes. Na noite do dia 20 de outubro chegou ao Acre. Quatro presos foram mortos durante rebelião no presídio Francisco d’Oliveira Conde e outros 19 ficaram feridos. Detentos de três pavilhões da unidade, que é a maior do Estado, iniciaram um motim e chegaram a fazer dois agentes penitenciários como reféns.
Cabeças
Duas pistolas e uma escopeta calibre 12 foram encontradas em poder dos detentos. Além da violência dentro do sistema prisional, outras 9 mortes foram confirmadas em diversos bairros da capital – inclusive um adolescente de 14 anos – e duas cabeças foram encontradas dentro de sacolas pela Polícia Militar. “É uma guerra interna entre eles, mas que infelizmente afeta a população também”, informou o então subcomandante da Polícia Militar, e hoje deputado federal, coronel Ulysses Araújo, em reportagem ao jornal espanhol El País.
Assaltantes
Na ocasião, 29 pessoas já foram presas e o governador Tião Viana informou que toda a violência foi motivada pela morte de dois assaltantes em confronto com a polícia em uma clínica da capital. Ele informou que as facções criminosas eram monitoradas pela inteligência da polícia há mais de oito meses e várias situações de periculosidade foram evitadas.
Só bandido
Passado o pior, o governador Tião Viana deu entrevista com declarações bombásticas. Ele anunciou a prisão de dois agentes penitenciários, hoje policiais penais, que teriam facilitado a entrada de armas e disse que os mortos nas ruas eram todos bandidos. “Não tivemos nenhum cidadão de bem afetado. Nenhuma pessoa que não tem ligação com o crime morreu”, disse ele.
Drogas
“A polícia que mais prende no Brasil é a do Acre. Os presídios estão lotados. Mas há um inimigo no meio maior chamado droga. Não adianta a polícia prender, porque a droga está fabricando outros bandidos. Então temos que nos perguntar, os pais devem se perguntar, se estamos fazendo o certo para nossos filhos não serem dominados pela droga”, disse o governador, ao criticar também o sistema penal brasileiro, que, segundo ele, gera um clima de impunidade.
Política
A guerra de facções em 2016 chegou a ser atribuída a adversários do PT porque naquele ano o prefeito Marcus Alexandre seria candidato a reeleição. Já naquela época havia rumores de que alguns políticos com influência dentro dos presídios estariam insuflando os bandidos para tumultuar o estado, mas Marcus acabaria sendo o único petista eleito em uma capital brasileira naquele pleito.
Acordo com o crime
Uma crise na segurança pública contribuiu para a derrota do atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, nas eleições de 2006, quando Lula foi reeleito em segundo turno para seu segundo mandato. Naquele ano, depois de uma onda de ataques contra instalações da Polícia Militar em diversos municípios paulistas, Alckmin enviou uma delegação para negociar uma trégua com o chefão do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que estava no presídio de segurança máxima Presidente Bernardes.
Parça
Ninguém sabe o que o então governador Geraldo Alckmin prometeu a Marcola, mas pegou muito mal. Os confrontos acabaram, mas deram trela para o PT deitar em rolar na campanha pela televisão destacando a imagem de Alckmin como um parceiro dos bandidos.
111
O massacre no Carandiru, em 1992, com 111 mortos teria condenado ao ostracismo político o ex-governador Luís Antônio Fleury Filho (PMDB). Ex-promotor de Justiça, deputado federal por dois mandatos e secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fleury recebeu as bênçãos de Orestes Quércia e virou governador do Estado. Mas, depois da rebelião, nunca mais disputou uma eleição e morreu no ano passado com 73 anos.
História
O primeiro grande motim em prisões brasileiras foi registrado em 20 de junho de 1952 no Instituto Correcional da Ilha Anchieta, localizado na cidade de Ubatuba, em São Paulo. Ninguém conseguiu impedir a fuga de 453 detentos que saquearam cofres, destruíram edificações, queimaram prontuários e fugiram em canoas até as praias da cidade. Destes 108 seriam recapturados, quinze morreriam e seis desapareceram. Nove guardas foram executados e a história virou um filme que chegou ser exibido no Festival de Veneza.