Angelina pode se considerar uma predestinada. A convocação da meio-campista de 23 anos para a Copa do Mundo era dúvida até o fim. O motivo era simples: a jogadora do OL Reign (EUA) sofreu ruptura do ligamento cruzado anterior e menisco lateral do joelho direito em julho do ano passado, na final da Copa América, vencida pelo Brasil diante da Colômbia.
Ali, Angelina deixou o campo com sentimentos conflitantes. A felicidade pelo título que garantiu o Brasil na Copa do Mundo da Austrália e da Nova Zelândia e a angústia de não saber se faria parte do grupo no ano seguinte. Foram quase 11 meses de recuperação até voltar aos treinamentos no clube americano, sem a certeza de que daria tempo.
Mas a técnica Pia Sundhage resolveu esperar até o último minuto. A surpresa veio quando a sueca chamou a jogadora para participar dos treinamentos na Granja Comary duas semanas antes da convocação, em junho. O objetivo ali era nivelar a preparação física das atletas que atuam na Europa e estavam de férias. Pia, no entanto, também precisava ver o condicionamento de Angelina. Gostou do que viu, mas a convocou como suplente. O plano era fazer toda a aclimatação com a seleção até a estreia do Mundial e depois retornar para casa junto com Tainara e Aline, as outras suplentes.
Mas caso alguém fosse cortada até a véspera da estreia da seleção na Copa, Pia poderia substituir a jogadora em questão. Foi o que aconteceu nesta terça-feira, quando a comissão decidiu pelo corte da atacante Nycole, que sofreu lesão durante jogo treino. Apesar de jogar no meio-campo, Angelina foi a escolhida.
Não dá para dizer que foi surpresa mesmo que entre as suplentes houvesse uma jogadora da posição de Nycole. No caso, Aline Gomes, de apenas 17 anos. Tainara é zagueira. A escolha por Angelina chega a ser óbvia pelo estilo de jogo e a confiança que Pia já demonstrou na atleta que vem das divisões de base da seleção.
Considerada herdeira da camisa 8 de Formiga — na numeração da Copa, a 8 ficará com a jovem Ana Vitória —, Angelina tem a versatilidade e performance física que Pia tanto busca nas jogadoras. Convocada para a seleção principal desde 2021, ela já mostrou que pode jogar em várias posições do campo.
Mesmo tendo dupla cidadania, a filha de brasileiros nascida nos Estados Unidos escolheu defender a seleção brasileira.
—Minha maior conquista profissional foi ter chegado à seleção brasileira, na base, e na principal — disse Angelina, em entrevista à CBF antes de ser confirmada como substituta.
De volta ao Brasil aos quatro anos, Angelina foi criada em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, onde começou no futebol numa escolinha junto com os meninos. Só aos 12 anos, ela fez teste na base do Vasco e lá ficou por quatro anos. Entre 2017 e 2019, jogou pelo Santos e chegou ao time profissional. Em 2020, defendeu o Palmeiras antes de ir para o OL Reign, onde joga desde 2021.