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Análise | Com Madden 24, EA volta às origens e lança o melhor Madden em 10 anos

Por ESPN

Para quem gosta de videogame, o sentimento que melhor define a maneira como um jogo entrou em nosso coração vem nas manhãs. Quando você acorda e sente vontade de jogar determinado game, é sinal que você foi conquistado. Às vezes o sentimento passa com o tempo, como tantas paixões de nossa vida. Para mim, aconteceu com Red Dead Redemption II, os remakes de Resident Evil, Last Of Us e, Madden 24.

Não que Madden 24 esteja na mesma prateleira dos outros jogos citados acima. Não está, porque ainda tem seus problemas. Mas para alguém que ama futebol americano e faz disso sua profissão de fé, a lacuna de um bom jogo no mercado era algo que machucava. Madden 24 não é ótimo, é bom. Isso basta? Não, mas finalmente podemos falar que é bom — e isso depois de anos a fio.

O problema não sou eu é você mesmo

É curioso notar que Madden 24 foi lançado 20 anos após uma dos capítulos mais icônicos da franquia, aquele com Michael Vick na capa: Madden 2004. Cá entre nós, é um jogo que não figura no Top 3 da história de Madden, que começou lá no Apple II. Só que Madden 2004 tinha algo a mais: correr com a bola, seja com o Quarterback ou o Running back, era profundamente divertido.

Nos saltos de geração dos videogames (da sexta para a sétima e, ainda mais, da sétima para a oitava), Madden deixou de ser fluido na medida inversamente proporcional que o futebol americano se virou para o jogo aéreo. Seja recebendo passes ou correndo com a bola, o jogo era travado. Não, não me entenda mal: não estou falando de problemas técnicos, como lag. Estou falando de animações repetidas à exaustão.

A transição do motor gráfico, da Ignite para Frostbite, foi um dos mais gigantescos tiros no pé que a EA já deu na última década. Quando você usa um motor de Battlefield em jogos de esporte, o resultado não poderia ser muito bom. De Madden 18 para cá, foi um festival de animações repetidas que cansavam seus olhos depois de algumas semanas jogando.

É por isso que digo com todas as letras: nos últimos seis anos, escrever esta análise foi um fardo. Era triste, algo como se forçar a conversar com um “ex” que você não tinha mais nada a ver. Por algum tempo, cheguei a me perguntar: me tornei um adulto chato que não gosta mais de videogames da mesma forma que gostava antes? O problema sou eu?

Não, até porque me divertia da mesma forma com os jogos antigos da série e, disparadamente, mais com MLB The Show do que com Madden. O problema era a EA.

O que melhorou em Madden 24?

Todo ano a mesma coisa. Jogo para fazer o review e, como sou completamente maluco por esse esporte, me empolgo um pouco. Até a artificialidade da física do game ficar batida aos meus olhos e largar Madden em função de alguma outra coisa. Raramente jogava mais do que uma semana — se muito.

A última vez que realmente joguei Madden, do lançamento até meu aniversário em outubro, foi com Madden 16. Por isso, tomei um cuidado para não me empolgar: para fazer esse review da melhor forma possível, e com a responsabilidade que ele pede, acabei por jogar mais Madden 24 do que qualquer outra edição antes de escrever o texto que agora você lê.

Meu veredito, como sempre, você confere no final. Antes disso, deixe-me dizer: fique otimista. Pela primeira vez em quase uma década, fique otimista.

Madden é ótimo, mas está muito bom. No ano passado, literalmente o primeiro passo na direção certa foi dado com a terceira versão da Frostbite, agora um motor mais adaptado aos jogos de esporte. Esse trabalho foi amplificado para compor a terra arrasada que ficara nos saltos de geração anterior: bloqueios.

Sei que eles passam abaixo do radar quando estamos assistindo a uma partida da NFL, mas os bloqueios são a coluna vertebral e essência verdadeira do futebol americano. Até Madden 23, era uma confusão. Em jogadas para fora da linha, os jogadores simplesmente ficavam perdidos sem engajar em bloqueio nenhum. Screen, Toss, Outside Zone, era tudo quebrado.

Para completar, outro elemento importante do futebol americano, os tackles, repetiam as mesmas animações até cansar os olhos. Resumindo: jogar Madden depois de um tempo era como assistir a um filme ruim da Sessão da Tarde.

Graças aos deuses do futebol americano, isso tudo mudou. E independente de qualquer outra coisa que ainda precisa ser feita — e são muitas — a jogabilidade teve uma melhora gigantesca. Ainda é um aluno tirando 7,5 depois de muitos anos tirando 2,0 na prova de física? Sim, mas é uma melhora.

Com a mais nova versão e a tecnologia FieldSENSE, temos três melhorias essenciais:

• 1.700 novas animações foram incluídas no jogo, o que faz com que os tackles sejam diferentes e mais realistas;
• O recebedor agora não perde momento enquanto faz a recepção (o “lag” da animação de corrida ser interrompida e virar animação de recepção, ao contrário do que as leis da física pregam, deixou de acontecer;
• Bloqueios existem no jogo terrestre. Ainda não são perfeitos e, uma vez ou outra, o bloqueador fica meio perdido correndo de lado, mas está consideravelmente melhor e mais de acordo com a realidade.

Essas três mudanças fazem com que você não canse tão rápido de jogar, seja novamente divertido correr com a bola e passar em profundidade seja uma opção viável. Os gráficos nunca ficaram devendo no Madden, mas a estrutura óssea dos jogadores era, digamos, estranha. A tecnologia SAPIEN, que mapeia o esqueleto e faz com que os atletas se movimentem no game de maneira mais fluida e tenham corpo mais parecido com, bem, o de um ser humano, são mudanças necessárias.

Não existe só Ultimate Team, quem diria

A ganância sem freio com a máquina de fazer dinheiro chamada Ultimate Team fez com que o Franchise Mode (Modo Carreira com um time) e o Superstar Mode (Modo Carreira com um jogador) ficassem totalmente largados nos últimos anos. É bem verdade que, no primeiro caso, deu uma leve melhorada na última edição, mas ainda faltavam coisas.

Neste ano, o frescor da nostalgia bateu forte com a volta dos minigames para melhorar os atributos de seus atletas. É algo já presente no Fifa há anos e anos e que em Madden estava desaparecido desde, acredite, as edições da década de 2000 no PlayStation 2, Xbox e GameCube. Ouvir a comunidade em relação a isso foi sublime.

O Franchise ainda carece de alguns aspectos técnicos. É possível reestruturar o contrato de um jogador, mas não da maneira que as equipes fazem na NFL. Free Agents assinam por um valor pré-determinado durante a temporada e você não pode fazer uma estrutura de contrato de acordo com a vida real: contrato com mais dinheiro no início, mais dinheiro no fim ou equilibrado (coisa que NBA 2K e MLB The Show já tem). Nem de perto existem times históricos como no 2K e, tampouco, um editor de estádio como no The Show. O Franchise de Madden ainda fica atrasado e atrás da concorrência, mas está consideravelmente mais próximo do que estava há três anos e, bem, minimamente divertido e engaja-te muito mais do que antes.

Está perfeito, então? Não. Como você viu acima, ainda há bastante coisa a ser feita pela EA para que Madden esteja mais de acordo com seus pares dos esportes americanos. A profundidade que existe no The Show e no 2K ainda não estão presentes em Madden. Mas a jogabilidade? Bom, finalmente está digna. No final das contas, isso é o que mais importa.

Em toda a história do videogame, a jogabilidade e o design são o que mais importam. Claro que ter uma história absurda como Red Dead Redemption ou Last Of Us ajudam (e muito). Mas se a jogabilidade não for boa, nada importa. Em Madden 24, sim, a jogabilidade é bom. Para você ter ideia, tenho mais horas desse jogo do que tive com as duas edições anteriores (23 e 22) combinadas.

Josh Allen, capa de Madden 24 Divulgação/EA Sports

Veredito: Comprar o quanto antes se você ama a NFL

… Ou esperar a primeira promoção caso não esteja cabendo no bolso e/ou você não seja um fã tão fervoroso. Eu realmente nunca esperei que fosse dar esse veredito a um Madden de novo. Realmente tratava os lançamentos como natimorto, uma enorme obrigação de tentar de alguma forma escrever a mesma coisa com outras palavras, da mesma forma que eles lançavam o mesmo jogo com outros pixels.

Sinto finalmente que estou jogando um game de futebol americano, não uma realidade paralela de outro esporte que não parecia muito refletir a NFL. Correr com a bola existe, bloqueios, a Inteligência Artificial dos Quarterbacks reflete a realidade (Josh Allen é ousado, Kirk Cousins, não) e passar a bola em profundidade voltou a ser divertido.

Madden 24 é, sem sombra de dúvidas, a melhor edição do game em 10 anos. Ainda não bate a jogabilidade e profundidade de suas versões dos anos 2000, mas ao comparar com o passado, ficou mais próximo.

Madden 24 tem versões para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC. As melhorias físicas e SAPIEN estão apenas presentes no PlayStation 5, Xbox Series S/X e PC.

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