Há cerca de 11 anos um casal de cuiabanos descobriu o mundo do tantrismo, e em poucos meses decidiu curar suas feridas emocionais e corporais em cima dos ensinamentos desta filosofia indiana, que tem como principal objetivo o “estar e sentir”.
Eu achei muito interessante porque ele falou que ajudava mulheres que tinham dificuldades sexuais, que passaram por abusos
Paula Emanuela, de 38 anos, era profissional esteticista e tinha um salão de beleza. Já seu marido Alex de Oliveira, de 47 anos, atuava como advogado. E hoje ambos são psicoterapeutas tântricos e proprietários de uma clínica no Bairro Coophema.
“Em 2012 chegou uma pessoa no meu salão falando da massagem [tântrica], e eu achei muito interessante porque ele falou que ajudava mulheres que tinham dificuldades sexuais, que passaram por abusos”, conta Paula.
“E eu achei aquilo o máximo porque eu passei por essa situação. Eu venho de traumas sexuais, de abusos na infância. Quando amor [Alex] chegou, a gente foi pesquisar sobre o assunto e achamos muito interessante”.
Assim, no mesmo ano, eles decidiram viajar para São Paulo e fazer o curso de massagem tântrica. Ao mesmo tempo, Paula recebia a terapia, e todo o processo trouxe uma sensação de pertencimento à filosofia.
Segundo ela, à medida que ia se aprofundando nos estudos e na prática do tantrismo, as várias feridas emocionais e espirituais foram cicatrizando com o “despertar” que o conhecimento da ideologia traz ao corpo.
“Meu corpo estava extremamente traumatizado. Então ao receber carinho, afeto, aos poucos eu fui tirando todos os tabus que colocaram em mim, todas as dores que foram colocadas através de abusos. E eu fui conhecendo o meu corpo”.
“Até hoje eu estou nesse processo, porque esse processo nunca acaba. Meu último lugar orgástico, que eu tive sensação de prazer, foi o nariz. O corpo vai acordando e despertando conforme ele vai acessando essa fonte”.
Já do ponto de vista masculino, Alex explica que um dos pontos mais importantes é sobre a ereção e a sensação de que a penetração é obrigatória para atingir os orgasmos.
“Eu tive a experiência de tirar o peso da ereção o tempo inteiro. Porque o tantra prevê um orgasmo energético, que não depende necessariamente do ato de penetração, e com isso você desliga do corporal”, explica.
“Então você tira aquele mito do homem alfa, da pornografia, que hoje é praticamente a escola para todos os homens de como se faz sexo. O tantra, inicialmente, é o estado de presença, é você sentir cada segundo da sua vida”.
“Como a Paula falou, ela consegue sentir o orgasmo até mesmo tocando a região do nariz. Ou seja, o corpo inteiro passa a ser uma fonte de prazer e de orgasmos. E para o homem isso é muito importante, porque tira a ideia de que precisa estar com seu amigão ali o tempo inteiro disponível em 100%”.
“Você passa a entender que com toques, respirações, posições, comportamentos, você leva o prazer a um nível muito maior do que o sexual. E com isso você consegue fazer maratonas de prazer. Literalmente com orgasmos cada vez mais intensos, diferentes e cada vez mais nutritivos”.
A massagem
O casal explicou que apesar de ser uma das práticas mais conhecidas do Tantra, a massagem não é a única técnica utilizada para acessar e despertar o corpo. Os praticantes, que devem ser maiores de 18 anos, também trabalham a filosofia por meio de leituras, meditações e sessões com os terapeutas.
“A massagem tântrica, o sexo tântrico aqui no Ocidente é muito famoso, mas é só uma página do livro do Tantra. Para a pessoa chegar nesse ápice tem que conhecer as manobras tântricas”, diz Paula.
“E aí é exatamente onde nós entramos como profissionais. Nós ensinamos as manobras nos cursos, ou a pessoa pode receber a massagem e aprender a ter consciência corporal, conhecer zonas erógenas que já existem, mas não são acessadas”.
“Há uma cultura de quando ele fala em massagem tântrica ou de sexo tântrico, imagina que na massagem fica o tempo inteiro com situações pornográficas de excitação e provocando ali a genital, mas não é”.
Tabu
O casal explica que o preconceito acerca da filosofia do Tantra advém principalmente da cultura extremamente sexualizada e machista dos países ocidentais. Afeta também o fato do homem se sentir obrigado a manter uma ereção durante a relação, assim como a objetificação da mulher e a cultura da pornografia.
“A gente estar consciente, por exemplo, essa nossa conversa, você prestando atenção, eu falando, isso é Tantra, é estar presente. Estar presente através de meditações, de conexões, leituras, de conhecimento e trazer para a sua prática”, diz Paula.
“Por isso que é uma filosofia gigantesca. O corpo é o divino, e o que traz o Tantra tão forte e tão maravilhoso é que ele não exclui a sexualidade, que é a cereja do bolo. O presente que o criador nos deu é exatamente o orgasmo, a sensação orgástica, o prazer em si”.
“O orgasmo, a ejaculação, é como se fosse um efeito colateral positivo, mas o foco é que a pessoa sinta de verdade. Não é um sentir pornográfico, para agradar”.
“Então é muito comum a gente receber a massagem e levar essa energia conosco. Sempre digo que se essa energia é tão poderosa a ponto de gerar uma vida, imagina o que pode fazer com seus planos, com seus projetos”.