O ex-senador e ex-governador Jorge Viana (PT) do Acre sucedeu, na presidência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) ninguém menos que o general Mauro esar de Lorena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, de 2019 a 2023. De junho de 2019 a janeiro de 2023, o general Lorena Cid chefiou o escritório da Apex a partir de Miami, nos Estados Unidos, onde vivia.
A diferença de um e outro dirigente do órgão não se restringe apenas à moradia do encarregado de promoção de produtos brasileiros no exterior. Enquanto Lorena Cid vivia nos Estados Unidos, Jorge Viana não abre mão de morar no Brasil, com endereços em Brasilia (DF) e em Rio Branco (AC).
Outra diferença é que o velho general é pro-eficiente na língua inglesa e ocupou inclusive cargos chaves nos serviço de Educação do Exército, enquanto o ex-senador e ex-governador continua monoglota e chegou a ser afastado do cargo por decisão judicial por não dominar o inglês, razão pela qual teria mandado alterar o estatuto da Apex tirando a língua inglesa como exigência fundamental para o exercício da presidência do cargo.
O salário, no entanto, continua o mesmo. O general Lorena Cid recebia a média mensal de cerca US$ 15 mil – o equivalente a R$ 65 mil, o salário atualmente recebido por Jorge Viana.
Informações da Apex dão conta de que o general Mauro Cesar de Lourena Cid teve, ao menos, quatro reuniões com executivos do Banco do Brasil, onde o militar tem uma conta investigada pela Polícia Federal (PF) por lavagem de dinheiro – e por onde há rastros dos recursos envolvidos na negociação ilegal de presentes recebidos de governos estrangeiros pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e sua equipe.
O general da reserva foi alvo de um mandado de busca e apreensão na sexta-feira passada, dia 11. Ele é apontado como negociador e articulador da comercialização de joias e esculturas recebidas de outros países durante o governo passado, para lucro do próprio grupo.
A mesma conta do general no BB é alvo de apuração por outras remessas feitas pela família Cid aos EUA, por estar supostamente ligada a negócios imobiliários no exterior. Levantamento do site Metrópoles, do Distrito Federal, revelou em maio deste ano, outro filho de Mauro Lourena Cid, Daniel Cid, é dono de vários imóveis em território americano, incluindo uma mansão na Califórnia, avaliada em U*S$ 8 milhões.
Documentos mostram que, da agenda oficial de Lorena Cid no escritório da Apex em Miami, constam quatro encontros com altos executivos do BB nos EUA. Alguns, inclusive, ocorreram em períodos próximos às datas das supostas negociações dos presentes.
João Fruet, então CEO do BB Americas, visitou o general Lourena Cid em dezembro de 2022. Carlos Omine, antecessor de Fruet no cargo, aparece na lista ao lado da referência “2020-2022”, dando a entender que houve encontros ao longo do período. Antonio Cassio Segura, que também já foi CEO do BB Americas, consta na agenda do general ao lado do registro “2019-2022”. Aroldo Medeiros, então diretor-presidente do Banco do Brasil DTVM, se encontrou com o militar em 2022.
A Apex, já sob gestão do atual governo, sob a administração de Jorge Viana, informou que “não há registro do resultado das conversas do general com o BB Américas”. Disse ainda que “não há sequer o tema da pauta dos encontros”.
A Apex afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que Lourena Cid apresentou “satisfatoriamente as competências previstas para o cargo, o que ficou evidenciado por meio de ciclos avaliativos que participou”.
Por fim, a nota diz que, “nos EUA, o conglomerado BB também mantém relacionamento negocial com a Apex Brasil, tanto em negócios como em processamento de folha de pagamento de funcionários daquela instituição”.
A agenda de Mauro Lourena Cid registra também a visita de um corretor de imóveis, Miguel Kaled Junior, que entrou no escritório da Apex por quatro anos, de 2019 a 2022.