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Estresse térmico ameaça a saúde de um bilhão de vacas em todo o mundo; veja consequências

Por O Globo

Estresse térmico ameaça a saúde de um bilhão de vacas em todo o mundo — Foto: Patricia de Melo Moreira / AFP

Até ao final do século, mais de um bilhão de vacas em todo o mundo podem sofrer de estresse térmico caso o aquecimento global continuar “inabalável”, ameaçando a sua fertilidade, produção de leite e vidas, de acordo com uma investigação publicada esta quinta-feira. Quase oito em cada dez vacas em todo o planeta já apresentam temperaturas corporais excessivamente altas, taxas de respiração aceleradas, cabeças baixas e respiração ofegante – todos sintomas associados ao estresse térmico severo, disse o estudo.

Em climas tropicais, 20% dos bovinos apresentam esses sintomas durante todo o ano. Prevê-se que estes números aumentem se a pecuária continuar a expandir-se nas bacias da Amazónia e do Congo, onde as temperaturas estão em vias de subir mais rapidamente do que a média global.

Se as emissões de gases com efeito de estufa que provocam o aquecimento climático continuarem a aumentar, o estudo prevê que o stress térmico se tornará um problema durante todo o ano no Brasil, no sul de África, no norte da Índia, no norte da Austrália e na América Central até 2100.

“Um determinante muito importante de quantas vacas estão expostas a este calor são as decisões sobre a mudança no uso da terra”, disse à AFP a principal autora do estudo, Michelle North, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul. “A desflorestação das florestas tropicais para a expansão da pecuária não é um futuro de desenvolvimento viável, porque agrava as alterações climáticas e irá expor mais centenas de milhões de cabeças de gado a um grave stress térmico”, acrescentou.

O estudo, publicado na Environmental Research Letters, concluiu que, no pior cenário, a criação de gado quase duplicará na Ásia e na América Latina e aumentará mais de quatro vezes em África.

Perdendo meios de subsistência

Se os gases com efeito de estufa forem suficientemente controlados – nomeadamente através da redução da utilização de combustíveis fósseis e da limitação da expansão da pecuária – o número de vacas que sofrem poderá ser reduzido para metade na Ásia e em quatro quintos em África. Os pecuaristas comerciais podem perder muito dinheiro com o estresse térmico. Já custa até 1,7 mil milhões de dólares anualmente só nos Estados Unidos.

Mas estes agricultores geralmente têm seguros, boas relações com os bancos e a capacidade de recorrer a empréstimos para os ajudar a recuperar de perdas relacionadas com o calor, disse North. No entanto, quando o calor ou outras catástrofes climáticas atingem os pequenos agricultores, “podem fazer com que os agricultores percam literalmente os seus meios de subsistência, mesmo que as perdas líquidas possam parecer ‘insignificantes'”, disse ela.

North e a sua equipa descobriram que a oferta global de leite seria reduzida em 11 milhões de toneladas por ano até 2050, num cenário de elevadas emissões de gases com efeito de estufa. Se as emissões forem reduzidas de forma agressiva, quase metade dessa quantidade ainda seria perdida, principalmente na Ásia e em África, onde a oferta de leite já é baixa.

No curto prazo, as vacas superaquecidas podem ser ajudadas fornecendo-lhes acesso à sombra e ventiladores e alimentando-as no início do dia.

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